A verdade sobre a Copa União 1987 – Parte 2

A verdade sobre a Copa União 1987 – Parte 2

A verdade sobre a Copa União de 1987 – A campanha completa, o time desacreditado, os problemas nos bastidores, a superação de Zico, a arrancada histórica… Saiba como foi a trajetória do tetracampeonato brasileiro do Flamengo.

O campeonato acontecia mesmo com todo o imbróglio em torno dele. O Atlético-MG era o grande favorito. O Flamengo, mesmo com uma grande equipe, não despontava como candidato ao título: Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho. O técnico que iniciou no comando foi Antônio Lopes. Essa equipe, que tinha quatro jogadores que seriam tetracampeões mundiais com a Seleção Brasileira em 1994, era tida como comum. Ainda na reserva, o Flamengo contava com um jogador que seria titular na Copa dos EUA em 1994: o zagueiro Aldair.

O início da campanha não foi animador. Estreando na competição em casa, o Flamengo perdeu por 2 x 0 para o São Paulo — resultado que culminou na demissão de Antônio Lopes. Em seu lugar, o Flamengo trouxe Carlinhos. Na segunda rodada, veio o clássico contra o Vasco. Contando com a volta dos veteranos Leandro e Edinho, o Flamengo venceu por 2 x 1, com gols de Bebeto e Zico. Na sequência, o time ficou três rodadas sem vencer: empatou em 0 x 0 com o Santos no Pacaembu, perdeu para o Internacional por 2 x 0 no Beira-Rio e para o Fluminense por 1 x 0 no Maracanã. O Flamengo só voltou a vencer na rodada seguinte, e de virada, ao bater o Coritiba por 3 x 1. Os gols foram de Vagner (contra) e Kita, que marcou duas vezes. Até o fim do primeiro turno, o Flamengo não venceu mais: empatou em 1 x 1 com o Goiás, no Serra Dourada, e em 0 x 0 com o Cruzeiro, no Maracanã.

No primeiro turno da Copa União, o Flamengo ficou em sexto lugar, com duas vitórias, três empates e três derrotas. Marcou seis gols e sofreu oito.

O esforço de Zico

Vale ressaltar o grande esforço de Zico para jogar aquela Copa União. Ainda sem estar 100% recuperado da maldosa entrada que sofreu do zagueiro Márcio Nunes, do Bangu, em 1985, Zico fazia uma verdadeira maratona para entrar em campo. No primeiro turno, ele atuou apenas nas quatro primeiras rodadas, contra São Paulo, Vasco, Santos e Internacional. Coincidência ou não, Zico voltou apenas na quarta rodada do segundo turno, no jogo contra o Palmeiras — e não saiu mais da equipe até a conquista do título.

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A arrancada

O Flamengo estreou no returno contra o Botafogo, num Maracanã lotado com 73.461 presentes. Venceu com gol de Jorginho, de cabeça, após escanteio cobrado por Bebeto. Na rodada seguinte, empatou com o Grêmio em 1 x 1 no Maracanã. O gol rubro-negro foi de Andrade. Na terceira rodada, enfrentou o “bicho-papão” Atlético-MG, que nos venceu no Mineirão por 1 x 0 — essa foi a última derrota do Flamengo na competição.

A importância de Renato e a humildade de Zico

Sem empolgar ainda na competição, o Flamengo vivia uma crise nos bastidores, e o protagonista era Renato Gaúcho. Para alguns jogadores, Renato prendia demais a bola e exagerava no individualismo. Havia também questionamentos sobre seu posicionamento tático. Alguns achavam que ele deveria voltar para ajudar na marcação. Renato dizia não ter condições de fazê-lo. Foi Zico quem resolveu o impasse. Segundo o próprio camisa 10, houve uma reunião no vestiário, a pedido de Carlinhos, na qual cada jogador deu sua opinião. Zico interveio:

Deixa o Renato lá na frente decidindo com o Bebeto, que eu marco o lateral deles.

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Renato realmente começou a decidir. Com Zico de volta, o Flamengo venceu o Palmeiras por 2 x 0 (gols de Renato e Aílton). Na rodada seguinte, bateu o Bahia na Fonte Nova também por 2 x 0 (gols de Zinho e Bebeto). Depois, empatou com o Corinthians por 1 x 1 no Pacaembu (gol de Aílton).

O último jogo do returno, contra o Santa Cruz, é inesquecível para milhares de rubro-negros. Zico deu um show: marcou três gols (um de pênalti, um de falta e outro após passe de Leonardo, que chorou de emoção) e acertou uma bicicleta na trave. O gol de falta foi emblemático: próximo ao bico da área, a bola subiu e caiu direto no ângulo. Um golaço!

O Flamengo encerrou a segunda fase em segundo lugar, com quatro vitórias, dois empates e uma derrota. Marcou dez gols e sofreu quatro.

A semifinal

Na semifinal, o Flamengo enfrentou o Atlético-MG no Maracanã no primeiro jogo. Com atuações estupendas de Zé Carlos e gol decisivo de Bebeto, o Flamengo derrubava o único invicto do campeonato. No segundo jogo, com um Mineirão lotado, Zico marcou de cabeça após jogada de Bebeto. Depois, o próprio Bebeto fez o segundo. O Atlético-MG empatou com gols de Chiquinho e Sérgio Araújo. Quando parecia que viria a virada mineira, Renato arrancou do meio-campo, driblou o zagueiro e o goleiro, e fez história: 3 x 2 e Flamengo na final.

A final

Os dois clubes menos cotados chegaram à final: Flamengo e Internacional. O primeiro jogo, no Beira-Rio, terminou em 1 x 1 — Renato fez grande jogada e cruzou para Bebeto marcar de cabeça. Amarildo empatou logo depois. Bebeto ainda quase marcou um golaço de bicicleta após mais uma jogada de Renato.

O segundo jogo, no Maracanã, ocorreu sob forte chuva. Mesmo assim, o estádio estava lotado. Aos 16 minutos, uma bela trama ofensiva terminou com passe de Andrade para Bebeto empurrar para as redes: 1 x 0. O Flamengo sagrava-se tetracampeão brasileiro.

Esse foi o último título nacional de Zico e Leandro com a camisa do Flamengo. E, a partir daquele dia, começava uma discussão que segue até hoje.

O que não resta dúvida é que o Flamengo foi campeão dentro de campo, enfrentando as melhores equipes do país. Justo!


Tulio Rodrigues

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