Para celebrar os 130 anos do Flamengo, estamos fazendo uma série de vídeos com os principais acontecimentos da fundação e da história do clube. Hoje, vamos falar da criação do futebol.
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Em 1911, o Flamengo já era respeitado e conhecido clube de remo, e não tinha futebol. Um dos seus sócios e remador, Alberto Borgerth, jogava futebol pelo Fluminense. Às vésperas da partida do tricolor com o Rio Cricket, que entrariam em campo no dia 10 de setembro, o Ground Committee (não havia técnicos na época) se reuniu e resolveu tirar Borgerth da equipe que ia a campo. Ernesto Paranhos, zagueiro do segundo time, foi o escolhido para o seu lugar.
Sem Borgerth, o Fluminense venceu o jogo por 5 a 0. Gols de Gustavo de Carvalho, Oswaldo Gomes, Galo, James Calvert e Ernesto Paranhos. Para ser campeão, bastava vencer o América no jogo seguinte. Todos esperavam a volta do capitão, mas o Ground Committee manteve a mesma equipe.
Em seguida, Borgerth se reuniu com outros jogadores na Pensão Almeida, na Rua do Catete, onde moravam Píndaro de Carvalho e Amarante. No encontro, aprovaram que deixariam o Fluminense após a conquista do Campeonato Carioca. A sugestão foi de Amarante. Agora, para onde iriam? Borgerth chegou a pensar no Botafogo, mas ele já tinha um time. O Paysandu foi cogitado, mas descartado por ter uma equipe fraca e por ser um clube de ingleses. Iam se sentir deslocados.
Aí o capitão teve a ideia: “Vamos para o Flamengo. Formar a seção de futebol do Flamengo.” Com o aceite dos companheiros, Borgerth foi conversar com Souza Mendes, diretor de regatas do Rubro-Negro, que recebeu a ideia sem entusiasmo. Em seguida, conversou com Virgílio Leite, presidente do clube e que fundou o Fluminense em 1902, Edmundo Furtado, vice-presidente geral, e Pimenta de Mello. Com reservas, falaram da possibilidade de fazer uma experiência.
No dia 1º de outubro, o Fluminense bateu o América por 2 a 0, com gols de Galo e Ernesto Paranhos. O tricolor foi campeão invicto. Em seguida, o clube deu um baile para comemorar a conquista num luxuoso hotel. Enquanto isso, Borgerth e os demais jogadores estavam no Café Lamas redigindo o pedido de dispensa do Flu. Alberto entregou o envelope ao mensageiro para levar ao endereço do seu antigo clube e disse aos companheiros: “Agora já não somos Fluminense. Somos Flamengo.”
CASO PREFIRA OUVIR:
A diretoria tricolor, que tinha Luiz Borgerth, tio de Alberto, como tesoureiro, aprovou por 4 votos a 3 a dispensa dos sócios: Alberto Borgerth, Baena, Píndaro, Néri, Amarante, Galo, Orlando Mattos, Gustavo de Carvalho e Lawrence Andrews.
Enquanto isso, no Flamengo, aconteciam fatos importantes. No dia 8 de novembro, Edmundo de Azurém Furtado foi eleito presidente. Sua posse foi no dia 15 e, já no dia 25, nomeou a comissão formada por Virgílio Leite, José Martins de Souza Mendes e Joaquim Magalhães para estudar a possibilidade de o clube adotar o futebol como esporte em seu estatuto.
No dia 24 de dezembro de 1911, em assembleia extraordinária conduzida pelo novo presidente Edmundo de Azurém Furtado, o Flamengo aprovou a criação do departamento de Esportes Terrestres. Quarenta dos sessenta sócios do clube compareceram à reunião. Recorde na época.
Após a reunião, Virgílio Leite foi conversar com Borgerth. Avisou que a criação do futebol fora aprovada, mas sob duas condições: que o Flamengo entrasse na primeira divisão do Campeonato Carioca de 1912 e que não pudesse usar camisa igual à do remo.
Borgerth não via problema, pois a Liga Metropolitana não previa em suas regras o caso do Flamengo: o time de jogadores atuais campeões cariocas já passara por uma grande eliminatória, já se provaram capazes e não necessitariam de passar pela segunda divisão.
Junto à solicitação de Borgerth, o Fluminense também protocolou na Liga um pedido para a filiação do Mais Querido na primeira divisão. Mário Pollo, dirigente do Fluminense, foi quem o avisou através de uma carta. Nela, diziam não ver problema na entrada da nova equipe no campeonato e que o futebol do Flamengo era uma compensação pela maneira como se deu a saída dos atletas do tricolor.
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A questão da camisa foi resolvida em conversa entre Borgerth e Pullen. O diálogo, segundo Mario Filho, se deu assim:
Edgard Pullen: “Eu tenho uma ideia. A camisa do time poderia ser de quadrados vermelhos e pretos. Assim, a gente evitaria as listras verticais ou horizontais.”
Alberto Borgerth pediu explicações: “Quadrados, como?”
Edgard Pullen: “Você não conhece um tabuleiro de xadrez? Com quadrados grandes.”
Borgerth concordou e Pullen arrematou: “Eu vou mandar fazer as camisas. As chuteiras, as meias e os calções ficarão por conta de vocês.”
Píndaro, presente, soltou: “Eu acho que vai ficar feia.”
No dia 12 de janeiro de 1912, o Jornal do Comércio noticiou: “O Flamengo teria um time de football e já havia oficiado à Liga Metropolitana de Sports Athleticos o seu desejo de disputar o campeonato.” A reportagem também detalhava como seria o Manto Sagrado: quadrados alternados em preto e vermelho.
Dias depois, os uniformes chegariam da Inglaterra. O resto é história.
Texto/Roteiro/Edição: Tulio Rodrigues
Fontes de pesquisa:
Livros:
Me Arrebata. Vol I – Maurício Neves de Jesus – Link para comprar
Histórias do Flamengo – Mario Filho – Link para comprar
Seja no mar, seja na terra – Roberto Assaf – Link para comprar
O Vermelho e o negro – Ruy Castro – Link para comprar
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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