Andreas Pereira apaga fotos do Flamengo após novo vice e vira alvo de deboche nas redes
Andreas Pereira voltou ao centro do debate entre torcedores de Flamengo ao apagar todas as fotos com a camisa rubro-negra do seu perfil no Instagram. O gesto, registrado nos últimos dias, reacende a discussão sobre a relação conturbada do meia com o clube carioca, a torcida e a própria história recente da Libertadores. O episódio ganha peso porque envolve um jogador que já decidiu, negativamente, uma final continental para o Flamengo, trocou o clube pelo Palmeiras anos depois e voltou a perder a taça justamente para o ex-time, em Lima, em 2025.
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A movimentação nas redes sociais foi registrada inicialmente por perfis que monitoram bastidores de jogadores. Um print do feed de Andreas mostrou a linha do tempo “limpa” de qualquer referência ao Flamengo. Antes, havia fotos do período entre o fim de 2021 e o início e 2022, inclusive com registros informais, como uma pelada com Mateuzinho em janeiro daquele ano. Agora, restam apenas imagens de outras fases da carreira. Nos comentários, torcedores rubro-negros ironizaram: “apaga essa também”, “vermelho e preto não combinam com Judas”, “esqueceu dessa aqui”. A limpeza foi interpretada como mais um capítulo na tentativa do meia de se afastar publicamente do clube que marcou sua trajetória, e seu fracasso mais emblemático.
A reação da torcida não se limita à ironia. Um fio publicado pela torcedora Jasmine, por exemplo, lembrou que Andreas “abraçou a narrativa que ele mesmo criou” ao se dizer perseguido no Rio. Em entrevista, ele chegou a falar que precisou andar de carro blindado, que não conseguia sair de casa, alimentando a imagem de um ambiente hostil e violento. O relato, porém, contrasta com o que ocorreu na prática. Após o erro em Montevidéu, uma das principais organizadas deu apoio indo ao Ninho do Urubu para apoiá-lo, e faixas de incentivo foram expostas no jogo seguinte. Houve crítica, claro, mas não há registro de campanha sistemática de intimidação fora de estádios. A linha entre cobrança esportiva e perseguição pessoal foi definida no discurso do próprio atleta.
Para entender como o belga naturalizado brasileiro chegou a esse ponto, é preciso voltar a 2021. Formado no Manchester United, Andreas acumulava empréstimos e nunca se firmou na Inglaterra. Torcedores do clube o chamavam de “jogador de pré-temporada”: brilhava em amistosos de verão, mas sumia quando a temporada oficial começava. Com passagens por clubes médios da Europa e sem espaço definitivo em Manchester, ele recebeu propostas de Everton e Fenerbahçe, optando por algo diferente: um empréstimo ao Flamengo, oficializado em 18 de agosto de 2021.
A estreia não poderia ter sido mais cinematográfica. Na Vila Belmiro, contra o Santos, seu time do coração, entrou no fim de um jogo já encaminhado e, no primeiro toque na bola, marcou um gol no 4 a 0 rubro-negro. Nas semanas seguintes, construiu uma narrativa de meia útil e participativo. Foi bem contra o Athletico-PR, ajudou na vitória sobre o Fortaleza, deu assistência para Pedro, apareceu na área, chutou de fora. Em 13 de outubro, contra o Juventude, quebrou um jejum de 1.221 dias sem gols de falta do Flamengo, cobrando com categoria e transformando o lance em símbolo de uma suposta “nova fase”.
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Pouco depois, marcou contra Bahia e Internacional e passou a ser visto por parte da torcida como jogador diferenciado. Não era craque, mas havia técnica, intensidade e uma aura de “talento europeu” que seduzia. Ao mesmo tempo, o recorte dos jogos em que mais brilhou chamava atenção: Atlético-PR de Alberto Valentim, Fortaleza, Juventude, Bahia. Contra rivais de maior peso, raramente decidiu. Ainda assim, o entusiasmo em torno do meia crescia, alimentado também por uma narrativa de marketing: entrevistas em que se dizia torcedor do Flamengo, referências à cidade onde nasceu com nome ligado ao clube, construção de uma identificação rápida que contrariava declarações antigas em que ele se assumia santista.
A história muda de eixo em 27 de novembro de 2021, em Montevidéu. Na final da Libertadores contra o Palmeiras, Andreas era titular de um time apontado como favorito. O jogo foi tenso, equilibrado e chegou empatado em 1 a 1 à prorrogação. Até que, num lance aparentemente simples, David Luiz recua a bola na intermediária defensiva. O meia erra o tempo da passada, escorrega, cai e entrega a bola limpa para Deyverson, que avança sozinho e define o título palmeirense. Em segundos, Andreas deixou de ser apenas um jogador útil para se tornar o protagonista de um dos erros individuais mais marcantes da história do Flamengo em decisões. A partir dali, tudo passou a ser lido à luz daquele escorregão.
O restante da passagem pelo clube nunca mais foi o mesmo. Sob Paulo Sousa, ele não se firmou. Com Dorival Júnior, oscilou entre bons momentos e atuações inseguras. Fez gol importante contra o Tolima, nas oitavas da Libertadores seguinte, mas já não havia conexão emocional com a maioria da torcida. Internamente, discutiu-se a possibilidade de comprá-lo em definitivo por 10 milhões de euros, mas o negócio acabou não se concretizando. O balanço esportivo não justificava o tamanho do investimento, e o peso simbólico do erro na final continental tornava qualquer aposta ainda mais arriscada.
O capítulo seguinte dessa história foi escrito em verde e branco. Em agosto de 2025, o Palmeiras desembolsou justamente 10 milhões de euros para contratar Andreas até 2028. Era o algoz de 2021 abrindo as portas para o jogador que havia decidido a final a seu favor, ao contrário. A torcida palmeirense, que já nutria simpatia pelo meia por causa do lance em Montevidéu, abraçou a contratação de imediato. Camisas personalizadas surgiram ainda antes da estreia, e a escolha da camisa 8, herdada de Richard Ríos, reforçou o status de peça central. Na apresentação, o jogador falou em “escrever nova história” e “ser o mais vencedor possível” pelo clube.
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Em campo, o início seguiu um roteiro previsível para quem acompanha sua carreira. Estreia discreta em vitória sobre o Internacional no Allianz Parque, participação importante contra o River Plate nas quartas de final da Libertadores, cobrando o escanteio do gol de Gustavo Gómez, e dois gols marcados no 4 a 1 sobre o Fortaleza, em jogo do Campeonato Brasileiro. De novo, protagonismo em duelos contra adversários médios. De novo, a promessa de que, no jogo grande, viria o salto de patamar. E de novo, os fatos caminhariam em outra direção.
Quando Palmeiras e Flamengo se classificaram para a decisão da Libertadores de 2025, em Lima, não havia como fugir da narrativa. O jogador que havia escorregado em 2021, agora com a camisa do clube que se beneficiou daquela falha, encontraria o mesmo adversário, valendo outra taça continental. Durante a semana da final, entrevistas lembraram o lance de Montevidéu, torcedores fantasiaram com um gol dele “para fechar o ciclo” e o próprio Andreas tentou minimizar o passado, dizendo estar focado no presente. Em campo, porém, ele repetiu um padrão conhecido: atuação apagada, pouca influência ofensiva, sumiço nos momentos decisivos. O lance que viralizou com seu nome foi uma caneta recebida de Everton Cebolinha nos acréscimos.
Do outro lado, o roteiro se desenhou com protagonismo rubro-negro. Danilo, zagueiro que entrou como titular por causa de lesão de Léo Ortiz, subiu mais alto do que todos após escanteio cobrado por Arrascaeta e fez o gol do título. No fim, Vitor Roque ainda teve grande chance de empatar, mas o próprio Danilo travou o chute e evitou a prorrogação. O Flamengo segurou o resultado, sacramentou o tetra continental e viu o ex-jogador, agora como adversário, amargar de novo o vice. Nas redes, a zoeira foi imediata. O perfil oficial rubro-negro resgatou o bordão “ninguém morre nos devendo” e montagens lembraram o escorregão de 2021. O meia voltou a ser tratado como símbolo de fracasso em final de Libertadores, desta vez pela dupla condição: ex-jogador e reforço caro do rival derrotado.
É nesse contexto que a decisão de apagar as fotos com a camisa do Flamengo ganha contorno de gesto calculado. Ao tentar limpar sua própria linha do tempo, Andreas parece querer reescrever o passado, mas, ao mesmo tempo, reforça a imagem de alguém que nunca conseguiu lidar bem com os próprios erros. A narrativa de perseguição, o discurso de medo no Rio de Janeiro, a tentativa de se colocar como vítima de um ambiente que, no concreto, o apoiou em diversos momentos contrastam com o tratamento indulgente que recebe hoje em parte da imprensa e das mídias ligadas ao Palmeiras, onde raramente é cobrado na mesma intensidade que outros reforços caros.
Quase quatro anos depois do escorregão em Montevidéu e uma semana após a nova derrota para o Flamengo em Lima, Andreas Pereira ocupa um lugar raro na memória do torcedor sul-americano: o de personagem que atravessa duas finais de Libertadores pelo lado derrotado da história. Para o rubro-negro, ele será sempre lembrado como o meia que entregou uma taça e, mais tarde, viu o antigo clube erguer outra diante de seus olhos. Para o palmeirense, o balanço ainda está em aberto, embora a expectativa de redenção tenha sido frustrada na primeira grande prova. Entre narrativas apagadas do Instagram e lances eternizados na memória coletiva, o belga segue preso ao papel de protagonista involuntário daquilo que o futebol tem de mais cruel: transformar um jogador em piada justamente no palco onde ele sonhava ser herói.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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