Não poderia começar a falar dos 30 anos da conquista da Libertadores de 1981 sem antes mencionar a conquista do Campeonato Brasileiro de 1980, mais especificamente sobre a final contra o Atlético-MG de Reinaldo e Éder. Com a conquista desse título, o Flamengo garantiu o direito de disputar a Libertadores. Antes da final, Zico declarou: “Morro, fico inutilizado, mas só saio daqui campeão. Se esse povo não for campeão, prefiro morrer. Desisto de tudo.” Esse era o espírito! Espírito de campeão!
O zagueiro Rondinelli, o “Deus da Raça”, não jogou a histórica partida no Maracanã, pois no jogo anterior Éder havia fraturado seu maxilar. Mesmo fora de campo, Rondinelli foi crucial. Cláudio Coutinho, então técnico do Flamengo, leu para os jogadores, no vestiário, um bilhete enviado por Rondinelli, que estava hospitalizado: “Companheiros, estou bem, torcendo de fora. Vamos pra cabeça.” Essa mensagem serviu como um estímulo a mais para cada jogador que buscava intensamente o título nacional. Até então, o Flamengo era chamado de “time de Maracanã”, por não ter grandes conquistas nacionais.
O jogo foi épico e contou com todos os ingredientes de uma grande decisão, como se espera quando se trata de Flamengo: raça, entrega e, claro, a Nação Rubro-Negra lotando o Maracanã. Cento e sessenta e seis mil torcedores empurravam o Flamengo contra o Atlético-MG, que, aos 20 minutos do segundo tempo, empatou o jogo em 2 a 2, com gol de Reinaldo. Aos 37 minutos do segundo tempo, Andrade domina a bola e lança Nunes pela esquerda. Nunes recebe, finge que vai cruzar, mas avança até a linha de fundo e se depara com o goleiro João Leite, desesperado. Nunes não perdoa: chuta forte, a bola passa entre João Leite e a trave. Gol do Flamengo! O Maracanã explode em êxtase, transformando-se em um templo rubro-negro com a conquista do primeiro Campeonato Brasileiro da história do clube. Foi suado, sofrido, foi Flamengo, como sempre deve ser! Naquele mesmo ano, o Flamengo já havia conquistado dois torneios internacionais: o Ramón de Carranza e o Ciudad de Santander, ambos na Espanha.
Dados do Jogo:
01/06/1980 – Maracanã – Rio de Janeiro
Flamengo 3×2 Atlético-MG
Árbitro: José de Assis Aragão (SP)
Gols: Nunes (7’), Reinaldo (8’) e Zico (44’) no primeiro tempo; Reinaldo (21’) e Nunes (37’) no segundo tempo
Expulsos: Reinaldo, Chicão e Palhinha
Flamengo: Raul, Toninho, Manguito, Marinho e Júnior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César. Técnico: Cláudio Coutinho.
Atlético-MG: João Leite, Orlando (Silvestre), Osmar, Luisinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho, Reinaldo e Éder. Técnico: Procópio Cardoso.
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O ano de 1981 é, sem dúvida, o melhor da história do Flamengo e de todo rubro-negro, até mesmo para quem não era nascido naquela época, como eu. É definitivamente o melhor ano das nossas vidas! Mesmo tendo nascido três anos depois, sinto como se tivesse vivido a emoção daquela conquista, sofrido com os jogadores a cada jogo, a cada pancada recebida dos chilenos do Cobreloa na final. É tudo muito vivo em nossas memórias!
Na Libertadores, o Flamengo não teve vida fácil, como já era esperado. A competição sempre foi marcada por violência, lances desleais e, por vezes, a passividade dos árbitros. O Flamengo estava preparado para enfrentar isso. Até chegar à final contra o Cobreloa, o Flamengo fez 11 jogos, incluindo o polêmico jogo extra contra o Atlético-MG, no Serra Dourada.
O primeiro jogo da final foi no Maracanã, e o Flamengo venceu por 2 a 1. O segundo jogo, três dias depois, foi em Santiago, e o Flamengo jogava pelo empate. A torcida Raça Rubro-Negra lotou 42 ônibus e invadiu a capital chilena. O Cobreloa não queria jogar bola: Zico foi constantemente caçado em campo; Adílio teve o supercílio rompido por um soco; Júnior, após um choque, foi pisado pelos adversários; Lico perdeu dois dentes e quase perdeu um olho. Tudo fruto da brutalidade, principalmente do zagueiro Mario Soto. O Cobreloa venceu por 1 a 0, obrigando a realização de um terceiro jogo, em campo neutro.
A Batalha de Montevidéu:
No dia 23 de novembro de 1981, o Flamengo entrou em campo no estádio Centenário, em Montevidéu, com seus jogadores carregando a bandeira uruguaia. Foi uma resposta à violência sofrida em Santiago. O Flamengo deu uma verdadeira aula de futebol e, aos 17 minutos do primeiro tempo, Zico recebeu um passe de Andrade e, de virada, marcou o primeiro gol. O jogo foi totalmente dominado pelo Flamengo. Aos 21 minutos do segundo tempo, o time teve uma falta na entrada da área. Quem cobrou? Zico, claro! O Galinho bateu com perfeição, e a bola foi no ângulo esquerdo do goleiro chileno, que não teve reação. A partir daí, foi só administrar o resultado. O Flamengo era campeão da Libertadores! O legítimo dono do continente!
A Vingança:
Faltando poucos minutos para o fim da partida, Carpegiani colocou Anselmo em campo, que acertou um soco em Mario Soto, a mando do técnico. Era a vingança por toda a violência sofrida em Santiago. O Flamengo se tornou o primeiro time brasileiro a conquistar a Libertadores após o Santos de Pelé, em 1963.
Obrigado aos guerreiros rubro-negros pela raça, dedicação e amor à camisa rubro-negra, a mais importante do mundo!
Time Base:
RAUL, LEANDRO, MARINHO, MOZER E JUNIOR; ANDRADE, ADÍLIO E ZICO; TITA, NUNES E LICO.
Técnico: PAULO CÉSAR CARPEGGIANI
Participantes da Campanha:
CANTARELLI, NEI DIAS, FIGUEIREDO, PEU, CHIQUINHO, ANSELMO E BARONINHO.
Campanha:
– Atlético-MG (2×2, 2×2 e 0x0)
– Cerro Porteño (5×2 e 4×2)
– Olimpia (1×1 e 0x0)
– Deportivo Cali (1×0 e 3×0)
– Jorge Wilstermann (2×1 e 4×1)
– Cobreloa (2×1, 0x1 e 2×0)
Ainda em 1981, o Flamengo foi campeão carioca sobre o Vasco, devolveu a histórica goleada de 6 a 0 sofrida contra o Botafogo em 1972, e, no dia 13 de dezembro, foi campeão mundial sobre o Liverpool, vencendo por 3 a 0 no Japão.
Em 1981, o Flamengo entrou para a história!
SRN!
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Tulio Rodrigues
Fontes:
– “O Vermelho e o Negro“, de Ruy Castro
– “Nação Rubro-Negra“, de Edilberto Coutinho
Site Consultado:
– Flapédia (Site Oficial do Flamengo)
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