#1AnoDoBi – A energia sobrenatural do Flamengo

O tempo passou, na verdade “voou”, e chegamos à data em que comemoramos o primeiro aniversário de um ano do bicampeonato da Taça Libertadores da América. E aqui, sem chamá-la como atualmente ela é, como a CONMEBOL quis que passa-se a ser (CONMEBOL Libertadores). Ela que foi fruto de desejo do torcedor rubro-negro por anos a fio. Se você tem mais de 40 anos, chegando a uns 50, considere-se sortudo, por ter visto, mesmo que bem criança, o rei Zico acabar com o Cobreloa, meter um golaço de falta na final da América em 1981. Eu, assim como boa parte da torcida, não vi isso, só nasceria dez anos depois, e o primeiro título grandioso que vi o Flamengo conquistar, foi o Brasileiro de 2009, com Pet e Adriano Imperador decidindo.

E aí, desde 2001 acompanhando o futebol como um todo, eu via o São Caetano quase chegando lá, o São Paulo, do nosso atual técnico Rogério Ceni vencendo, Corinthians (que foi piada por muito tempo), Atlético Mineiro… Muita gente passava em frente aos meus, aos nossos olhos, e vencia a temida “Liberta”, como carinhosamente passamos a chamá-la. E a gente se perguntava: “Quando o Flamengo chegará aí também? Quando será nossa vez?”

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Em 2002, uma campanha fraquíssima, depois de conquistar a Copa dos Campeões em 2001, caindo na fase de grupos em 2002. Depois disso, passamos anos vivendo de estadual e sonhando com a Copa do Brasil, pois no Brasileiro penávamos pra alcançar um 8º lugar. G4? Era coisa impensável. Não que a gente não quisesse, mas que o Flamengo, como clube, não fazia por onde.

Veio 2007, após a conquista da Copa do Brasil, montamos um time “mediano” para a época, e conseguimos fazer bonito na fase de grupos e alçar as oitavas. O sonho de todo rubro-negro, ainda mais no Maracanã antigo, voltava a plenos pulmões. Classificação com uma das melhores campanhas da primeira fase e lá vinha o Defensor do Uruguai. Que não era um time bom, longe disso! Mas que no primeiro jogo, meteu 3-0 no Flamengo e complicou nossa vida na volta. Saímos, é verdade! Mas a que preço? Com a mão grande e gorda do senhor Hector Baldassi, fazendo uma arbitragem escandalosa e tirando o Flamengo das oitavas na maior cara de pau já vista, e dentro do Maracanã. Sorte a dele que não era no Maracanã atual, com a torcida colada ao campo! Aí parte de mim, pensa: “Mas se o Flamengo passa e vai avançando, na final era o Boca de Roman Riquelme… Seríamos trucidados, basta ver o que ele fez ao Grêmio!” Mas o Flamengo não trabalha com a normalidade, não. E no fim desse texto, vai haver o motivo!

Se em 2007 caímos nas oitavas, em 2008, o filme poderia ter sido bem melhor, mas foi pior, de outro contexto. Um time bonito de se ver, melhor do que em 2007 e que tinha um treinador que amava aquele grupo, o velho “Papai Joel”. Um goleiro consolidado, uma dupla de zaga que junta, não ganhou nada relevante, mas que entrou para a história do Flamengo, cada um à sua maneira. Dois laterais, dos melhores que já passaram pelo clube. E aqui deixando de lado a minha visão sobre um deles, pois o Flamengo tá acima, e eu não posso confrontar a história do clube. Enfim, um belo elenco mas que sucumbiu à soberba e caiu de maneira bizarra, dentro do Maracanã, para o possante América do México de Salvador Cabanas.

O Flamengo sairia num 3-0 impiedoso para uma fase expressiva da sua história. Saiu da Libertadores 2008 para passar por umas crises de transições, remodelar o elenco e em 2009, ser campeão brasileiro, 17 anos depois e na última rodada do campeonato de pontos corridos, com ídolos voltando a vestir o manto sagrado e o imponderável acontecendo – que, repito, o Flamengo não trabalha com a normalidade.

E aí a nova década entra: anos 2010. Flamengo recém campeão brasileiro, visto no continente como um dos campeões nacionais, disputando mais uma Taça Libertadores, nos moldes antigos e que carregava aquela mística mais pesada (a verdadeira), pra mim, sem o glamour de agora. Num grupo com Universidad Católica, Universidad de Chile e Caracas. Fazendo esse texto apenas com a memória da mente de rubro-negro, sem pesquisa, arrisco que eram dois chilenos e um venezuelano. O Flamengo começou bem, vencendo os dois primeiros jogos, uma classificação que parecia certa, e conseguimos nos complicar, mas avançamos na “bacia das almas”, como um dos melhores terceiros colocados.

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Chegamos às oitavas e o Corinthians vinha pela frente. Naquela época, era uma tremeda chatice enfrentá-los. Era o time que se preparava para, em dois anos, almejar o máximo da sua história e que sucumbiu ao Flamengo, no Pacaembu, com Vágner Love os eliminando, mesmo vitoriosos… tiveram que ouvir a festa na nação rubro-negra que voltava às quartas de final da Libertadores depois de décadas. Porém nas quartas, o Flamengo que guerreou na casa do adversário e ainda venceu um time que estava invicto (a Universidad de Chile, depois conhecida como La U), sentiu o peso da fase da competição e foi derrotado na partida de ida, no Maracanã. Aquele ano, se não fossem alguns detalhes e projetando como a competição terminou depois, enfrentaríamos o Chivas e depois o Internacional, na decisão. Mas não deu e seguimos a vida até retornar em 2012, com mais um vexame na fase de grupos, e uma fase de transição de diretorias, de pensamentos, de projeções para o futuro.

Em 2013 o Flamengo deu um passo atrás, “se despiu” das vestimentas caras que até então usava e decidiu ir em frente rumo a um futuro melhor com o mínimo. Apanhou muito, mas também venceu um pouquinho quando decidia guerrear com os demais. Venceu pela terceira vez a Copa do Brasil e voltou à Libertadores em 2014. De novo, para cair na fase de grupos… 2015 brigando contra rebaixamento mesmo com um time que podia brigar lá no alto e até ensaiou tal feito. 2016 brigando pelo título brasileiro, já com um nome que depois faria história. 2017, decidiu resgatar o ano máximo através de uma das mais lindas canções de arquibancada. Falando que em dezembro de 81 havíamos colocado os ingleses na roda, e que agora o seu povo pedia o mundo de novo.

Aquele ano, a torcida começou a cantar essa música no Maracanã e era nítido uma energia diferente que ia ao campo. Mas… mais uma vez, o Flamengo fez feio na hora da chegada, e caiu na fase de grupos. Num ano em que disputou duas finais e perdeu ambas. A torcida clamava por um título, seria bom também para as finanças do Clube de Regatas do Flamengo, que, mesmo sem estar mais tanto no vermelho, iria engordar e ajudar os cofres do clube e atualizar o nosso museu.

Em 2018, mais uma vez a vaga nas oitavas, e mais uma vez um vexame nela. E vinham de diversos lugares a dica: “o Flamengo precisa se impor se quiser ganhar. Não dá pra entrar numa Libertadores e o adversário falar que você não tinha a intensidade que a Libertadores pedia (frase se referindo ao dia em que Lucas Pratto falou sobre a maneira como foi marcado, quando, na fase de grupos de 2018, Flamengo e River Plate se enfrentaram no Engenhão e empataram em 2-2)”

E em 2019, o momento tão esperado e grandioso chegava, e a gente nem fazia ideia. Alguns previram e acertaram, dizendo que quando o Flamengo mudasse de gestão, seria campeão no mesmo ano. O fato realmente ocorreu, e em dobro, mas aqui irei focar apenas no campo ao lembrar os acontecidos.

2019 chegou e tirou todo e qualquer rubro-negro do eixo. Um timaço que foi montado pra ganhar tudo, e ganhou! Só não trouxe o mundo de novo por uma dose de azar, mas trouxe aquilo que a gente tanto sonhava durantes anos. Que quem viu em 1981, teve que esperar injustos 38 anos para ver de novo, a metade de uma vida.

Uma classificação suada na fase de grupos com um time que já mostrava que podia chegar longe quando enfiou 6 a 1 no San José no Maracanã, mas que suou pra empatar com o Penarol no Uruguai e classificar às oitavas. E mais uma vez nas oitavas e com um técnico europeu no comando, era a hora do Flamengo mostrar que podia ir longe, que tinha chegado sua hora e não iria haver desperdício.

Rolou uma maré ruim no início, é verdade, mas quando Jorge Jesus entendeu o que tinha que fazer, a coisa fluiu. E fluiu de uma maneira monstruosa. A Libertadores que foi sofrimento por anos e anos e até o último pênalti cobrado por Queiroz, do Emelec, explodindo na trave, virava esperança e alívio. No meu caso, por ter vivido um sofrimento sem tamanho por décadas, ali foi o primeiro choro.

Reforços chegaram, e o Flamengo foi montando uma espinha dorsal espetacular que nunca mais será esquecida por nenhum rubro-negro: Diego Alves; Rafinha, Pablo Marí, Rodrigo Caio e Filipe Luís; Arão, Gerson; Arrascaeta, Bruno Henrique e Everton Ribeiro; Gabigol.

E ficou difícil, quase impossível parar os coringas do Flamengo, Gabigol pedia todo jogo, pediu contra o Emelec e pediu contra o Inter, no Beira Rio. Eu chorava mais uma vez após o gol, quando o time voltou ao meio-campo e só se ouvia a torcida do Flamengo em solo gaúcho. O Flamengo chegava na semifinal da América, e eu nunca tinha visto aquilo.

Um mês nos separou da semifinal diante do Grêmio de Renato Gaúcho. Nesse meio tempo, Diego Ribas havia ferrado a perna contra o Emelec e era praticamente impossível que voltasse para a Libertadores. As previsões mais otimistas chutavam para janeiro. E, segundo o próprio jogador já falou, ele fez o que pôde pra voltar antes e estar na semifinal.

O primeiro jogo dessa semifinal, um massacre, mesmo com um placar de 1-1, o Flamengo mandou no jogo diante do Grêmio e teve três gols anulados, dois marcados por Gabigol e um por Everton Ribeiro.

No jogo da volta no Maracanã, um verdadeiro atropelo depois dos 40 minutos de um primeiro tempo truncado. Um 5-0 e a vaga na final depois de 38 anos. Seria em jogo único, a princípio em Santiago, no Chile. Mas devido a conflitos que estavam havendo no país, a CONMEBOL levou o jogo para Lima, no Peru.

E, assim como em 1981, no mesmo 23 de novembro, em 2019, o Flamengo chegava à decisão, contra o River Plate de Marcelo Gallardo, de Armani, de Pratto e de Pinola. Os dois “P”s que decidiriam naquele dia, cada um em um lance.

Um gol sofrido aos 15, dos pés de Borré, um Flamengo assustado no primeiro tempo, e um Flamengo que desafiou tudo o que podia no segundo tempo. Como não chorar ao ouvir João Guilherme perguntar “quem foi que disse, um dia, que o Flamengo não tem tradição na Copa Libertadores da América?”? E como não se derramar em lágrimas ao ouvir a narração dele nesse gol? O “IH, IH, OLHA A VIRADA, GABRIEL! INCRÍVEL, INCRÍVEL, TOCA A MÚSICA, É GOL DO MENGÃO. ÉPICO MEMORÁVEL!”

Luiz Penido também foi o autor de uma das melhores narrações desse dia, dessa final histórica.

E agora voltando ao ponto do início do texto: o Flamengo não é o futebol normal, e nesse dia, provou isso! O que aconteceu em Lima não foi o futebol normal, foi a energia sobrenatural do Flamengo agindo e virando aquele jogo. Fazendo Lucas Pratto perder a bola na defesa e depois Pinola errar a primeira vez no jogo. E Gabigol chicotear a bola e ela entrar, depois de ele passar o jogo inteiro apagado.

No fim, a cena maravilhosa de Marcos Braz e Jorge Jesus abraçados a Berrío entrando no campo e gritando, comemorando o título. Ali perto, Bruno Henrique caindo no gramado e chorando sem acreditar.

Hoje, celebramos um ano do maior dia das nossas vidas, e que, quem sabe, daqui dois meses estejamos celebrando o terceiro título, e no Maracanã. É torcer para que o nosso time nos leve até lá, e que, se der também, a ciência chegue a uma solução para essa doença que tá assolando o mundo.

Parabéns a todos nós, bicampeões da América em 2019!

Por Germano Medeiros (@germanofmedeiros)

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Tulio Rodrigues