A chamada “união sinistra”, aliança informal entre torcedores de Vasco e Palmeiras, entrou em curto-circuito público após a final da Copa do Brasil. O jogo, decidido neste domingo (21), terminou com o Corinthians campeão e abriu uma sequência de reações que escancararam uma biga entre torcedores dos dois clubes que, nos últimos anos, haviam construído uma relação de conveniência nas arquibancadas e nas redes sociais. O que começou como rivalidade terceirizada acabou virando cobrança direta, xingamentos cruzados e uma crise simbólica que expôs frustrações acumuladas.
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A noite começou sem grande carga emocional para parte do público neutro. Corinthians saiu na frente, Vasco empatou, depois veio a virada alvinegra. O roteiro, por si só, já alimentaria a provocação tradicional. O contexto, porém, era mais pesado. O Palmeiras perdeu as decisões numa temporada marcada por altos investimentos e resultados aquém da expectativa. Foram mais de R$ 700 milhões aplicados no elenco em 2025 sem que isso se traduzisse em títulos. No caminho, derrotas para o Corinthians no Paulista, eliminações e, sobretudo, novos vices diante do Flamengo, rival que voltou a dominar o cenário nacional e continental.
Com o Vasco na final, o elo informal ganhou protagonismo. Torcedores palmeirenses vestiram camisas cruzadas, organizaram manifestações conjuntas e apostaram na velha lógica do “inimigo do meu inimigo”. A derrota vascaína, no entanto, funcionou como gatilho. Perfis ligados à torcida do Palmeiras passaram a atribuir o fracasso a uma suposta “energia negativa” do aliado. Um dos posts mais compartilhados classificou o Vasco como “clube fracassado” e pediu o rompimento imediato da relação. O tom subiu rápido. Vieram respostas, ofensas diretas e ameaças verbais que deixaram claro que a tal união nunca foi tão sólida quanto parecia.
Palavras como “azar”, “miserável” e “peso morto” circularam entre comentários e vídeos, muitos deles gravados no calor do momento. Um torcedor palmeirense resumiu o sentimento ao reclamar de ver pessoas com camisas do Vasco em jogos do Palmeiras, tratando a proximidade como sinal de mau agouro. Do outro lado, vascaínos reagiram lembrando campanhas recentes, apontando arrogância e ironizando a incapacidade do aliado de transformar orçamento em conquistas. O episódio revelou mais do que uma briga ocasional: escancarou como alianças de arquibancada se sustentam apenas enquanto servem a um objetivo imediato.
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O pano de fundo ajuda a entender a irritação. Desde 2019, o Flamengo empilhou títulos nacionais e internacionais, enquanto o Palmeiras alternou glórias e frustrações, e o Vasco atravessou um período de instabilidade profunda, com rebaixamentos e jejum de taças. A final da Copa do Brasil colocou essas trajetórias em choque simbólico. Ver o Corinthians levantar um troféu em meio a dificuldades financeiras ampliou o incômodo palmeirense, que passou a mirar não só rivais históricos, mas também antigos parceiros ocasionais.
A tensão extrapolou o ambiente virtual. Relatos de torcedores do Vasco apontaram problemas graves na Barreira do Vasco, com brigas, pessoas passando mal e sensação de insegurança após o apito final. O clima pesado contrastou com a ideia romântica de festa e reforçou a leitura de que o futebol brasileiro vive um momento de exaustão emocional nas arquibancadas, em que frustração e violência caminham lado a lado.
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No meio do caos, sobrou também espaço para reflexão. Parte da crítica direcionada ao Vasco tocou em um ponto sensível: a romantização do fracasso. Há anos, discursos que exaltam resistência e sofrimento convivem com a ausência de títulos relevantes. Para adversários, isso virou munição. Para vascaínos mais críticos, um sinal de alerta. A história do clube, marcada por protagonismo esportivo nos tempos idos, não combina com a normalização de derrotas. O rompimento simbólico com a torcida do Palmeiras, ainda que nasça de um episódio pontual, expõe essa ferida.
A chamada união sinistra não acabou por causa de um post isolado ou de um vídeo viral. Ela ruiu porque se sustentava em ressentimentos compartilhados, não em identidade comum. Quando o resultado deixou de servir aos dois lados, veio à tona o que sempre esteve ali: rivalidade latente, cobrança por títulos e a incapacidade de lidar com o sucesso alheio, especialmente quando ele veste vermelho e preto. O futebol segue, os títulos mudam de dono, mas a lição permanece. Alianças circunstanciais dificilmente sobrevivem ao primeiro grande fracasso.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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