Flamengo S.A.?

 O futebol passa cada vez mais por mudanças ano após ano em sua maneira de administrar e negociar jogadores, contratos, direitos de transmissões, patrocínios… Em 1977, Marcio Braga junto com outros grandes notáveis Rubro-Negros ganharam a eleição do Flamengo com um grupo chamado FAF (Frente Ampla pelo Flamengo). Eles trouxeram uma nova maneira de administração que culminou com a época mais vencedora do Clube que começou em 1979 e foi até meados dos anos 80 quando também foi o primeiro a usar um patrocínio na camisa em 1984 com Lubrax. Esse modelo foi copiado por outros clubes brasil a fora. Ele ficou obsoleto a partir dos anos 90.

Com a profissionalização dos grandes clubes europeus e a introdução do marketing nesse aspecto, clubes dos grandes centros como Barcelona, Real Madrid, Milan, Juventus, Manchester, Bayern e outros enriqueceram, trazendo um novo conceito de administração: O Futebol Globalizado. Os clubes brasileiros passavam longe disso. Poucos sabiam explorar seus potenciais de marca, estádio, marketing… A maior arrecadação se deu na venda de seus principais talentos para esses centros. Com a Lei Pelé e a Lei do Passe Livre, isso virou um tormento. Nossos craques foram todos para a Europa.

Outro clube que virou referência foi o São Paulo tricampeão brasileiro de 2006, 2007 e 2008. A partir dali os clubes começaram a dar importância a preparação física e estruturação como um Centro de Treinamento com aparelhos de última geração. Mas não foi o bastante. Os clubes brasileiros afogados em dividas só começaram a ver agora que podem encontrar diversas maneiras de buscar receitas. Tanto que duas fontes de grandes receitas vem caindo em termos de dependência para os clubes: Venda de jogadores e Direitos televisivos. Outras arrecadações como melhores contratos de patrocínios, Sócio Torcedor, produtos licenciados, venda de camisas, arrecadação com estádio (Bilheteria e etc…) vem deixando venda de jogadores e direitos televisivos para trás.

Em 2013, o Flamengo conheceu um novo grupo em sua administração, a Chapa Fla-Campeão do Mundo ou Chapa Azul. Eduardo Bandeira, Wallim Vasconcellos, Luiz Eduardo Baptista e Rodrigo Tostes foram os líderes que implementaram uma simples filosofia: Não gastar mais do que se arrecada! O Flamengo passou a renegociar todas as suas dividas tributarias, trabalhistas e a rever contratos. Hoje o clube é premiado em gestão administrativa e financeira, mas isso ainda não foi o suficiente para o total sucesso no futebol, diferente de muitos clubes europeus que conseguem equilibrar a boa administração com ganhos esportivos e ainda fazer do torcedor um fiel cliente consumidor.

Estamos em 2016, mas os clubes ainda tem medo de discutir o termo “Clube-Empresa”, algo tão comum na Europa e EUA. Os clubes brasileiros em sua maioria são associações sem fins lucrativos, geridos de forma amadora e com quadro associativo. Esses sócios tem medo de que abrindo o clube, ele seja vendido ou algo do tipo. Flamengo e Corinthians tiveram experiências parecidas com algumas situações que acontecem na Europa. O Flamengo em 2000 com a ISL e o Corinthians em 2005 com a MSI. As empresas injetaram milhões. O fim dessas parcerias vocês sabem: O presidente do Flamengo Edmundo Santos Silva sofreu impeachment e no Corinthians virou caso de policia.

Mas o conceito “Clube-Empresa” é pessimamente empregado e discutido. Em nada se parece com essas situações descritas acima. No dia 26 de abril, o Deputado Federal Otavio Leite (PSDB-RJ) deu entrada na Câmara dos Deputados do PL n. 5082/2016 que: “Cria a via societária, e estabelece procedimentos de governança e de natureza tributárias, para modernização do futebol”.

Esse projeto de lei sugere a criação de uma nova estrutura jurídica e administrativa do futebol, a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) para abrigar somente o futebol profissional. O projeto tem como base o livro  “Futebol, Estado e Mercado” dos advogados Rodrigo Monteiro de Castro e Francisco Manssur. A grosso modo, o clube mantém a piscina, o tênis e a bocha sendo administrada por amadores e torna independente o departamento de futebol com profissionais da área. O Clube como um todo não viraria empresa, somente o departamento de futebol que abriria uma nova empresa.

Essa empresa que vai gerir o futebol terá que ter uma diretoria remunerada, Conselho Fiscal e Conselho Administrativo bem como seguir normas que demais empresas profissionais seguem. Lembrando que tudo isso passaria antes por aprovação dos sócios do clube conforme seu estatuto. Os sócios poderão votar até mesmo quantos porcentos vão colocar no mercado para sociedade com investidores/e ou empresas ou em número de ações na bolsa de valores. O repórter Rodrigo Capelo da Revista Época, trouxe duas possibilidades de Clube-Empresa:

1. Ter sócios

Ele usa o caso do Bayern de Munique da Alemanha como exemplo. O clube vendeu 25% para três empresas: Allianz, Audi e Adidas.

2. Abrir capital em bolsa

Rodrigo usou o Flamengo como exemplo para ilustração. Levando em consideração que o Flamengo abriu uma SAF, os sócios do clube decidem colocar a disposição na bolsa, 25% das ações no mercado.

Há um terceiro caso que o Rodrigo coloca. É o do Borussia Dortmund que utiliza os dois casos acima juntos: 5% ficaram com os sócios do clube, 35% foi vendido a investidores e 60% foi colocado na bolsa. Tendo um futebol totalmente profissional, traz uma nova visão de credibilidade no mercado e ainda dá a possibilidade de fazer um financiamento direto com o BNDES com juros mais baixos que o mercado. O Flamengo poderia fazer isso para construir um estádio, por exemplo sem a necessidade uma empreiteira como intermediária que é o caso do Corinthians na construção do seu.

Wallim Vasconcellos, economista e ex Vice-Presidente de Futebol e de Patrimônio do Flamengo, em seu artigo “Futebol S.A.?” publicado no jornal “O Globo” no dia 19, listou pontos que devem ser considerados e entre eles a transparência: “É preciso deixar bem claro qual a destinação pretendida para os recursos captados, se para infraestrutura (estádio, CT) ou para contratar novos jogadores, pois essas diferentes opções irão impactar de maneira significativa o valor atribuído ao clube”. Leia o artigo de Wallim: Clique aqui.

O PL dá ainda a possibilidade de emissão de debêntures especiais do futebol (debênture-fut). Segundo explica o Rodrigo Capelo, emissão de debêntures é pegar um grande valor, dividi-lo e levá-lo a investidores no mercado financeiro. Grandes empresas usam essa ferramenta para grandes investimentos ou para pagar dividas.

Clubes brasileiros que viraram “Empresas”:

União São João de Araras: O clube paulista foi o primeiro a se aventurar em 1994. Diferente da proposta atual, o clube que revelou Roberto Carlos foi da primeira divisão do futebol brasileiro nos anos 90 para a quarta divisão do Campeonato Paulista. Parou temporariamente as atividades do futebol para sanear dividas. Estava na segunda divisão do Paulista. O clube ainda é administrado por Executivos especializados em cada uma de suas áreas, sendo estes cobrados em seu aproveitamento como em qualquer empresa.

Grêmio Barueri: Fundado como Baueri em 1989 por empresário da cidade. Em 2008 conseguiu acesso a Série A do Brasileiro. Hoje disputa a Serie A3 do Paulista.

Vitória (BA): Em 2000, o presidente Paulo carneiro vendeu 50,1% das ações do Vitória S.A – que cuidava apenas do departamento de futebol da entidade esportiva – para investidores argentinos do Fundo Exxel Group. Ação muito elogiada na época se tornou um pesadelo. O clube não conseguiu mais bons resultados na elite do futebol e chegou a cair para a Série C. Em 2010 pagou a ultima parcela da recompra das ações vendidas no período do Vitória S.A.

Audax e Red Bull Brasil são dois clubes essencialmente empresas. Resultados financeiros são prioritariamente mais relevantes que resultados esportivos. Geralmente esses clubes fazem parcerias com clubes da Serie A para colocar jogadores como vitrines para futuras vendas milionárias. Foram fundados como empresas e nunca tiveram uma gestão societária amadora.

O Botafogo em 2003, após ser rebaixado para a segunda divisão do Brasileiro pela primeira vez, chegou a flertar com a possibilidade de virar empresa. O clube se dividiria em Botafogo Futebol S.A. e Botafogo Licenciamento S.A. Mesmo sendo discutida e votada nos poderes do clube, a ideia nunca foi posta em prática.

A ideia desse texto, longo por sinal é de levantar esse debate sobre o PL 5082/2016. O projeto está tramitando no Congresso e será levado a audiências públicas e a muitos debates. São Paulo e Fluminense demonstraram interesse na proposta. É bom o Flamengo começar a debater também e não só a diretoria que em matéria ao Jornal Lance!, disse estudar o projeto a fundo, mas também, as demais lideranças políticas do clube e nós, torcedores. Assim como o PROFUT, a SAF será muito debatida e é bom termos na ponta língua argumentos para debater, afinal, dizer se algo é bom ou ruim sem conhecimento de causa é coisa de amador.

Fontes de pesquisa: Site Otavio Leite, Capital Aberto, Doentes por Futebol, Outras Palavras, Estadão, Site da Câmara dos Deputados e Revista Época.

Para acompanhar o andamento da PL 5082/2016: Clique aqui

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Tulio Rodrigues

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