Reclamações das jogadoras, gramado ruim no CEFAN: por que o Flamengo levou futebol feminino pro CFZ

Reclamações das jogadoras, gramado ruim no CEFAN: por que o Flamengo levou futebol feminino pro CFZ
Foto: Mariana Sá/Flamengo

O debate em torno do futebol feminino do Flamengo voltou à tona nas últimas semanas, mas para compreendê-lo de forma honesta é preciso recuar alguns meses e organizar os fatos na ordem em que aconteceram. O que hoje aparece como polêmica isolada, envolvendo gramado, local de treino e críticas direcionadas ao CFZ, nasce de um processo mais amplo de reestruturação interna, iniciado ainda no primeiro trimestre do ano e tratado com surpreendente silêncio pela maior parte da grande mídia.


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Em fevereiro, o Flamengo tornou pública a decisão de reformular o futebol feminino. A nota oficial falava em readequação orçamentária, busca por novos parceiros e mudança no modelo de gestão da modalidade. Não se tratava de um ajuste pontual, mas de uma guinada estratégica. A equipe deixava de estar vinculada ao futebol profissional e passava a integrar a pasta de esportes olímpicos. A justificativa era financeira: segundo números apresentados internamente, a categoria custava cerca de 12 milhões de reais por temporada e gerava pouco mais de 1 milhão em receita direta.

Esse movimento, embora relevante, não virou pauta recorrente nos grandes programas esportivos. Houve reportagens, registros factuais e algumas reações nas redes sociais, sobretudo de quem acompanha o futebol feminino com regularidade, mas o debate mais profundo ficou restrito a nichos. Nenhuma mesa redonda, nenhum editorial indignado, nenhuma cobrança diária. A reestruturação seguiu seu curso quase sem ruído.

É nesse contexto que entra a mudança de local de treinos. Até então, as jogadoras utilizavam o CEFAN, da Marinha do Brasil, estrutura reconhecidamente superior em termos de instalações. O contrato, porém, se aproximava do fim e o espaço passou por obras, além de problemas no gramado relatados pelas próprias atletas. Segundo Zico em seu desabafo, ainda na gestão de Rodolfo Landim, o uso do CFZ começou em setembro de 2024 como solução logística provisória. A decisão, inclusive, teria atendido a um pedido das jogadoras naquele momento.

A cronologia ajuda a desfazer um dos principais ruídos do debate atual. O futebol feminino do Flamengo não foi levado ao CFZ de forma repentina, nem como consequência direta das mudanças anunciadas em outubro deste ano. O local já vinha sendo utilizado desde 2024, primeiro provisoriamente, depois como solução definitiva, em decisão de 2025. Essa informação, no entanto, raramente aparece quando o assunto é tratado de forma fragmentada.

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Em março, já com a nova diretoria empossada, o presidente Luiz Eduardo Baptista confirmou que a modalidade seria administrada pelos esportes olímpicos e não faria parte do escopo do diretor de futebol masculino, José Boto. Na mesma apresentação, reforçou-se o diagnóstico financeiro e a necessidade de captação de patrocínios específicos para manter a operação. Ainda assim, o clube realizou contratações pontuais para o elenco feminino no início do ano, o que indica que não houve abandono imediato da categoria, mas uma tentativa de reorganização.

O ponto de inflexão ocorre em outubro. No dia 16, uma reportagem revelou que o Flamengo planejava encerrar os investimentos na equipe adulta, priorizando a base e encerrando contratos de atletas com salários mais elevados. A saída da técnica Rosana Augusto e a possível não renovação de Cristiane simbolizavam essa nova fase. A reunião com as jogadoras foi feita para apresentar o projeto e deixar claro o redirecionamento do orçamento.

Mais uma vez, a repercussão ficou restrita. Houve reação de torcedoras, jornalistas especializados e perfis dedicados à modalidade, mas o tema não pautou os grandes debates esportivos. O silêncio chamou atenção porque se tratava, na prática, do fim de um ciclo no futebol feminino rubro-negro.

Dias depois, as imagens do CFZ ganharam protagonismo. A crítica passou a se concentrar no gramado, nos vestiários e nas condições estruturais do local. Parte das reclamações faz sentido: o CFZ não foi concebido para ser sede permanente de uma equipe profissional do porte do Flamengo, seja masculina ou feminina. Zico reconheceu isso publicamente. A inadequação, porém, não explica sozinha por que o clube optou por aquele espaço nem substitui a discussão mais ampla sobre a política adotada para a modalidade.

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Quando se observa a linha do tempo completa, fica claro que o problema não começa no CFZ. O deslocamento das atletas, os ajustes financeiros, a saída de nomes históricos e a mudança de gestão formam um mesmo enredo. Concentrar o debate apenas na estrutura física, sem contextualizar as decisões anteriores, empobrece a análise e desvia o foco do que realmente está em jogo.

O futebol feminino do Flamengo entrou em 2025 vivendo um paradoxo. Dentro de campo, acumulou títulos importantes nas categorias de base e manteve relevância competitiva. Fora dele, passou a ser tratado como um projeto deficitário, à espera de parceiros e soluções que ainda não se materializaram. O CFZ, nesse cenário, aparece mais como consequência do que como causa.

O que faltou até aqui não foi indignação pontual, mas discussão contínua. O tema só ganhou força quando imagens circularam e personagens simbólicos foram expostos. Antes disso, decisões estruturais passaram quase despercebidas. Entender por que o Flamengo levou o futebol feminino para o CFZ exige olhar para esse percurso completo, com dados, datas e escolhas, e não apenas para o recorte mais ruidoso da história.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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