Série – 100 Anos de Fla x Flu – FLUMINENSE 2 x 3 FLAMENGO – Final da Taça Guanabara 2004
Por Gabriel Tolentino
Texto feito a convite do Blog Ser Flamengo.
Aquele time do Flamengo reunia os meus primeiros ídolos, já que só comecei a acompanhar o Flamengo como torcedor ferrenho a partir de 2003. Estavam lá em campo Júlio César e Felipe, os dois grandes nomes do Flamengo na época, que era comandado por Abel Braga. No time ainda tinha o Zinho, diretor de futebol do Flamengo em 2012. Jean, que fez 3 gols na final do Carioca desse mesmo ano contra o Vasco. Ibson, que veio a se tornar um grande jogador e está de volta a Gávea.
Do outro lado, os tricolores tinham o time das estrelas: Edmundo, Romário, Ramon e Roger. Além de Léo Moura e Junior Cesar, que vestem, hoje, o manto-sagrado.
Todos esses jogadores eram extremamente importantes. Porém, o cara que decidia Fla-Flu vestia a camisa 6 e não era tão visado assim pelos adversários. Roger era o cara. Exterminador de tricolor. Já havia marcado 2 no primeiro clássico do ano e foi ele mesmo quem realizou o primeiro lance de perigo do jogo aos 14 minutos em cabeçada que terminou na defesa de Kléber.
Também tinha o Fabiano Eller, que havia acabado de chegar no Flamengo sob desconfiança. Era volante, virou zagueiro e marcou o 1º gol aos 34, após falta cobrando magistralmente por Zinho. Molecão, eu abraçava meu pai com a mistura de sentimentos: o primeiro era o de alegria que não cabia em mim e meus 10 anos, o segundo era o de me perder do pai no meio daquela Nação que encurralava a pequena torcida tricolor e fazia o Maraca tremer.
A pressão era enorme. Os gritos de “Oh meu Mengão, eu gosto de você!” não se aguentavam presos no estádio, ecoavam por toda a cidade, mexia com os brios dos nossos jogadores. A pressão era total e Jean, que nunca foi um belo finalizador, acertou um belo chute colocado que foi para escanteio após desvio do goleiro Kléber. Era pressão. Era Flamengo. Era a Nação em campo.
Jean, aliás, voltou encapetado no segundo tempo. Acertou um chutaço no travessão aos 12. Aos 17 fez fila mas chutou em cima de Kléber. A torcida enlouquecida só sabia fazer gritar e empurrar o time para frente. Empurrou tanto que se esqueceu de cuidar da zaga. Antônio Carlos, hoje no Botafogo, entrou livre pela direita, após belo passe de Léo Moura, e chutou por baixo das pernas de Júlio Cesar. Empatou, 1 x 1 aos 20. Delírio tricolor. Por 1 minuto. Tempo suficiente de o Flamengo mostrar que aquele jogo não poderia ter outro vencedor. Diogo brincou na frente de Junior César, encontrou Rafael que cruzou para Jean se redimir dos gols perdidos e botar o Mengão de novo a frente do placar.
O ritmo frenético da partida não deixava a adrenalina abaixar por 1 minuto sequer. Enquanto eu estava tentando enxergar o jogo durante a festa rubro-negra do gol de empate, eu vi um cara lutando para levar a bola adiante dentro da área, no bate-rebate ela sobrou para um do Fluminense que cruzou para a área naqueles lances que a bola já estava para sair e nessa trajetória ela encontrou a canela de Henrique. Empate do Flu aos 26 minutos.
Já não me aguentava, minha ingenuidade e minha falta de conhecimento do que é Flamengo me faziam temer pelo pior. Temia por uma derrota, por um Flamengo que não teria a capacidade de superar as barreiras e conseguir, mais uma vez, se colocar a frente do placar e conseguir o título.
Esse medo ficou comigo durante 4 minutos. Justamente quando eu vi o Roger receber livre na intermediária, que tocou para o Ibson, o camisa 7 deu um passe longo que parecia estar mais fácil para a zaga do Fluminense tirar do que para o lateral conseguir a finalização. E, como em um filme, Roger deu o último pique e tocou com o biquinho da chuteira para o lado. A bola parecia ir para fora. Aqueles segundos em que todos esticaram o pescoço. Aqueles segundos eternos em que a bola foi mudando de trajetória até entrar no cantinho direito do gol.
Êxtase total!
Fim de jogo. Só consegui virar para meu pai e dizer, com essas mesmas palavras. “Pai, obrigado por me fazer Flamengo!”
Esse gol do Roger foi antológico. Merece cada linha escrita, cada palavra a mais para tentar descrevê-lo. Perfeito. Usei cem palavras, poderia ter usado mil ou um milhão. Nunca irei conseguir escrever o sentimento, a aura desse gol. Foi único. Só um rubro-negro, que estava lá comigo no estádio, poderá descrever. Incrível. Inesquecível.
E sabe aquela pergunta que fiz no início do texto? “O que esperar desse jogo?” Amigo, depois dessa partida, eu aprendi a nunca esperar nada de um Fla-Flu.
Até hoje eu não sei, qual foi o melhor jogo da minha vida. Talvez tenha sido o 4 x 3 da primeira fase ou então esse. Só sei que o melhor jogo da minha vida foi um Fla-Flu.
Ficha técnica:
FLUMINENSE 2 x 3 FLAMENGO
Final da Taça Guanabara 2004
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 21/02/2004
Árbitro: Luís Antônio S. Ramos (RJ)
Público: Público: 76.000 pagantes
Advertências: Rafael, Henrique e Felipe (FLA), Marcão e Rodolfo (FLU)
Gols: Fabiano Eller (FLA) 34′ do 1º; Antônio Carlos (FLU) 20′, Jean (FLA) 21′, Henrique (FLA-contra) 25′ e Roger (FLA) 30′ do 2º;
FLAMENGO: Júlio César, Rafael, Henrique, Fabiano Eller e Roger; Róbson, Ibson (Anderson Luiz), Felipe e Zinho; Jean (Rafael Gaúcho) e Diogo (Andrézinho).
Técnico: Abel Braga
FLUMINENSE: Kleber, Leonardo Moura, Antônio Carlos, Rodolfo e Júnior César; Marcão, Marciel (André Luiz), Roger (Alan) e Ramon (Alessandro); Edmundo e Romário.
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