100 anos de Flamengo x Botafogo – “BOTAFOGO, NÓS GOSTAMOS DE VO-SEIS”*

Trazemos hoje o texto de um ilustre convidado: Paulo César Pereira, o PC, do blog Falando de Flamengo, que nos abrilhanta com um grande texto para a série 100 anos de Flamengo x Botafogo. Confiram:
O ano: 1913. O dia: 13 de maio. No estádio de General Severiano, Flamengo e Botafogo se enfrentaram pela primeira vez numa partida de futebol. A “cachorrada fedorenta” levou a melhor, e o Flamengo só conseguiria sua primeira vitória dois anos depois, em 1915. Desde esse primeiro confronto, foram 107 vitórias contra 92 do monocromático, em 297 partidas disputadas. Nada mais, nada menos que 462 gritos de gol em cima do alvinegro. Foram cinco decisões de Campeonato Carioca (1962, 1989, 2007, 2008 e 2009) e uma do Brasileiro (1992).
Num clássico de tamanha rivalidade e de tantas histórias, cada torcedor do Flamengo deve ter o seu preferido, seja lá por qual motivo for.
Tenho 39 anos. Não vi o Flamengo de Dida, Zizinho, Zagallo, Jordan, Valido, Evaristo e tantos outros que certamente deram muitas alegrias ao meu falecido pai. Sou da geração Zico, Júnior, Leandro, Andrade, Adílio, Raul, Mozer, Rondinelli, Nunes… E meu Flamengo x Botafogo preferido só poderia ser aquele do dia 8 de novembro de 1981, que tive o prazer e a honra de presenciar aos 7 anos de idade. Sim, eu lembro. Lembro como se fosse ontem. Lembro da euforia da massa e das lágrimas de felicidade do meu pai.
O Flamengo chamava a atenção pela troca de posições entre seus jogadores. Lico e Tita se revezavam pelos lados, os laterais avançavam pelo campo todo, Adílio jogava pela esquerda e Zico tinha fôlego para ajudar na defesa.
Aos 7 minutos, numa jogada que começou com Lico pela direita, Adílio cruzou perfeito na cabeça de Nunes, que fez o primeiro gol da partida.
27 do primeiro tempo: Adílio ataca pela esquerda, Zico chuta da entrada da meia-lua, a bola rebate no zagueiro Jorge Luiz e volta pra ele, que, com o joelho direito, dá um toque para o pé esquerdo e bate cruzado, fazendo o segundo. Golaço!
O clima já era de matar a partida ainda no primeiro tempo, e, aos 33 minutos, a bola rolava fácil quando Júnior passou para Zico, que tocou para Nunes, que devolveu para Lico. Chute forte. Terceiro gol! Delírio da galera, que já pedia “seis”! O alvinegro mal vestido já esperava pelo pior.
39 minutos: falta pela esquerda do gol de Paulo Sérgio. Zico cobrou na cabeça de Adílio, que marcou o quarto. “Queremos seis! Queremos seis!” — gritava a torcida do Mengão, ávida pela vingança. Seria a resposta àquela goleada de 1972, com a qual meu pai nunca se conformou.
Veio o segundo tempo e o Flamengo voava em campo. O time inteiro se empenhava para fazer a alegria da massa. A superioridade era tão grande que, aos 17 minutos, o Flamengo já poderia ter marcado mais dois gols, com Lico e Zico.
Aos 29, Zico toca para Adílio, que invade a área pela esquerda e é derrubado por Rocha. Pênalti para o Flamengo! Gol! Zico bate no canto esquerdo do goleiro e a bola entra lindamente, lambendo a rede! 5 x 0 para o Rubro-Negro! A galera, ensandecida, pedia o sexto!
Agora era tudo ou nada. A massa, o time, a Nação queriam o sexto gol. Tremenda pressão no Maraca. Aquele gol tinha que sair. Era questão de tempo…
Sim, o Flamengo levou dois sustos enquanto o placar insistia em permanecer 5×0. Primeiro com Mirandinha, que fez um carnaval dentro da área, chegando a passar por Figueiredo; depois, com Jairzinho, que chutou cruzado para uma bela defesa de Raul.
41:30… Que troca de passes de primeira! Que entrosamento! Dava gosto de ver. Andrade para Adílio. Adílio para Lico. Lico para Andrade. Andrade novamente para Adílio, que cruza. Corte da zaga para fora da área… Que ironia do destino! A bola foi parar nos pés do camisa 6 daquela antológica geração de campeões. Andrade, de fora da área, pegou na veia! Indefensável! Gol! Sexto gol! Vingança! Nirvana! Delírio! Catarse nas arquibancadas do então maior estádio do mundo!
Acabou! Quase 9 anos depois, pudemos gritar: “Enfiem a faixinha de provocação em vossos rabos, cachorrada!”
Naquele dia, 6 foi melhor que 7! Bastava esperar o tempo passar e aguardar o apito final. E foi isso que aconteceu. Sem dúvida, nesse dia 8 de novembro de 1981, a torcida do Flamengo entrou em campo e jogou através dos pés dos nossos craques. 35 dias depois, fomos a Tóquio meter três no Liverpool e gritar: É CAMPEÃO!
No dia em que o clássico Flamengo x Botafogo completa 100 anos, afirmo sem medo de ser feliz: aquele 6 x 0 foi o jogo mais foda desse confronto.
Que venham mais 100 anos com o Mengão sempre levando a melhor!
SRN!
PC Pereira
FICHA TÉCNICA
8 de novembro de 1981 – Maracanã
Flamengo 6 x 0 Botafogo
Árbitro: Édson Alcântara do Amorim (MG)
Renda: Cr$ 15.031.600
Público: 69.051
Gols:
1º tempo: Nunes (7’), Zico (27’), Lico (33’), Adílio (40’)
2º tempo: Zico (pênalti, 30’), Andrade (42’)
Cartões amarelos: Júnior e Perivaldo
Flamengo: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.
Técnico: Paulo César Carpegiani
Botafogo: Paulo Sérgio, Perivaldo, Gaúcho, Osvaldo e Jorge Luiz; Rocha, Mendonça e Ademir Lobo; Édson (Jairzinho), Mirandinha e Ziza.
Técnico: Paulinho de Almeida
Fonte: Jornal dos Sports – 09/11/1981
Acompanhe a nossa série:
- Série 100 anos do Clássico Flamengo x Botafogo
- Decisão da Taça Guanabara de 1995 – Flamengo 3 x 2 Botafogo
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