Consultor da FIFA explica por que gramados sintéticos não são usados nos torneios da entidade

Consultor da FIFA explica por que gramados sintéticos não são usados nos torneios da entidade
Imagem: Reprodução/Flamengo TV

A discussão sobre gramados sintéticos ganhou um novo capítulo no futebol brasileiro a partir de uma entrevista concedida à Flamengo TV pelo consultor de gramados André Amaral que atua diretamente em competições da FIFA desde 2014. A conversa, longa e técnica, trouxe para o centro do debate um ponto pouco explorado fora dos bastidores: por que os principais torneios internacionais simplesmente não admitem campos de plástico, mesmo quando eles são oficialmente homologados.


Ouça nossas análises e entrevistas sobre a eleição do Flamengo no seu agregador de podcast preferido: SpotifyDeezerAmazoniTunesYoutube MusicCastbox e Anchor.


O especialista, responsável por inspeções em estádios e centros de treinamento ao redor do mundo, foi direto ao relatar sua experiência. Em mais de uma década acompanhando Copas, torneios continentais e eventos de base, ele afirma não ter visto um único gramado sintético permanecer ativo em competições da FIFA. Quando isso ocorreu, a solução foi clara: remoção imediata. Um exemplo citado foi o da República Dominicana, onde uma das cidades-sede precisou retirar o piso artificial e implantar um campo híbrido para não perder o direito de sediar partidas. Caso a mudança não fosse feita, o estádio simplesmente seria descartado.

A decisão não é fruto de preferência estética nem de debate aberto. Trata-se de uma imposição técnica. Para a FIFA, o jogo deve ser disputado em superfícies naturais ou híbridas, padrão que hoje já é obrigatório nos principais torneios masculinos e femininos. Nas competições de base, como Sub-17 e Sub-20, o híbrido ainda não é regra absoluta, mas o próprio consultor admite que isso é apenas uma questão de tempo. O objetivo é padronizar condições, reduzir riscos físicos e preservar características essenciais do futebol de alto rendimento.

Ao explicar o que a entidade considera um gramado ideal, o consultor detalha um processo rigoroso. São mais de 20 itens avaliados, que vão desde a densidade da grama até a uniformidade da dureza em todos os setores do campo. A superfície precisa responder de forma previsível ao movimento do atleta. Não pode soltar demais, o que provoca escorregões, nem segurar em excesso, cenário que aumenta o risco de lesões em mudanças bruscas de direção. Tração, nivelamento, absorção de impacto e até coloração entram na análise. É esse conjunto que garante segurança, desempenho e justiça esportiva.

LIVE COMPLETA:

Nesse ponto, o sintético passa a ser questionado não apenas pelo comportamento da bola, mas pelo efeito no corpo do jogador. O tema da temperatura, frequentemente citado por atletas, também aparece de forma indireta. Campos artificiais acumulam calor em níveis muito superiores aos da grama natural, alterando o microclima do jogo e exigindo mais fisicamente dos jogadores. Em competições globais, disputadas sob diferentes condições climáticas, esse fator pesa na decisão de banir o material.

Um trecho da entrevista chama atenção por revelar uma contradição pouco debatida. Segundo o consultor, muitos clubes que atuam em gramados sintéticos não treinam neles. A rotina diária ocorre em campos naturais, enquanto o piso artificial fica restrito aos jogos. A prática, segundo ele, é conhecida nos bastidores e se repete inclusive entre clubes com grande poder financeiro. A pergunta surge quase automaticamente: se o sintético fosse de fato a melhor solução esportiva, por que evitá-lo no treinamento?

O argumento econômico, frequentemente usado para defender o plástico, também foi relativizado. Embora a manutenção diária pareça mais barata, o custo total ao longo dos anos, somado à troca periódica do material e aos impactos indiretos, muda a conta. Quando comparado a um gramado natural bem cuidado ou a um híbrido dentro de padrões internacionais, o sintético deixa de ser a alternativa simples que muitos vendem.

VEJA MAIS:

CASO PREFIRA OUVIR:

A fala do consultor não entra no campo da legalidade, já que o uso do sintético é permitido em diversas competições nacionais. O ponto central é outro: padronização de qualidade e alinhamento com o que há de mais exigente no futebol mundial. Para clubes que ambicionam sediar jogos internacionais ou se adequar a parâmetros globais, a escolha do gramado deixa de ser apenas administrativa e passa a ser estratégica.

No fim, a entrevista ajuda a esclarecer um debate frequentemente contaminado por paixões clubistas. Ao ouvir quem fiscaliza campos para a principal entidade do futebol, fica evidente que o problema não é ideológico. É técnico, físico e esportivo. E, nesse cenário, o gramado sintético aparece cada vez menos como solução e mais como atalho que o futebol de elite já decidiu não seguir.

Segundo analista da Flamengo TV, gramado de plástico chega a 69°C; entenda

Veja outros vídeos sobre as notícias do Flamengo:

Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

+ Siga o Blog Ser Flamengo no Twitter, no Instagram, no Facebook e no Youtube.

Comentários

Descubra mais sobre Ser Flamengo

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Tulio Rodrigues

Deixe uma resposta