Bandeira de Mello se tornou tudo aquilo que ele combatia

Bandeira de Mello se tornou tudo aquilo que ele combatia

Esse texto não tem o papel de analisar a gestão de Eduardo Bandeira de Mello, mas algumas de suas ações como presidente que vão de encontro ao que o mesmo falava quando candidato lá em 2012. Assim como o seu grupo, Bandeira se colocava como tudo aquilo de diferente que o Flamengo e o mundo do futebol precisava. Repudiavam a politicagem, alianças fisiológicas pelo poder, o uso do Flamengo como trampolim pessoal e político.

O discurso sempre foi de “somos empresários e executivos bem sucedidos, temos a vida feita e não precisamos do Flamengo para nada“.  Além disso, as criticas a então presidente do clube e vereadora Patricia Amorim. Patricia não escondia usar o clube para fins eleitorais. Até foto com José Serra de camisa do Flamengo ela fez para ajudar na campanha do candidato à presidência da república. Fora o uso das cores do clube em sua propaganda eleitoral, o que o estatuto impede.

Se colocando como diferente, Bandeira anunciou em 2012 que iria se aposentar para se dedicar integralmente ao clube, afinal, o cargo de presidente precisa que seja de entrega total. Bom, Bandeira foi tomando ações diferentes ao longo dos seus mandatos.

Em maio de 2016, Bandeira surgiu sentado na coletiva de convocação da Seleção Brasileira entre o técnico Dunga e Gilmar Rinaldi. Como podia Bandeira de Mello estar sentado numa entidade em que o presidente não podia sair do país acusado de corrupção? Pela entidade que no mesmo ano havia sido definida como arbitrária e de aspectos políticos obscuros pelo próprio Flamengo alguns meses antes? Bandeira tentou explicar assim como os presidentes do Conselho Deliberativo e de Administração do clube. Nenhum teve argumento convincente.  Na mesma época, ele se recusou a deixar o vice-presidente Maurício Gomes de Mattos assumir o clube na sua ausência. Tudo por pressão do seu grupo, o SóFla e pelas suas divergências políticas com o antes aliado.

Em setembro do mesmo ano durante as eleições municipais, o candidato Marcelo Freixo postou uma foto recebendo uma camisa do Flamengo das mãos de Eduardo Bandeira de Mello. Ao blog na época, Freixo disse que o encontro foi para tratar de assuntos de interesse do Flamengo. Bandeira disse que sempre esteve aberto a convites dos demais candidatos e que fora convidado. Por coincidência, o seu irmão trabalhava no gabinete de um vereador do PSOL, partido de Freixo. Nenhum dos demais candidatos tiveram encontros com o mandatário do Fla.

Depois o presidente teve uma sucessão de ofensas a torcedores do Flamengo. Ocorreu num jogo contra a Ponte Preta no Moisés Lucarelli, depois na Ressacada em partida contra o Avaí e no aeroporto quando se recusou a tirar uma foto com um torcedor porque o mesmo havia criticado Márcio Araújo, um dos seus protegidos. Nenhum daqueles dirigentes que Bandeira e seu grupo sempre criticaram, ousaram ofender torcedores. O grupo Fla Mais entrou com um pedido de punição ao presidente nos Conselhos do clube, mas não andou.

Quando começou a sair na imprensa a especulação de que Bandeira poderia vir candidato nesta eleição, os grupos Flamengo da Gente, FlaFut e Fla Mais protocolaram uma carta pedindo explicações do presidente e do CEO Fred Luz. Nenhum dos dois responderam. Em seguida, em março deste ano, o Eduardo se filiou ao partido político REDE (Presidente do Flamengo, Bandeira de Mello se filia à REDE). “Em 2014, quando já era presidente do Flamengo, Eduardo chegou a pensar em divulgar o seu voto publicamente. Mas, na ocasião, considerou que não deveria misturar as coisas. “Sempre votei na Marina, tanto em 2010 como em 2014. E, agora, em 2018. Só que dessa vez nós vamos ganhar.”, afirmou”, disse o comunicado na ocasião. Agora pergunto: O que mudou de 2014 para 2018 se ele continua como presidente?

No último dia 15, o TSE divulgou o registro da candidatura de Eduardo Bandeira de Mello como deputado federal. Como Bandeira irá poder se dedicar integralmente ao mandado com uma campanha de deputado pela frente? Vale lembrar que essa eleição é de 45 dias e ocorrerá nos momentos decisivos do futebol profissional. Além de acompanhar Marina Silva, candidata à presidência da República, o presidente tira fotos com Andreia Gouveia Vieira, opositora ao projeto “Projeto de Revitalização da Gávea”. O empreendimento previa estádio e shopping. Na justiça, ela derrubou o projeto.

Reprodução: TSE

Não só Bandeira que usa o Flamengo, mas o próprio partido. Eduardo vai aos seus encontros políticos usando o carro oficial do clube e de broche no paletó. O site oficial da REDE sempre usa o termo “o presidente do Flamengo” para se referir a ele.

A bem da verdade é que Eduardo Bandeira de Mello se transformou naquilo que condenava nos cartolas de outrora. Usa o Flamengo como quer para seus fins pessoais e alheios ao clube. Você irá escutar muito que o Fla precisa de um representante na câmara, que vai ajudar a resolver os problemas do clube, mas isso não é verdade. Sem contar que o cargo é legislativo. Bem diferente do cargo executivo que ocupa. O seu grupo político, o SóFla, protocolou uma  emenda para por no estatuto o profissionalismo na administração, mas não deram um pio sobre o agora candidato a deputado e atual presidente usar o clube para tal. O que Bandeira faz é ser profissional? Beneficia o Flamengo?

O grupo Flamengo da Gente abriu uma sindicância pedindo “a apuração de infração administrativa com instauração de sindicância a respeito do uso indevido do clube. Que o presidente do Conselho Deliberativo acolha o pedido e que fique o exemplo para que a agenda prioritária do presidente do Flamengo seja sempre o clube e não a sua agenda pessoal. Bandeira de Mello pode se candidatar ao que for, mas depois do fim do seu mandato. No minimo cumpriria com o que prometeu.

Tulio Rodrigues

Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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