O assunto mais comentado é a rivalidade que a imprensa tenta alimentar em relação aos valores de patrocínio entre Flamengo e Corinthians. A Caixa Econômica Federal pagará ao Flamengo R$ 5 milhões a menos do que paga ao Corinthians. É ruim? Eu não acho.
Diante de toda essa discussão, vieram à mente diversos fatores preponderantes que poderiam aprofundar ainda mais o tema. Fatos que, para mim, explicam os valores que o Corinthians recebe por seus patrocínios — e também o Flamengo. O Corinthians tem, sim, uma das camisas mais valiosas do mercado latino-americano, mas por trás disso há inúmeros fatores relevantes: marketing agressivo, retomada da credibilidade no mercado, fidelização do torcedor, títulos, Ronaldo e o ex-presidente Lula. Cinco anos atrás, o Corinthians vivia uma realidade parecida com a nossa. Tirando o fato de não termos sido rebaixados à Série B, o cenário era o mesmo: clube afundado em dívidas, marketing inoperante, escassez de títulos expressivos, falta de credibilidade no mercado e um passado recente de envolvimento em escândalos.
O Corinthians saiu da Série B em 2008, contratou um astro mundial, recuperou a credibilidade no mercado, investiu em ações ousadas de marketing e captação de patrocínios. Quem não se lembra da camisa do Corinthians entre 2009 e 2010? Parecia um macacão de Fórmula 1, mas rendia muitos milhões de reais ao clube. A valorização também veio com as conquistas esportivas: títulos regionais, nacionais, continental e mundial.
Antes de fechar com a Caixa, o Corinthians ficou oito meses sem patrocinador máster, fazendo acordos pontuais — como na final da Libertadores. Além disso, na ocasião do novo contrato, o clube era o atual campeão continental e estava prestes a disputar o Mundial de Clubes, o que geraria visibilidade incalculável à Caixa. A realidade de patrocínios do Corinthians, naquele momento, era a seguinte:
Empresa | Valor (R$) | Espaço na camisa | Observações |
---|---|---|---|
Nike | 30 milhões | — | Fornecedora |
Caixa Econômica Federal | 30 milhões | Frente e costas | |
TIM | 2,5 milhões | Números do uniforme | |
Fisk | 12 milhões | Manga | |
Total | 74,5 milhões |
(Valores referentes ao período de um ano.)
Agora, vamos olhar o nosso lado. Em 2009, encerramos o ano com o título brasileiro após 17 anos de jejum. Terminamos o ano com dois patrocinadores — Batavo e BMG — e éramos, naquele momento, um dos clubes que mais arrecadava no país com patrocínio. Mas, ao invés de experimentarmos uma ascensão esportiva e no marketing, ocorreu o contrário. Voltamos às páginas policiais, não brigamos pelo título continental e lutamos contra o rebaixamento no Brasileirão.
Somado a isso, nosso patrocinador principal suspendeu pagamentos por insatisfação, não renovou o contrato e, nos anos seguintes, o clube viveu turbulências políticas, gestão amadora e um departamento de marketing estagnado. Quando a atual diretoria assumiu, encontrou o clube sem patrocinador máster, com o contrato da manga prestes a se encerrar e, como únicos parceiros de camisa, a Olympikus (fornecedora) e a TIM.
Quatro meses após assumir, a gestão Bandeira de Mello trouxe de volta a credibilidade do Flamengo no mercado — algo que já não tínhamos. Mesmo com resultados ainda discretos em campo, hoje podemos dizer que temos um marketing operante e com expectativa de crescimento. A realidade de patrocínios do Flamengo naquele momento era:
Empresa | Valor (R$) | Espaço na camisa | Observações |
---|---|---|---|
Adidas | 35,6 milhões | — | Fornecedora |
Caixa Econômica Federal | 25 milhões | Frente | |
Peugeot | 10 milhões | Costas | |
TIM | 2,5 milhões | Números do uniforme | |
Total | 73,1 milhões |
(Valores referentes ao período de um ano.)
Vale lembrar que a manga ainda está disponível, e a diretoria tem expectativa de fechar por algo entre R$ 8 e R$ 10 milhões. Se isso se confirmar, a camisa do Flamengo ultrapassará os R$ 80 milhões anuais em valor. Além disso, o montante pode aumentar com bônus por títulos, venda de materiais e outros. A diferença para o atual campeão continental e mundial seria de apenas R$ 1,4 milhão. Tá ruim?
O Flamengo vende sozinho desde que esteja aliado a um mínimo de credibilidade. E é leviano comparar o Flamengo com qualquer outro clube! Como bem disse Ronaldo Gomlevsky, hoje membro do Conselho Gestor da diretoria:
“O Flamengo é uma força da natureza.”
O Corinthians mira ser o clube de maior torcida do Brasil. Seu alvo sempre será o Flamengo. E eles contam com um grande aliado: a imprensa, que compactua e cria pesquisas e comparações absurdas como essa.
Talvez você não tenha notado, mas o marketing do Flamengo hoje mira competir com os grandes da Europa. No site oficial do clube, não está mais escrito “o mais querido do Brasil”, e sim “do mundo” — como realmente devemos ambicionar. Imagine quanto valeria a camisa do Flamengo se fôssemos hoje campeões continentais e mundiais. Não dá nem para projetar. Mas se seguirmos na direção pretendida por nosso marketing, seremos um dos clubes mais valiosos do mundo em patrocínio. Não é utopia — é análise.
Não vejo motivo para insatisfação por parte da torcida em relação aos valores da Caixa, muito menos para dar voz a comparações torpes com clubes que almejam ser o que nós já somos. Estou satisfeito com os números que vamos arrecadar apenas com nossa camisa.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo!
PS 1: Foram contabilizados apenas os parceiros que estampam suas marcas no uniforme. Flamengo e Corinthians possuem outros patrocinadores que também geram receitas.
PS 2: Considerando apenas os valores sem o que é pago pelo fornecedor de material esportivo, o Corinthians arrecada R$ 44,5 milhões e o Flamengo, R$ 37,5 milhões.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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