Eu já tratei do assunto da elitização do futebol aqui no blog (“Contra a elitização do futebol – A nova maneira de torcer”). Nesse texto, tratei especificamente da elitização geral, usando como gancho as exigências da FIFA, entre outros pontos. Mas, a cada dia, parece que essa elitização se aproxima do nosso cotidiano — principalmente do torcedor do Flamengo, que, não importa onde o time jogue, vem enfrentando preços mínimos a partir de módicos R$ 100.
Não quero ser o defensor dos pobres e excluídos — até porque devo estar no bolo dos excluídos —, nem acho que vou mudar algo apenas colocando minha opinião neste humilde blog. O ponto que quero levantar é: por que, no novo padrão que querem dar ao futebol, não há espaço para todos?
Fazer analogias do futebol com shows de entretenimento não dá! São coisas completamente diferentes. O futebol envolve amor, paixão, sentimentos… Sentimentos que levam pessoas a fazerem loucuras, como até deixar de comer para ver o Flamengo! É errado? É! Mas quem sou eu para julgar alguém? O que não pode é quem tem condição de pagar R$ 100 ou R$ 200 por um ingresso achar normal excluir quem não pode.
Quem assiste duas vezes por semana ao mesmo show? Quem vai várias vezes ao cinema ou ao teatro para ver a mesma peça ou o mesmo filme? Mesmo com uma grande variedade de opções, todo mundo gosta de variar seu lazer. O futebol é diferente! Qual torcedor já não foi várias vezes seguidas ver o Flamengo, por pior que fosse o time, por mais previsível que fosse o resultado — seja ele bom ou ruim?
Ficam claros alguns pontos que merecem reflexão:
- Terá o Flamengo sucesso no Maracanã com preços iniciais a R$ 100?
- Em caso de público abaixo do esperado, a diretoria mandará mais jogos fora do Rio?
- Até quando os torcedores de Brasília vão aguentar pagar os preços cobrados até agora?
Acredito que o Maracanã, no domingo, terá um bom público — pelo menos da parte do Flamengo. Mas isso tem um motivo: a volta do Flamengo à sua casa, o Maracanã. E também o próprio estádio, que, para a torcida rubro-negra, ainda é novidade após três anos de reforma. Isso faz com que os torcedores façam aquele esforço a mais para ir ao jogo. Mas e depois? Será que um Flamengo x Criciúma a R$ 100 terá um bom público? Será que, se o time estiver mal, os torcedores de Brasília terão coragem suficiente para pagar R$ 100 ou R$ 200 em um ingresso?
O presidente Eduardo Bandeira de Mello, em entrevista ao Arena SporTV, deixou claro que vão continuar explorando esse potencial da torcida de Brasília.
É uma faca de dois gumes. E nem concordo com esse papo de que, em jogos de menor porte, os preços serão mais baixos. Ou o povo vai ter que se contentar com jogos como Flamengo x Criciúma, enquanto a classe alta curte os clássicos? Isso é exclusão!
Eu mesmo, hoje, estou repensando como farei para torcer pelo Flamengo. Me acostumei a ver o Flamengo nos estádios com certa frequência, sempre respeitando minhas condições. Não dá para pagar R$ 100 só no ingresso. Sabemos que os gastos vão além. Vou ao jogo no domingo, mas, sinceramente, não sei se volto.
Não sou contra o novo público, nem contra a nova maneira de torcer que querem nos enfiar goela abaixo. Apenas defendo que o povo — aquele cara da geral, das cadeiras, dos que vão a todos os jogos do Flamengo — possa ter seu espaço e preços mais acessíveis. Também sei que o Flamengo precisa de dinheiro, que não pode ter prejuízos nos jogos em que é mandante. Mas não será afastando seu torcedor que o clube vai pulverizar a dívida acumulada por gestões amadoras ao longo de décadas — muito menos atrair novas adesões ao Sócio-Torcedor com esse discurso!
A Muralha Amarela do Borussia Dortmund, da Alemanha
Temos exemplos de grandes clubes no Brasil e na Europa que garantem acesso a todas as classes da torcida. Em jogos do Corinthians, é possível encontrar ingressos a R$ 30 ou R$ 40. O Borussia Dortmund, da Alemanha — finalista da última Liga dos Campeões — destina um espaço para que sua torcida possa torcer em pé, com bandeiras, mosaicos e preços equivalentes a R$ 25. É a famosa Muralha Amarela. Por que o Flamengo não pega bons exemplos de seus adversários?
Fui obrigado a discordar do amigo Arthur Muhlenberg, em seu texto no Urublog (“Living In a Material World”), no qual ele diz a seguinte frase:
“Flamengo não é mais só pra quem quer, Flamengo agora é pra quem pode.”
Não! O Flamengo é pra quem quer, pra quem pode, e — acima de tudo — pra quem é Flamengo!
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