O Maracanã, palco de gols históricos, finais de Copa do Mundo e shows que marcaram gerações, voltou ao centro de discussões políticas e administrativas no Rio de Janeiro. Deputados estaduais aprovaram recentemente a inclusão do complexo esportivo na lista de imóveis que a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) autorizaria o governo estadual a vender, uma movimentação que desperta debates sobre legalidade, interesses políticos e o papel do Flamengo nesse cenário.
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O relator do projeto, deputado Alexandre Kinoplock, explicou que a inclusão do Maracanã se deu após ajustes na lista original de 47 imóveis, que passou para 62, mantendo apenas parte dos bens originalmente propostos. Entre os retirados estão unidades de relevância social, como a Escola de Música Villa-Lobos e a Casa Almerim da Gama. O parlamentar destacou ainda que o Flamengo vê a operação com bons olhos, embora a posição do clube não tenha sido formalizada.
O estádio, inaugurado para a Copa de 1950, carrega um valor simbólico que ultrapassa os limites esportivos. O estádio tornou-se ponto turístico e símbolo cultural do país, o que coloca qualquer iniciativa de venda sob um olhar atento da sociedade e de especialistas em patrimônio público. “É um bem público estadual, destinado à prestação de serviço público e uso esportivo. Enquanto mantiver essa condição, o Maracanã não pode ser alienado”, alerta Hermano Carbenite, especialista em direito público.
A situação se complica pela concessão vigente: Flamengo e Fluminense têm o direito de uso do estádio e do ginásio do Maracananzinho até 2044. Outros espaços do complexo, como o parque aquático Júlio Delamare e o antigo estádio de atletismo Célio de Barros, permanecem sob administração estadual, com reformas recentes no primeiro e adaptações para estacionamento no segundo, esta última sob investigação do Ministério Público Federal por se tratar de patrimônio tombado.
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O debate, porém, não se limita à viabilidade financeira. Analistas apontam que a movimentação legislativa possui motivações eleitorais claras. O relator do projeto é aliado de Rodrigo Bacelar, presidente da Alerj e pré-candidato ao governo do Rio, em possível confronto com o prefeito Eduardo Paes em 2026. A inclusão do Maracanã na lista coincide com a tensão entre o governo estadual e Bacelar, evidenciando que a venda do estádio pode beneficiar interesses políticos mais do que resolver questões orçamentárias.
Para o Flamengo, a perspectiva de adquirir o Maracanã envolve desafios financeiros e jurídicos. A estimativa inicial de valor do complexo gira em torno de R$ 2 bilhões, mas reformas estruturais e condicionantes de uso público elevariam esse custo. Além disso, qualquer aquisição precisaria garantir que o clube liberasse o estádio para outros times, algo parecido com a atual licitação, algo que cria limitações administrativas e operacionais.
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A diretoria rubro-negra mantém prudência. Embora o deputado Kinoplock afirme que o clube vê a operação com bons olhos, ainda não há posicionamento oficial. Especialistas e integrantes da sociedade civil questionam a legalidade de uma venda que alteraria a natureza do uso do Maracanã, um patrimônio público destinado ao esporte e lazer da população.
Enquanto a proposta tramita na Alerj, aguarda-se a análise de emendas, substitutivos e a eventual aprovação em plenário, seguida da sanção do governador. A complexidade do processo e os interesses cruzados tornam evidente que a discussão sobre o Maracanã vai muito além de cifras, envolvendo identidade cultural, política e esportiva do Rio de Janeiro.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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