Seja um pouco canalha, Flamengo!

 

Começo esse texto com uma pergunta: você assistiu ao jogo do Flamengo na última quarta-feira, 28, ante o River Plate no Engenhão? Viu o papelão que o Flamengo voltou a protagonizar “dentro de casa”? Pois é, como virou rotina no decorrer dessa década depois de 2010. Mas… independente da sua resposta, vem comigo que eu vou te contar uma história – ou mesmo relembrar, se for o caso.

O ano era 2012, o Flamengo também estava naquela Libertadores. Aquela mesma em que Leonardo Moura, ao fim do jogo contra o Lanús(que o Flamengo precisava vencer e aplicou 3-0) pegou o fone de ouvido de determinada emissora e foi acompanhar os segundos finais do outro jogo do grupo, entre Emelec e Olímpia, que precisava terminar empatado para o Flamengo ir às oitavas. O que não aconteceu por acasos do futebol. Já a eliminação… bem, a mesma infeliz história de sempre.

Mas, o episódio ao qual me referi no início do texto, trata-se da final dessa Libertadores de 2012. Que foi, sem dúvidas, uma das melhores dessa década, em termos de competitividade. E na final, tivemos o duelo entre Corinthians e Boca Juniors, com os paulistas sagrando-se campeões depois de anos e anos passando vexames e vivendo o mesmo que hoje o Flamengo vive. Essa falta de “sorte”, que dizem.

Eu vi parte da campanha do Corinthians àquele ano, porque, enfim, eu os “sequei” bastante e quis que o Boca levasse o título. E nesse dia, vi um Corinthians imponente, que sufocou o Boca e não deixou os argentinos jogarem. Só pra ter uma noção de todo o contexto: o Boca tomou sufoco em La Bombonera, num time que ainda tinha Riquelme, um dos maiores jogadores de toda a história do clube.

Mas… focando de uma vez por todas no assunto, vamos ao episódio que vim tratar neste texto. O jogo foi no Pacaembu, era o jogo da volta da final daquela Libertadores. O Boca precisava, se não me engano, de um gol para levar a decisão aos pênaltis, e não conseguiu nada em solo paulista. O time de Julio Cesar Falcione foi encurralado pelo Corinthians de Tite e Emerson Sheik(quando ainda queria jogar bola), o personagem que ficou marcado naquele jogo. O atacante recebeu marcação de Schiavi, que virou uma barata tonta por ser lento, apesar de muito alto. O placar já marcava dois a zero para o Corinthians, era por volta de 40 do segundo tempo quando os dois começaram a se estranhar e eu me recordo da cena bem viva em minha memória em que Emerson Sheik dá alguns tapas no próprio rosto e responde Schiavi “bate aqui, bate aqui” com um olhar cínico, de quem sabia que o argentino estava pendurado e poderia ser expulso.

Quarta-feira, assistindo ao jogo contra o River, eu observei tudo atentamente e, com tristeza, eu notei que o Flamengo não possui alguém que, em determinada situação, chegue a esse ponto. O Flamengo tem líderes como Diego, Diego Alves, Everton Ribeiro(que apesar de ser meio na dele, por ser contratado a peso de ouro, é outro líder), Réver, Juan, Guerrero(esse a gente chega a ter medo do reverso), mas nenhum com capacidade de se impor num campeonato sujo como é a Libertadores. Que é suja, mas é o que o Flamengo precisa urgentemente pra colocar seu nome no topo do continente de novo e parar de ser chacota.

Hoje temos um bom time, apesar das carências como nas laterais e de ter um Rômulo que vive a vida a sorrir no banco de reservas. Temos time, temos estrutura e todo aquele blábláblá de sempre. Mas o que falta ao Flamengo, como bem escreveu Rica Perrone essa semana, é entrar em campo com tesão em ganhar aquilo ali. De olhar na cara de argentino, de uruguaio, de boliviano, de paraguaio e ser um pouco canalha, já que não temos mais os heróis de 1981 pra desfilar nos gramados sulamericanos e trazer essa taça pra Gávea de novo. Falta um Diego parar um pouco, só um pouquinho, de ser bom moço e ser um pouco atrevido. Ele já perdeu uma final de Libertadores quando era moleque, pelo Santos. Ele não conhece esse gosto, Diego Alves também não, Juan também não, Everton Ribeiro também não. Mas, pasmem, Pará conhece! Um dos nossos laterais, que não tem a grife dos companheiros acima citados, conhece o caminho pra erguer a América. Réver também conhece, Berrío também conhece, Guerrero também, etc.

Se temos meio time de jogadores que já chegaram lá, porque tanto medo quando entram em campo e sabem que vão disputá-la? Ela já foi pior, Flamengo! Quando tu vivia atolado em dívidas, quase declarando falência, só se via o São Paulo chegando lá. Hoje o time do Morumbi sequer é notícia em Libertadores. Mas, vide o Grêmio, ele sabe o caminho, que não é APENAS ter dinheiro e os melhores jogadores, é ter um pouco de inteligência pra lidar com a sujeira da CONMEBOL. Pra finalizar, repito: seja um pouco canalha, Flamengo! Quando não se tem os melhores pra ganhar na técnica, e o adversário adora uma sacanagem, a gente ganha no grito – até em 81, com Anselmo, isso foi preciso.

Germano Medeiros

(@43Germano)

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