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Futebol feminino, direitos de TV e o novo Fla-Flu: Flamengo explica decisões e provoca o mercado

Futebol feminino, direitos de TV e o novo Fla-Flu: Flamengo explica decisões e provoca o mercado

Foto: Mariana Sá/Flamengo

A gestão do Flamengo voltou a colocar o clube no centro de um debate estrutural do futebol brasileiro ao detalhar, em apresentação, o direcionamento adotado para o futebol feminino, os números envolvidos na modalidade e a relação desigual com os direitos de transmissão. O encontro, realizado na noite desta semana, serviu para esclarecer decisões administrativas, responder a críticas recorrentes e contextualizar escolhas que vêm sendo tomadas fora dos holofotes, mas com impacto direto no futuro esportivo e financeiro do departamento.


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O ponto de partida foi a explicação sobre a reorganização do futebol feminino rubro-negro. Após meses de questionamentos públicos sobre cortes de gastos e mudança de sede, a diretoria optou por expor a lógica por trás das decisões. A avaliação interna aponta para um hiato de formação de atletas que se arrasta por cerca de 15 a 20 anos no país.

A resposta encontrada foi redirecionar esforços para a base. O clube passou a concentrar investimentos no time sub-20, considerado mais jovem, fisicamente mais preparado e com desempenho proporcionalmente superior ao da equipe adulta. A leitura é pragmática: sem formação consistente, não há projeto sustentável. A comparação com seleções como Canadá e Estados Unidos, que chegam às competições internacionais com atletas mais fortes e bem preparadas aos 21 ou 22 anos, foi usada como exemplo de um caminho que o Brasil ainda precisa trilhar.

Os números ajudam a entender a decisão. O Flamengo investe cerca de R$ 22 milhões por ano no futebol feminino e opera com um déficit aproximado de R$ 11 milhões. Em contrapartida, a receita proveniente dos direitos de transmissão em 2025 não chegou a R$ 1 milhão. O detalhamento é ainda mais contundente: aproximadamente R$ 480 mil pelo Campeonato Brasileiro adulto, pouco mais de R$ 110 mil pelo Brasileiro sub-20, R$ 90 mil pela Copa do Brasil e valores residuais em outras competições. Somados, esses recursos não pagam sequer um mês completo da folha salarial do departamento.

Esse cenário expôs uma contradição frequentemente ignorada no debate público. Parte da crítica cobra aumento de investimento, mas silencia sobre a baixa remuneração paga pelas emissoras que exploram o produto. A avaliação apresentada foi direta: se o futebol feminino deve crescer, quem detém os direitos precisa assumir maior responsabilidade financeira. Hoje, as TVs comercializam pacotes publicitários, capitalizam audiência e não repartem esse ganho de forma proporcional com os clubes.

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Ainda assim, o pano de fundo histórico ajuda a compreender o discurso. O Flamengo lembrou que já viveu situação semelhante no passado. Em 1977, ao lado do Fluminense, o clube enfrentou as emissoras e impediu a transmissão de um Fla-Flu no Maracanã por ausência de pagamento. O gesto, à época tratado como absurdo, marcou o início da valorização dos direitos de transmissão no futebol brasileiro. A partir daquele embate, as TVs passaram a pagar pelos jogos, modelo que sustenta o esporte até hoje.

A comparação com o presente é inevitável. Para a atual gestão, o futebol feminino vive hoje o mesmo estágio vivido pelo masculino há quase 50 anos: muita exposição, pouco retorno financeiro para quem produz o espetáculo. A sinalização foi clara. Se nada mudar, o Flamengo não descarta medidas mais duras, como restringir transmissões de jogos em que seja mandante ou fortalecer ainda mais seus próprios canais de exibição.

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O debate, no entanto, vai além de um conflito pontual. Ele revela uma mudança de mentalidade. Diferentemente do passado, quando o futebol profissional bancava déficits de outros departamentos, a lógica atual busca sustentabilidade em cada área. Não por acaso, o clube que já figurou em páginas de jornais por falta d’água e dívidas milionárias hoje discute estratégia, formação e valorização de ativos.

Ao final, a apresentação deixou uma mensagem incômoda, mas necessária. O futebol feminino precisa crescer, mas isso exige mais do que discursos bem-intencionados. Exige investimento real, revisão do modelo de transmissão e coragem para enfrentar estruturas consolidadas. O Flamengo, fiel à sua história, parece disposto a tensionar esse debate mais uma vez.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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