Para celebrar os 130 anos do Flamengo, vamos fazer uma série de vídeos com os principais acontecimentos da fundação e da história do Flamengo. Hoje, vamos falar do sétimo remador e do naufrágio da Pherusa.
Você também pode acompanhar essa e outras análises no formato podcast no Spotify, Deezer, Amazon, iTunes, Google Podcasts, Castbox e Anchor.
O sonho de criar um grupo de regatas no bairro do Flamengo partiu de José Agostinho Pereira da Cunha, ganhando o coro de Mário Spínola, Nestor de Barros e outros que vamos falar mais à frente. O plano de criar o grupo começou no segundo semestre de 1895. Claro que, para isso, precisariam de um barco.
Encontraram a Pherusa, um barco de passeio a cinco remos usado, ao valor de 60 mil-réis, que seria dividido entre os sócios. O barco precisaria passar por uma reforma, e foi Júlio Furtado quem indicou um armador em Maria Angu, subúrbio do Rio, nas áreas entre Penha, Olaria e Ramos, às margens da Baía de Guanabara.
Dias depois, no dia 6 de outubro de 1895, dia da Festa da Penha, José Agostinho Pereira da Cunha, José Félix da Cunha Menezes, Felisberto Laport, Mário Spínola, Maurício Rodrigues Pereira, Nestor de Barros e Joaquim Leovigildo dos Santos Bahia, o Baiano, rumaram para a Zona Norte buscar a baleeira e pagar pelo conserto, que custou 250 mil-réis. Através de um bonde, levaram o barco até a Ponta do Caju. A ideia era voltar pelo mar até a Praia do Flamengo, em frente ao número 22.
Como ventava e a Pherusa tinha vela, não houve necessidade de usar o remo. No mar, a baleeira foi se afastando da costa e ganhando distância da terra firme. De longe, via-se a Igreja da Penha, adornada para a festa. Com meia hora de navegação, não se via mais a Praia do Caju; as embarcações cheias de gente ficaram pequenas aos olhos dos remadores.
CASO PREFIRA OUVIR:
O tempo mudava e ventava mais forte, a Pherusa deslizava depressa e um temporal se avizinhava. Nestor lembrou de um português que estava em outra embarcação e havia aconselhado a volta dos meninos por conta do temporal. Ele fora ignorado pelos tripulantes.
O mastro quebrou ao meio, as velas rolaram, Nestor tentou segurar uma delas para que não caísse no mar. Um pedaço do mastro arrastou tudo na queda. Como a carlinga, entalhe onde se apoia o mastro, havia quebrado, a água começou a entrar na embarcação. Nestor gritou: “Agora, aos remos”. Dois remos começaram a ganhar movimento.
O desespero tomou conta. Com o barco naufragando, os tripulantes gritavam em direção às embarcações que seguiam para a Ponta do Caju. Sem sucesso. A distância era muito grande. Ninguém os ouvia. Joaquim Bahia pulou no mar e disse que nadaria até a praia para buscar ajuda. Com a Pherusa prestes a virar, os demais mergulharam. Em seguida, a baleeira submergiu e sumiu dos olhos dos desesperados remadores.
Tempos depois, com a tarde caindo e o céu escurecendo, a esperança. Mário Spínola gritou: “Estamos salvos. Encontramos uma pedra”. Na verdade, era a Pherusa, de cabeça para baixo. Os jovens agarraram-se ao casco e ficaram à espera de uma ajuda que pouco acreditavam que chegaria diante daquele mar revolto.
Quase quatro horas depois, já pensando no pior pelo Baiano, surgiu a lancha Leal, tripulada por Bento Thomaz dos Santos, José Mattos e Reynaldo Monteiro Gomes, que voltava da Festa da Penha, para salvar os seis jovens remadores.
Enquanto isso, Baiano, que fazia serviço militar na Marinha, daí sua destreza para o nado, após nadar cerca de dois mil metros, chegou às proximidades da Ilha de Bom Jesus, tomou um bote e chegou à praia do Retiro Saudoso. Lá, pediu ajuda aos seus amigos que estavam no mar. Uma baleeira seguiu na busca dos jovens, que já haviam sido salvos pela Leal. Joaquim foi pra casa achando que eles haviam morrido. Os amigos pensavam o mesmo dele. O encontro só se deu no dia seguinte, no casarão do 22 da Praia do Flamengo.
A Pherusa foi novamente reformada e ficou amarrada atrás do casarão. Antes da fundação oficial, a baleeira foi furtada em uma madrugada.
O naufrágio, ocorrido 42 dias antes da fundação oficial do Flamengo, em 17 de novembro, serviu, como os rapazes definiram, para sacudi-los e lhes deu mais força para que, no mês seguinte, o grupo de regatas passasse a existir.
LEIA MAIS:
- Ruy Castro adapta texto histórico “Uma Nação sonhando” em evento na Gávea; confira
- 33 ANOS DEPOIS, O FLAMENGO VOLTOU A USAR O TREVO DA ADIDAS NA CAMISA; CONFIRA A HISTÓRIA
- FLAMENGO CAMISA 3 – 2025 – TORCEDOR vs JOGADOR. QUAL É A DIFERENÇA?
Para a história, o devido reconhecimento ao sétimo remador, o Baiano, que acabou não participando da fundação oficial do Flamengo em 17 de novembro, e aos tripulantes da lancha Leal, que salvou os nossos fundadores da fatalidade, que levaria ao mar a semente intocável do nosso nascimento, e o cruel engenho do nosso abortamento. E viveríamos, sabe-se lá como, em um eterno desgosto profundo!
Texto/Roteiro/Edição: Tulio Rodrigues
Fontes de pesquisa:
Livros:
Histórias do Flamengo – Mario Filho – Link para comprar
Seja no Mar, Seja na Terra – Roberto Assaf – Link para comprar
O vermelho e o Negro – Ruy Castro – Link para comprar
Me Arrebata Vol. I – Maurício Neves de Jesus e Renato Dalmaso – Link para comprar
VEJA OUTROS VÍDEOS DA NOSSA SÉRIE:
—
Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
+ Siga o Blog Ser Flamengo no Instagram, no Facebook, no Twitter, no Youtube e no Dailymotion

