O Flamengo promoveu, na tarde de terça-feira (18), um seminário sobre valorização da cultura negra nos esportes que reuniu representantes de cinco clubes rivais no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUCAB), no centro do Rio. O encontro, organizado pelo departamento de responsabilidade social do clube, buscou discutir como e por que as instituições esportivas devem atuar no combate ao racismo e na ampliação de oportunidades para pessoas negras em todas as áreas do esporte.
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A iniciativa ocorre às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, e alinhada ao conjunto de medidas que o Flamengo vem implementando desde o início da temporada. O evento nasceu de uma parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e levou ao MUCAB representantes de Atlético Paranaense, Atlético Mineiro, Bahia, Botafogo e Vasco, além de atletas olímpicos rubro-negros. A presença de clubes que tradicionalmente competem entre si ajudou a reforçar o propósito central da reunião: a rivalidade fica restrita ao campo; fora dele, o esporte pode ser instrumento de transformação social.
O seminário abriu com o painel “Grandes clubes, grandes responsabilidades”, que discutiu a construção de políticas antirracistas dentro das instituições. Camila Nascimento, gerente de responsabilidade social do Flamengo, conduziu a conversa ao lado de dirigentes convidados. Nelson Barros Neto, do Bahia, relembrou o posicionamento firme do clube no caso Gerson. Pelo Vasco, o historiador Walmer Perez relatou os programas de letramento racial oferecidos a jogadores e torcedores. Rubens Neves, da Fundação do Atlético Paranaense, apresentou detalhes sobre o canal de denúncias criado pelo clube, enquanto Débora Froquet, do Botafogo, citou o banimento definitivo de um sócio envolvido em ato racista. Henrique Muzzi, do Instituto Galo, destacou que o futebol ainda precisa de debates constantes para avançar.
A discussão mostrou pontos de contato entre ações isoladas e a necessidade de atuação coordenada. A própria presença de diferentes instituições dividindo suas práticas sinaliza um movimento raro no ambiente do futebol brasileiro, onde divergências administrativas e rivalidades políticas normalmente impedem diálogos amplos.
O segundo painel trouxe relatos de atletas. A ginasta Lorran Oliveira, medalhista olímpica em Paris, emocionou o público ao dizer que deseja “ver negros no topo da ginástica, conquistando o que lhes pertence por direito”. Gui Deodato, jogador do basquete rubro-negro e da seleção brasileira, defendeu o letramento racial como instrumento para construir ambientes mais saudáveis. A judoca Giovana Santos, bicampeã brasileira, falou do sonho de um futuro sem que a cor da pele seja motivo de preocupação ou barreira. As histórias, mediadas pela especialista Ingrid Davi, ajudaram a traduzir o tema para o cotidiano dos atletas que enfrentam, na prática, preconceitos e limitações estruturais.
O debate avançou com a mesa “Formação antirracista no esporte”, que reuniu profissionais de organizações dedicadas à inclusão e aos direitos humanos. A CUFA apresentou experiências em projetos de base, enquanto representantes da Secretaria Municipal de Cultura detalharam iniciativas voltadas à formação educacional relacionada às relações étnico-raciais. A presença do Ministério da Igualdade Racial trouxe ao encontro a perspectiva das políticas públicas.
A etapa final do evento destacou as ações do próprio Flamengo. Em 2025, o clube aprovou mudanças no Estatuto que tornaram o combate ao racismo um princípio permanente, com penalidades claras para associados, colaboradores e prestadores de serviço envolvidos em atos discriminatórios. O Conselho Deliberativo aprovou as alterações por unanimidade, num gesto que simboliza o alinhamento institucional ao tema. O clube também intensificou formações em letramento racial para atletas da base, do futebol feminino, do judô, basquete, vôlei e remo, além dos educadores do projeto social Jogaremos Juntos.
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Essas medidas dialogam com a promessa feita durante a campanha presidencial do clube: transformar o antirracismo em política permanente, e não apenas em ações pontuais. O seminário, realizado de forma colaborativa com outras instituições, reforçou esse compromisso e também aproximou adversários históricos em torno de uma pauta maior que qualquer disputa esportiva.
Ao final, o Flamengo destacou que responsabilidade social não se resume a campanhas esporádicas, mas exige continuidade, formação e participação efetiva de clubes, atletas e torcedores. O público saiu do MUCAB com a sensação de que o debate precisa ser recorrente, e que o esporte, quando articulado com políticas públicas e mobilização social, tem força para provocar mudanças estruturais.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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