A FUNDAÇÃO – NASCE O MAIS QUERIDO E CURIOSIDADES – 130 ANOS DO FLAMENGO
Para celebrar os 130 anos do Flamengo, vamos fazer uma série de vídeos com os principais acontecimentos da sua história. Hoje, vamos falar da fundação.
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Em 1895, o Brasil vivia sob a República Velha. O Rio era a capital Federal e recebia um grande fluxo migratório de ex-escravizados e imigrantes europeus. Vale lembrar que a abolição ocorreu em 1888. Havia uma dualidade na sociedade: a elite recebia forte influência europeia e de ideais da Belle Époque francesa, frequentando locais luxuosos como a Confeitaria Colombo, que também teria ligação com o Flamengo. As camadas populares tinham ocupação nos cortiços e nos morros. Nos salões populares, a música dava o tom com o tango brasileiro, a polca, o lundu, o choro… As raízes afro-brasileiras irradiavam em bairros como a Pequena África, na região da Cidade Nova. Aqui, uma complexa combinação: a cultura oficial festiva e cortesã, e uma cultura popular vibrante em transformação.
Machado de Assis, que atuava na imprensa e na literatura, tinha um papel fundamental ao documentar em suas crônicas e romances a hipocrisia da sociedade carioca.
O saneamento era um problema grave, o que fazia com que o Rio fosse quase insalubre de viver na época. As doenças epidêmicas eram um problema e a infraestrutura urbana ainda estava se consolidando.
No esporte, o remo era o mais popular e socialmente aceitável. Era sucesso entre a elite e a classe média. O futebol ainda engatinhava e estava longe do prestígio que atingiria nos anos vindouros.
Era nesse contexto que Nestor de Barros, José Agostinho Pereira da Cunha e Mário Spínola pensavam em criar um grupo de regatas no Flamengo. O socavão do casarão do 22, local que Nestor alugava um quarto, já era planejado para ser o barracão para os barcos.
A ideia surgiu enquanto viam a “Étincelle”, baleeira de seis remos do Botafogo, aproximar-se da praia e chamar a atenção das moças. Mas, além disso, havia o encanto com o barco que “dançava ao sabor das ondas”, como disse Mario Filho. José Agostinho a adorava.
Os três praticamente viram o Botafogo nascer um ano antes, em 1894, e também viram surgir os grupos de regatas nas praias de Gragoatá e Icaraí, no início de 1895, do outro lado da Baía de Guanabara. Logo, a Praia do Flamengo precisava do seu grupo de remo.
CASO PREFIRA OUVIR:
Durante a semana que antecedia o 17 de novembro, Nestor de Barros trabalhou fortemente na divulgação. Junto com José Agostinho e Mário Spínola, se encontrou no Parque Fluminense com Napoleão de Oliveira, Francisco Lucci Colás, Felisberto Laport, José Maria Leitão da Cunha, Carlos Sardinha, Eduardo Sardinha, Desidério Guimarães, George Leuzinger, Emygdio Pereira e José Félix. O recado era certo: “Olha, domingo, não falte.”
No domingo, dia 17 de novembro, Nestor de Barros já havia deixado tudo preparado: comprou livro de atas, livro de presenças… Ainda houve a ideia de fazer um ofício para cada associado do grupo. Às 15 horas, os futuros fundadores do grupo iam chegando e assinando o livro de presença no socavão do casarão do 22, local onde Nestor morava e que ele vinha negociando com seu Vieira, proprietário, para ser a sede dos barcos. Napoleão de Oliveira chegou a falar: “O começo do Flamengo é pobre. Quem sabe, talvez algum dia, o Flamengo deixe de ser um grupo de regatas, transformando-se em um clube, um grande clube. Tudo é possível.” Mal sabia ele no que se transformaria o Flamengo.
Defronte à Scyra, o novo barco comprado, sentavam-se de um lado: Nestor de Barros, Mário Spínola, José Agostinho Pereira da Cunha, Napoleão de Oliveira, Lucci Colás, José Maria Leitão da Cunha e Carlos Sardinha. Do outro: Eduardo Sardinha, Desidério Guimarães, George Leuzinger, Felisberto Laport, Emygdio Pereira e José Félix da Cunha Menezes.
Quando a cerimônia estava para começar, Mário Spínola avistou Domingos Marques de Azevedo, um guarda-marinha que seria promovido a oficial como segundo-tenente 11 dias depois. Ao entrar no socavão, reconheceu outros amigos e topou entrar para o grupo. Nestor começou a assembleia. Leu o livro de presenças e fez a primeira deliberação da história do clube: que a data de fundação do grupo fosse no dia 15 de novembro, por ser feriado e ser uma data ligada à história do Brasil. Aprovado por unanimidade.
Em seguida, a diretoria. Por sugestão de Mário Spínola, Domingos Marques de Azevedo foi eleito o primeiro presidente do Flamengo por aclamação, com Lucci Colás como vice, Nestor de Barros como secretário e Felisberto Laport como tesoureiro. Ainda na mesma reunião, foram definidas as cores do Flamengo: o azul do céu e do mar, e o dourado das riquezas do Brasil.
“Está fundado o Grupo de Regatas do Flamengo”, decretou Nestor de Barros.
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Assinam a ata de fundação do Flamengo: Carlos Sardinha, Eduardo Sardinha, José Maria Leitão da Cunha, Georges Leuzinger, Felisberto Cardoso Laport, Mário Spínola, Francisco Lucci Colás, Domingos Marques de Azevedo, Nestor de Barros, José Agostinho Pereira da Cunha, José Félix da Cunha Menezes, Napoleão Coelho de Oliveira, Desidério Guimarães, Emygdio José Barbosa, Augusto Lopes da Silveira, José Augusto Chalréo, João de Almeida Lustosa e Maurício Rodrigues Pereira. Os quatro últimos não estavam na reunião, mas assinaram a ata de fundação.
Nos dias seguintes, no Café Lamas, ainda localizado no Largo do Machado, sob as canetas de Nestor de Barros, José Agostinho, Mário Spínola, Zé Félix, Lucci Colás, Felisberto Laport e Napoleão Oliveira, passou-se a escrever o primeiro estatuto do grupo. Também se definiu a bandeira.
O diálogo teria acontecido assim, segundo Mário Filho:
— A bandeira deve ter azul — disse José Agostinho —, azul-celeste, cor da Guanabara.
— E deve ter ouro. — Mário Spínola viu uma bandeira azul e ouro. — Eu gosto da cor do ouro.
José Félix também gostava do ouro.
— E umas âncoras, hein? Não ficariam mal umas âncoras. — Felisberto Laport sorriu, pensando em duas âncoras entrelaçadas.
E ali mesmo se decidiu que a bandeira do Flamengo seria “de cor azul-celeste e ouro, em listras largas, tendo os cantos pretos, com duas âncoras vermelhas”. Este estatuto depois foi entregue ao clube, em 1939, por José Agostinho.
Datas e dados históricos importantes:
- A estreia do Flamengo em competições foi no dia 15 de dezembro de 1895, em Niterói. O clube utilizou um uniforme alternativo. Ficou em terceiro, último lugar. Noticiou assim o “Sport”:
“Rio de Janeiro-Sabbado, 14 de Dezembro de 1895,
Cidade do Rio
Sport
Fundou-se nesta capital um nouo club de regatas sob o título de Club de Regatas Flamengo.
A directoria eleita em assembléa geral dos socios, compõe-se dos Srs. Domingos José Marques, presidente; Francisco Colás, vice-presidente; Felisberto Laport, tesoureiro e Nestor de Barros, secretario.
A séde do Club é na praia do Flamengo, 22.
O novo Club toma parte na regata que o Club Garagoatá realisa amanhã em Nictheroy.”
- Tempos depois, os fundadores incluíram uma cláusula pétrea ao estatuto: as embarcações só podiam ter nomes indígenas e não mais nomes gregos, como Pherusa e Scyra.
- Elisa, conhecida como Lili, esposa de Augusto Lopes da Silveira, foi quem confeccionou a primeira bandeira que o Flamengo hasteou em competições.
- A primeira medalha aconteceu em 15 de novembro de 1896, em Paquetá. O Flamengo ficou em segundo lugar e ganhou a medalha de bronze. A canoa usada foi a Cecy, com Maurício Rodrigues, Mário Spínola, Nestor de Barros, Felisberto Laport e José Augusto Chalréo.
- Na assembleia de 23 de novembro de 1896, a que reelegeu Domingos Marques de Azevedo como presidente, o clube aprovou a troca das cores azul e amarelo pelo vermelho e preto. A sugestão foi de Nestor de Barros. Algumas publicações apontam também que Elisa, esposa de Augusto Lopes da Silveira, e quem confeccionou a primeira bandeira do clube, foi quem também sugeriu a troca das cores para rubro-negro.
- Em 1900, nas Regatas do IV Centenário do Descobrimento do Brasil, o Flamengo, com a Tymbira, conquistou o seu primeiro troféu, o Tropon. Os heróis rubro-negros foram Pedro Pinto Lima, Álvaro da Costa, Álvaro Tourinho, Edmundo Furtado e Jordano Laport.
- Em 1901, pela primeira vez na história, o Flamengo competiu com as iniciais bordadas no peito do Manto Sagrado. A guarnição utilizada foi a Ypiranga, e os remadores foram Curvello Júnior, Álvaro da Costa, Rubens Leitão, Franklin Pacheco, Alfredo Cardoso, Francisco Araújo, José Marinho e Mariz Pinto.
- Em 1902, por sugestão do poeta Mário Pederneiras, o Flamengo fez uma alteração no estatuto e deixou de ser grupo, para ser Clube de Regatas do Flamengo.
Texto/Roteiro/Edição: Tulio Rodrigues
Fontes de pesquisa:
Livros:
Histórias do Flamengo – Mario Filho – Link para comprar
Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro – Roberto Moura – Link para comprar
O vermelho e o Negro – Ruy Castro – Link para comprar
Me Arrebata Vol. I – Maurício Neves de Jesus e Renato Dalmaso – Link para comprar
Artigos acadêmicos:
- Música e músicos nos teatros do Rio de Janeiro (1890-1920): trânsitos entre o erudito e o popular
- O esporte no contexto cultural do Rio de Janeiro do final do século XIX: um projeto de pesquisa
- Política e poder no Estado do Rio de Janeiro na República Velha
Sites:
- Museu do Flamengo: Número 22 da Praia do Flamengo
- Site do Flamengo: Por que o Flamengo?
- Buteco do Flamengo: A República Paz e Amor
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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