Por Gabriel Tolentino
Texto feito a convite do Blog Ser Flamengo.
Me lembro como se fosse hoje essa partida. Foi minha primeira decisão no Maracanã. Acompanhava meu pai, que estava meio receoso em me levar por causa da multidão presente. Era muito rubro-negro concentrado na estátua do Bellini. Algumas semanas antes, eu já tinha passado pelo Fla-Flu que terminou em 4 x 3, de virada. O que esperar de uma final?
Aquele time do Flamengo reunia os meus primeiros ídolos, já que só comecei a acompanhar o Flamengo como torcedor ferrenho a partir de 2003. Estavam em campo Júlio César e Felipe, os dois grandes nomes do Flamengo na época, comandado por Abel Braga. No time, ainda havia Zinho, diretor de futebol do Flamengo em 2012, e Jean, que marcou três gols na final do Carioca daquele ano contra o Vasco. Ibson, que viria a se tornar um grande jogador e está de volta à Gávea, também fazia parte do elenco.
Do outro lado, os tricolores tinham o time das estrelas: Edmundo, Romário, Ramon e Roger. Além disso, Léo Moura e Junior Cesar, que hoje vestem o manto sagrado.
Todos esses jogadores eram extremamente importantes. No entanto, o cara que decidia Fla-Flu vestia a camisa 6 e não era tão visado pelos adversários. Roger era o nome. O exterminador de tricolores. Ele já havia marcado dois gols no primeiro clássico do ano e, logo aos 14 minutos dessa final, protagonizou o primeiro lance de perigo com uma cabeçada defendida por Kléber.
Fabiano Eller, recém-chegado ao Flamengo e visto com desconfiança, brilhou. Originalmente volante, virou zagueiro e marcou o primeiro gol aos 34 minutos, após uma falta cobrada magistralmente por Zinho. Moleque, eu abraçava meu pai com uma mistura de sentimentos: alegria imensa, que não cabia em mim e nos meus 10 anos, e medo de me perder no meio daquela Nação que encurralava a pequena torcida tricolor e fazia o Maracanã tremer.
A pressão era enorme. Os gritos de “Oh, meu Mengão, eu gosto de você!” ecoavam por todo o estádio e pela cidade, mexendo com os brios dos jogadores. O Flamengo pressionava. Jean, que nunca foi um grande finalizador, acertou um belo chute colocado, desviado para escanteio por Kléber. Era Flamengo. Era a Nação em campo.
Jean voltou inspirado no segundo tempo. Acertou um chutaço no travessão aos 12 minutos e, aos 17, fez uma jogada individual, mas chutou em cima de Kléber. A torcida enlouquecida só sabia gritar e empurrar o time. Empurrou tanto que se esqueceu de cuidar da defesa. Antônio Carlos, hoje no Botafogo, entrou livre pela direita, após passe de Léo Moura, e chutou por baixo das pernas de Júlio César. Empate: 1 x 1 aos 20 minutos. Delírio tricolor. Por um minuto. Tempo suficiente para o Flamengo mostrar quem seria o vencedor.
Diogo fez uma linda jogada pela frente de Junior Cesar e encontrou Rafael, que cruzou para Jean se redimir dos gols perdidos e colocar o Mengão novamente à frente no placar.
O ritmo frenético da partida não deixava a adrenalina abaixar. Durante a festa rubro-negra pelo segundo gol, vi um bate-rebate na área do Flamengo. A bola sobrou para um jogador do Fluminense, que cruzou para a área em um lance que parecia sem perigo. Mas, na trajetória, ela encontrou a canela de Henrique, e o Flu empatou aos 26 minutos.
Já não me aguentava. Minha ingenuidade e falta de conhecimento sobre o que é o Flamengo me faziam temer o pior. Tinha medo de uma derrota, de que o Flamengo não conseguisse superar os obstáculos e retomasse a liderança.
Esse medo durou apenas quatro minutos. Foi quando Roger, livre na intermediária, tocou para Ibson, que deu um passe longo, aparentemente mais fácil para a defesa do Fluminense. Mas, como em um filme, Roger deu o último pique e, com o biquinho da chuteira, tocou para o lado. A bola parecia ir para fora. Aqueles segundos eternos em que todos esticaram o pescoço. Até que a bola mudou sua trajetória e entrou no cantinho direito do gol.
Êxtase total!
Fim de jogo. Só consegui virar para o meu pai e dizer, com essas mesmas palavras: “Pai, obrigado por me fazer Flamengo!”
Esse gol do Roger foi antológico. Merece cada linha escrita, cada palavra a mais para tentar descrevê-lo. Perfeito. Usei cem palavras, poderia usar mil ou um milhão. Nunca conseguirei expressar o sentimento, a aura desse gol. Foi único. Só um rubro-negro que estava lá comigo no estádio poderá entender. Incrível. Inesquecível.
E sabe aquela pergunta que fiz no início do texto? “O que esperar desse jogo?” Amigo, depois dessa partida, aprendi a nunca esperar nada de um Fla-Flu.
Até hoje, não sei qual foi o melhor jogo da minha vida. Talvez tenha sido o 4 x 3 da primeira fase ou então este. Só sei que o melhor jogo da minha vida foi um Fla-Flu.
Ficha técnica:
FLUMINENSE 2 x 3 FLAMENGO
Final da Taça Guanabara 2004
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 21/02/2004
Árbitro: Luís Antônio S. Ramos (RJ)
Público: 76.000 pagantes
Advertências: Rafael, Henrique e Felipe (FLA); Marcão e Rodolfo (FLU)
Gols: Fabiano Eller (FLA) 34′ do 1º; Antônio Carlos (FLU) 20′, Jean (FLA) 21′, Henrique (FLU – contra) 25′ e Roger (FLA) 30′ do 2º
FLAMENGO: Júlio César, Rafael, Henrique, Fabiano Eller e Roger; Róbson, Ibson (Anderson Luiz), Felipe e Zinho; Jean (Rafael Gaúcho) e Diogo (Andrezinho).
Técnico: Abel Braga
FLUMINENSE: Kléber, Leonardo Moura, Antônio Carlos, Rodolfo e Júnior Cesar; Marcão, Marciel (André Luiz), Roger (Alan) e Ramon (Alessandro); Edmundo e Romário.
Técnico: Valdir Espinosa
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