O presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, voltou a defender o fim dos gramados sintéticos no futebol brasileiro. O tema reacendeu com a divulgação de uma nota do clube sobre fair play financeiro, criticando o uso do piso de plástico e pedindo revisão das regras. A polêmica, porém, descambou para outro campo quando o jornalista atleticano Everton Guimarães, durante um comentário, utilizou a tragédia do Ninho do Urubu para atacar o dirigente rubro-negro. O episódio, repercutido imediatamente nas redes sociais, expôs o porquê de o debate extrapolar a questão técnica e atingir um ponto sensível sobre ética e responsabilidade no jornalismo esportivo.
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Ao repercutir a nota do Flamengo, Guimarães respondeu afirmando que quem não tem um centro de treinamento de qualidade não deveria “colocar crianças em contêiner”, evocando de maneira direta a tragédia de 2019, quando dez jovens morreram no alojamento do clube. A escolha do ataque, deslocado do tema original e carregado de insinuações pessoais, provocou reação imediata de torcedores, jornalistas e influenciadores de diferentes perfis. O ponto central não era mais o gramado, mas o uso oportunista de um episódio traumático para produzir efeito retórico num debate esportivo.
A incoerência também veio à tona. Usuários resgataram publicações antigas do próprio Guimarães, datadas de 2015, quando criticava de forma enfática o uso de gramados sintéticos em competições de base. Na época, o Atlético Mineiro, clube para o qual demonstra simpatia, não utilizava a superfície de plástico. Anos depois, com o time adotando o sintético em seu estádio, a posição mudou. Essa contradição reforçou a percepção de que o discurso atual não se sustenta em questões técnicas, mas em conveniência clubística.
O debate se intensificou quando perfis como o Paparazzo Rubro-Negro e páginas especializadas em Flamengo destacaram a falta de compromisso do comentarista com a cobertura dos desdobramentos judiciais do incêndio. Momentos críticos do processo, como a absolvição de sete réus em decisão recente, passaram sem qualquer análise por parte do jornalista. A crítica recorrente é de que parte da imprensa recorre à tragédia apenas quando pretende confrontar o Flamengo num embate de rivalidade, mas ignora o tema quando o assunto exige aprofundamento, responsabilidade e empatia com as famílias.
Nas redes sociais, a fala ganhou respostas duras. Vídeos que viralizaram destacaram que o uso da tragédia como arma retórica não fere o clube, mas as famílias que ainda convivem com a ausência dos filhos. Perfis lembraram que o CT do Flamengo passou por uma reestruturação completa, sem vestígios da situação anterior, e que a discussão sobre o caso deve ser tratada com seriedade e não como munição para confrontos clubísticos.
O episódio se torna ainda mais relevante porque expõe um problema que transcende o futebol: a utilização de dor alheia como recurso argumentativo em debates passionais. A discussão que deveria girar em torno de regulamentação, tecnologia esportiva e responsabilidade institucional acabou soterrada por ataques pessoais e pela banalização de uma tragédia.
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Enquanto isso, o fair play financeiro permanece na pauta. A nota do Flamengo gerou reações de clubes com estádios artificiais e abriu nova rodada de discussões sobre padronização. Ainda assim, o ponto central da semana não foi o futebol em si, mas a forma como o debate foi conduzido por um “profissional” que ultrapassou barreiras éticas elementares.
O episódio deixa claro que responsabilidade, empatia e coerência não são acessórios da profissão. São obrigações. E quando são abandonadas, o dano se espalha, para a credibilidade do jornalista, para o debate público e para as famílias que ainda lutam para que sua dor não seja transformada em munição de rivalidade.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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