Boto volta a falar com a imprensa e gera crise: Flamengo tratado como vitrine para Europa

Boto volta a falar com a imprensa e gera crise: Flamengo tratado como vitrine para Europa
Imagem: Reprodução/Canal 11

A divulgação de uma entrevista de José Boto ao Canal 11, de Portugal, reacendeu um debate que vinha apenas em ebulição nos bastidores do Flamengo. Diretor de futebol do clube desde o fim de 2024, o dirigente voltou a falar publicamente sobre a possibilidade de deixar o Brasil e regressar ao futebol europeu, movimento que gerou incômodo na torcida e questionamentos sobre alinhamento institucional. A fala veio a público nesta sexta (26), poucos dias depois da apresentação histórica da atual gestão, e ganhou repercussão imediata pela forma como o clube aparece no discurso do seu principal executivo do futebol.


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Na chamada divulgada pelo canal português, Boto afirma que conquistar Libertadores e Campeonato Brasileiro no mesmo ano “não é normal” e projeta, sem rodeios, mais uma temporada no Brasil antes de pensar em voltar a Portugal ou à Europa, desde que encontre um projeto que o agrade. Não é a primeira vez que o dirigente adota esse tom. Em entrevistas anteriores, também concedidas a veículos europeus, ele já havia tratado o Flamengo como uma etapa de passagem, uma espécie de vitrine para recolocação no mercado continental, discurso que contrasta com o projeto esportivo de médio e longo prazo apresentado pelo clube.

O desconforto não está no direito individual de planejar o futuro profissional. Isso é legítimo. O problema, como apontam críticos, está na recorrência e no ambiente escolhido para essas declarações. Ao falar repetidamente sobre saída, ainda no exercício do cargo, Boto acaba por reduzir o Flamengo a um trampolim, narrativa que fere o tamanho institucional e simbólico do clube. A percepção é reforçada quando se observa o contexto recente da carreira do dirigente. Antes de chegar à Gávea, seu nome circulava pouco no mercado de elite europeu. A última experiência relevante havia sido em um clube de expressão limitada na Croácia, longe do radar dos grandes centros.

Nas redes sociais, as reações foram duras. A jornalista Raísa Simplício lembrou que, antes do Flamengo, Boto estava praticamente fora do mercado de alto nível e passou a se reposicionar a partir da visibilidade que o cargo no Brasil lhe proporcionou. Outros comentários seguiram a mesma linha, destacando que o dirigente parece mais preocupado em se promover para fora do que em consolidar um projeto duradouro no clube que o emprega. A crítica central é direta: transformar o clube da Gávea em incubadora de carreira pessoal não combina com a ambição esportiva apresentada oficialmente.

O incômodo cresce quando se observa a divergência entre discurso e planejamento. Na apresentação recente conduzida por Bap, o clube deixou claro que trabalha com um horizonte de quatro a cinco anos, com foco em rejuvenescer o elenco, fortalecer a base e construir hegemonia esportiva no Brasil e na América do Sul. Esse projeto pressupõe estabilidade na condução do futebol. Quando o principal responsável pela área fala publicamente em curto prazo e se oferece ao mercado europeu, a mensagem interna se fragiliza.

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Há também o impacto simbólico. O Flamengo, que hoje fatura na casa dos bilhões, lidera rankings de receita no continente e figura entre as maiores marcas esportivas das Américas, não pode ser tratado como um estágio intermediário. O clube não disputa apenas títulos domésticos, mas projeta protagonismo internacional, inclusive em futuras edições do Mundial da FIFA. A fala de Boto, nesse sentido, soa deslocada do momento institucional.

Do ponto de vista esportivo, o saldo do dirigente ainda está em avaliação. Houve conquistas relevantes, é verdade, mas também decisões questionáveis no mercado. Contratações que não se consolidaram, lacunas no elenco e apostas que ficaram mais no discurso do que no campo alimentam a percepção de que o crédito ainda é curto. O argumento de que os resultados mascaram problemas estruturais aparece com frequência entre analistas e torcedores mais atentos.

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O temor, explicitado nos debates, é simples: diante de uma proposta de um clube médio europeu, Boto não hesitaria em sair no meio do caminho, mesmo que isso comprometa o planejamento rubro-negro. Essa possibilidade, ainda que hipotética, ganha força quando o próprio dirigente verbaliza o desejo de retorno com tanta naturalidade. Em um futebol cada vez mais dependente de continuidade e coerência, esse tipo de sinal público pesa.

Ao Flamengo, resta uma equação delicada. Blindar o projeto esportivo passa também por alinhar discurso e prática de seus executivos. Falar menos, executar mais e compreender o peso da instituição que representa talvez sejam passos indispensáveis para quem ocupa uma das cadeiras mais estratégicas do clube. No futebol, palavras também constroem ou corroem projetos. E, neste momento, o barulho parece maior do que deveria.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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