A História do Clube de Regatas do Flamengo – Gênese no Remo

Tulio Rodrigues

O Início (1895 a 1902)

O Flamengo já nasceu com garra e espírito vencedor. A ideia de criar um grupo organizado de remo surgiu em conversas de jovens no Café Lamas, no Largo do Machado. O objetivo era competir com clubes de outros bairros, como o de Botafogo, que já atraía a atenção das moças da época.

Os jovens remadores José Agostinho Pereira da Cunha, Mário Spíndola, Nestor de Barros, Augusto Lopes, José Félix da Cunha Meneses e Felisberto Laport decidiram comprar um barco. O escolhido, embora antigo, era acessível às suas finanças. Eles juntaram o dinheiro, adquiriram o primeiro patrimônio do grupo, nomearam o barco de Pherusa, e realizaram uma reforma completa.

Em 6 de outubro, os jovens, junto com Maurício Rodrigues Pereira e Joaquim Bahia, fizeram o primeiro passeio com o barco. Eles partiram da Ponta do Caju, na praia de Maria Angu (atual Ramos), durante a tarde. Mesmo com o céu ameaçador, Mário Spíndola conduziu o barco rumo à praia do Flamengo. Foi então que o grupo enfrentou seu primeiro grande desafio: um forte vento virou a embarcação, e os náufragos tiveram que se segurar nos destroços da Pherusa.

Joaquim Bahia, excelente nadador, saiu em busca de ajuda nadando até a praia. Logo após, a chuva cessou e outro barco, o Leal, de pescadores da Penha, resgatou os jovens e a Pherusa. A preocupação agora era com Bahia, que após quatro horas chegou à praia, tornando-se o primeiro herói do Flamengo.

A Pherusa foi reformada novamente, mas, antes que pudessem usá-la, o barco foi roubado e nunca mais encontrado. No entanto, o entusiasmo dos jovens em fundar um grupo de regatas permaneceu inabalável. Eles se uniram para comprar outro barco. George Lenzinger, José Agostinho, José Félix e Felisberto Laport conseguiram os recursos para adquirir o Etoile, de Luciano Gray, logo rebatizado de Scyra e registrado na Union de Canotiers.

Na noite de 17 de novembro de 1895, no casarão de Nestor de Barros, na Praia do Flamengo nº 22, onde a Pherusa e depois a Scyra eram guardadas, foi fundado o Grupo de Regatas do Flamengo. Domingos Marques de Azevedo foi eleito presidente, Francisco Lucci Colás, vice-presidente, Nestor de Barros, secretário, e Felisberto Cardoso Laport, tesoureiro.

Entre os sócios-fundadores estavam José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão Coelho de Oliveira, Mário Spíndola, José Maria Leitão da Cunha, Carlos e Eduardo Sardinha, José Félix da Cunha Menezes, Maurício Rodrigues Pereira, George Leuzinger, Augusto Lopes da Silveira e João de Almeida Lustosa. Esses últimos assinaram a ata posteriormente e também receberam o título de sócio-fundadores.

Foi decidido que a data oficial de fundação seria 15 de novembro, coincidindo com o feriado da Proclamação da República, e que as cores oficiais do clube seriam azul e ouro, em listras horizontais.

Primeiras Competições, Vitórias e Mudanças

O início do Flamengo foi marcado pelo espírito nacionalista, que influenciou tanto o nome do clube quanto a escolha dos nomes dos barcos adquiridos ao longo dos anos. Se antes os barcos tinham nomes de origem grega, como Pherusa e Scyra, novos barcos, como Aymoré, Iaci e Irerê, receberam nomes de origem indígena.

A estreia do Flamengo em competições, com a Scyra, foi desastrosa. Inexperientes, os remadores consumiram bacalhau à portuguesa e vinho verde antes da prova, e, durante a competição, a embarcação bateu na baliza de sinalização. A tripulação enjoou e, ao final, foi rebocada pelo barco do Botafogo. Após esse vexame, o Flamengo passou a ser chamado de Clube de Bronze, já que só conseguia chegar em segundo ou terceiro lugar nas competições.

A primeira vitória veio no dia 5 de julho de 1898, na I Regata do Campeonato Náutico do Brasil, com o barco Irerê, uma baleeira de dois remos. Nesse período, o Flamengo já contava com seguidores de todas as classes sociais, de intelectuais a famílias tradicionais e empregados do comércio. A sede do Flamengo, na Praia do Flamengo nº 22, ficou conhecida como a República da Paz e do Amor, onde jovens e moças se reuniam para admirar os remadores.

Uma das mudanças mais significativas na história do Flamengo ocorreu em 23 de novembro de 1896. Devido à dificuldade de encontrar tecidos nas cores azul e ouro, que eram importados da Inglaterra e desbotavam rapidamente, Nestor de Barros sugeriu que as cores fossem alteradas para vermelho e preto. Junto com essa mudança, o clube cresceu e passou de “grupo” a “clube”, nome sugerido pelo poeta e cronista Mário Pederneiras. Assim, o amor rubro-negro pelo Clube de Regatas do Flamengo estava consolidado.

Fonte: Site Oficial do Flamengo

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