O embate que dominou o programa De Primeira, do UOL, reuniu PVC e Rodrigo Mattos e outros comentaristas na tade desta segunda-feira (1), quando a discussão sobre o vice do Palmeiras para o Flamengo encontrou um ponto de tensão que cresceu ao longo da transmissão. PVC tentou explicar a temporada alviverde sem títulos recorrendo ao argumento de que o clube vive um “ano de transição”, semelhante ao Flamengo de 2023. A justificativa, porém, não resistiu ao confronto com dados expostos ali mesmo pelo colega de bancada, que rebateu a analogia ponto por ponto. A troca de argumentos virou o centro do debate porque expôs o esforço para encontrar coerência numa narrativa que nunca foi usada quando o Palmeiras vivia sua melhor fase.
Ouça nossas análises e entrevistas sobre a eleição do Flamengo no seu agregador de podcast preferido: Spotify, Deezer, Amazon, iTunes, Youtube Music, Castbox e Anchor.
Rodrigo Mattos iniciou o contraponto ao lembrar que, em 2025, o Palmeiras investiu mais do que o Flamengo no mercado. Foram aproximadamente R$ 700 milhões aplicados em reforços, financiados por vendas robustas que passaram de R$ 718 milhões. O Fla, por sua vez, não alcançou a mesma cifra e ainda assim ergueu o troféu continental. “Não houve desequilíbrio financeiro neste ano. Muito pelo contrário: o Palmeiras gastou mais e mesmo assim teve desempenho inferior”, observou. A partir desse ponto, o comentarista ampliou o raciocínio: o problema não era falta de recursos, mas o conjunto de escolhas técnicas feitas por Abel Ferreira, que apostou em jogadores mais jovens, fisicamente fortes e menos experientes em decisões, enquanto o rival montou um elenco com perfil técnico mais maduro.
PVC tentou sustentar que 2025 representaria para o Palmeiras o que 2023 significou para o rival carioca: um ciclo de reconstrução. A comparação, no entanto, não resistiu ao exame dos números. Quando o assunto chegou às escalações das finais da Libertadores, Mattos destacou que o Flamengo usou quatro jogadores contratados para a atual temporada, enquanto o Palmeiras entrou em campo com cinco. Se a quantidade de estreantes define o que seria uma transição, então as duas equipes estariam no mesmo estágio, o que enfraquece a tese de que o Rubro-Negro supostamente já teria superado seu período de renovação.
PVC reagiu tentando detalhar a origem de alguns jogadores do Flamengo, recuperando nomes da base e atletas que só ganharam espaço em 2024, mas o argumento se desfez diante da cronologia. O ano de 2023 não foi marcado por reforma estrutural no time rubro-negro. O clube vinha do título da Libertadores e da Copa do Brasil conquistados em 2022, manteve a espinha dorsal, e fez apenas uma contratação que se tornou titular no início da temporada: Gerson. As chegadas do segundo semestre: Rossi, Luiz Araújo e Allan, não alteraram o esqueleto do time. A turbulência daquele período não veio de reformulação de elenco, e sim da mudança de comando, com a saída de Dorival Júnior e a entrada de Vítor Pereira, cuja tentativa de impor novo modelo tático desarrumou a equipe.
A linha histórica ajuda a desfazer a narrativa de PVC. Em 2022, o Flamengo contratou um pacote robusto de jogadores, mas a maioria não se firmou imediatamente porque Dorival já havia acertado a equipe. Em 2023, não houve reorganização profunda, e os reforços que brilharam naquele ano haviam chegado na temporada anterior. A reformulação mais evidente ocorreu entre 2024 e 2025, quando peças como De La Cruz, Léo Ortiz, Michael, Alex Sandro, Lino e Carrascal assumiram papéis centrais. Esses movimentos, sim, configuraram transições reais, e vieram acompanhados de títulos: Copa do Brasil, Brasileiro e uma nova Libertadores.
LIVE COMPLETA:
Ao insistir que 2023 representou para o Flamengo um período semelhante ao vivido pelo Palmeiras em 2025, PVC ignorou que o Rubro-Negro, mesmo com ajustes no comando técnico, não atravessou um desmonte de elenco. A tese se torna ainda mais frágil quando confrontada com a realidade atual: o Palmeiras contratou mais, gastou mais e teve mais estreantes na final da Libertadores, mas terminou o ano sem taças. E, como lembrou Mattos, essas escolhas foram assumidas pelo próprio Abel Ferreira.
A tentativa de PVC de justificar o insucesso alviverde tomou novo rumo quando ele trouxe um dado que soou deslocado do centro da discussão: citou que o Flamengo é o primeiro elenco desde o Vasco de 2000 a reunir dez “jogadores de Copa do Mundo“. Mattos voltou a enquadrar o debate, lembrando que ninguém discutia o mérito do Fla, e sim a pertinência da comparação entre as duas equipes e a tentativa de enquadrar o Palmeiras como vítima de circunstâncias que não se sustentam nos fatos.
VEJA MAIS:
CASO PREFIRA OUVIR:
O debate tornou visível um movimento que se repete na análise esportiva. Narrativas são criadas para amortecer frustrações quando a realidade é dura demais para ser encarada. O problema é que, quando confrontadas por linhas do tempo, números de investimento e perfil técnico das equipes, essas versões desmoronam. E foi exatamente isso que aconteceu no De Primeira. Não se trata de negar que o Palmeiras viva um novo ciclo, mas de aceitar que essa mudança não explica o fracasso de 2025, sobretudo quando houve investimento recorde e escolhas assumidas.
No fim, ficou claro que Rodrigo Mattos não apenas discordou: desmontou a comparação ponto a ponto. E o debate deixou exposto o que a mesa tentou contornar. O vice do Palmeiras não se justificou. E a tentativa de colocá-lo sob o guarda-chuva da “transição” esbarrou, mais uma vez, na força dos fatos.
Veja outros vídeos sobre as notícias do Flamengo:
—
Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
+ Siga o Blog Ser Flamengo no Twitter, no Instagram, no Facebook e no Youtube.

