O conflito entre o Flamengo e a Libra ganhou um novo capítulo. A associação dos clubes divulgou uma nota oficial rebatendo, ponto a ponto, as alegações do Rubro-Negro sobre critérios de divisão de receitas e transparência nas decisões internas. A crise, que vinha sendo contida em reuniões discretas, agora transbordou para o campo jurídico e para a opinião pública, reacendendo o debate sobre poder, dinheiro e representatividade na elite do futebol.
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A ruptura ficou clara no dia 24 de setembro, quando o Flamengo ingressou na Justiça pedindo uma liminar para bloquear repasses financeiros da Libra aos clubes por descumprimento do estatuto. O pedido foi aceito, e a decisão judicial congelou o fluxo de caixa da associação.
A Libra afirma que o estatuto é claro e foi aprovado por unanimidade, com a assinatura de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, em setembro de 2024. No documento, estaria prevista a fórmula de divisão de receitas, sem omissões. A entidade sustenta ainda que o clube carioca não apenas concordou com os termos, como participou ativamente da redação inicial. O Flamengo, por outro lado, argumenta que o texto não detalha critérios essenciais, como a proporção entre plataformas de transmissão: TV aberta, fechada e pay-per-view, e que a própria Libra admitiu rediscutir o tema em assembleias posteriores.
Em 2025 foram duas assembleias destinadas justamente a rever esse ponto. A Libra apresentou cinco cenários possíveis de rateio, elaborados por pela empresa de Silvio Matos, presidente da entidade e homem de confiança de Leila Pereira, mandatária do Palmeiras. O Flamengo, insatisfeito, propôs um sexto modelo, com base no número de cadastros de torcedores como métrica alternativa à audiência. A proposta foi rejeitada pelos demais clubes. A partir daí, a relação degringolou.
Em sua nota mais recente, a Libra sustenta que o Flamengo tenta uma “virada de mesa” por via judicial, buscando reverter uma decisão colegiada. Alega ainda que o clube não corria risco de prejuízo, já que o contrato de direitos de TV da associação tem validade de cinco anos, com montante superior a R$ 6 bilhões, o que permitiria ajustes futuros. O Rubro-Negro rebate: sem uma liminar, não haveria garantias de que os valores seriam compensados, já que a recomposição dependeria da boa vontade financeira dos demais clubes, muitos deles, endividados.
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O episódio também escancara a dificuldade histórica do futebol brasileiro em construir uma liga unificada. Desde os anos 80, tentativas de organização coletiva fracassaram por divergências políticas, vaidades e interesses comerciais. A Libra nasceu em 2022 com o discurso de modernizar o modelo de gestão e replicar o sucesso da Premier League, mas o projeto hoje está fraturado entre duas frentes antagônicas: a própria Libra e a Liga Forte União.
Com a disputa judicial em andamento, o processo corre sob sigilo, e o ambiente de reconciliação parece distante. Dirigentes da Libra acusam o Flamengo de buscar protagonismo político, mas a verdade é que a Libra se transformou em uma ferramenta de controle de Leila Pereira e do Palmeiras, enquanto silencia diante de incoerências estatutárias.
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O que se vê, portanto, é menos um impasse técnico e mais uma batalha por poder. O projeto que prometia inaugurar uma nova era de governança no futebol brasileiro, com critérios claros e transparência, hoje se perde em comunicados, acusações mútuas e interesses cruzados. Entre a ambição de criar uma liga moderna e a realidade política do país, o sonho da “Premier League brasileira” segue preso no vestiário.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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