Consultor da FIFA explica por que gramados sintéticos não são usados nos torneios da entidade
A discussão sobre gramados sintéticos ganhou um novo capítulo no futebol brasileiro a partir de uma entrevista concedida à Flamengo TV pelo consultor de gramados André Amaral que atua diretamente em competições da FIFA desde 2014. A conversa, longa e técnica, trouxe para o centro do debate um ponto pouco explorado fora dos bastidores: por que os principais torneios internacionais simplesmente não admitem campos de plástico, mesmo quando eles são oficialmente homologados.
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O especialista, responsável por inspeções em estádios e centros de treinamento ao redor do mundo, foi direto ao relatar sua experiência. Em mais de uma década acompanhando Copas, torneios continentais e eventos de base, ele afirma não ter visto um único gramado sintético permanecer ativo em competições da FIFA. Quando isso ocorreu, a solução foi clara: remoção imediata. Um exemplo citado foi o da República Dominicana, onde uma das cidades-sede precisou retirar o piso artificial e implantar um campo híbrido para não perder o direito de sediar partidas. Caso a mudança não fosse feita, o estádio simplesmente seria descartado.
A decisão não é fruto de preferência estética nem de debate aberto. Trata-se de uma imposição técnica. Para a FIFA, o jogo deve ser disputado em superfícies naturais ou híbridas, padrão que hoje já é obrigatório nos principais torneios masculinos e femininos. Nas competições de base, como Sub-17 e Sub-20, o híbrido ainda não é regra absoluta, mas o próprio consultor admite que isso é apenas uma questão de tempo. O objetivo é padronizar condições, reduzir riscos físicos e preservar características essenciais do futebol de alto rendimento.
Ao explicar o que a entidade considera um gramado ideal, o consultor detalha um processo rigoroso. São mais de 20 itens avaliados, que vão desde a densidade da grama até a uniformidade da dureza em todos os setores do campo. A superfície precisa responder de forma previsível ao movimento do atleta. Não pode soltar demais, o que provoca escorregões, nem segurar em excesso, cenário que aumenta o risco de lesões em mudanças bruscas de direção. Tração, nivelamento, absorção de impacto e até coloração entram na análise. É esse conjunto que garante segurança, desempenho e justiça esportiva.
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Nesse ponto, o sintético passa a ser questionado não apenas pelo comportamento da bola, mas pelo efeito no corpo do jogador. O tema da temperatura, frequentemente citado por atletas, também aparece de forma indireta. Campos artificiais acumulam calor em níveis muito superiores aos da grama natural, alterando o microclima do jogo e exigindo mais fisicamente dos jogadores. Em competições globais, disputadas sob diferentes condições climáticas, esse fator pesa na decisão de banir o material.
Um trecho da entrevista chama atenção por revelar uma contradição pouco debatida. Segundo o consultor, muitos clubes que atuam em gramados sintéticos não treinam neles. A rotina diária ocorre em campos naturais, enquanto o piso artificial fica restrito aos jogos. A prática, segundo ele, é conhecida nos bastidores e se repete inclusive entre clubes com grande poder financeiro. A pergunta surge quase automaticamente: se o sintético fosse de fato a melhor solução esportiva, por que evitá-lo no treinamento?
O argumento econômico, frequentemente usado para defender o plástico, também foi relativizado. Embora a manutenção diária pareça mais barata, o custo total ao longo dos anos, somado à troca periódica do material e aos impactos indiretos, muda a conta. Quando comparado a um gramado natural bem cuidado ou a um híbrido dentro de padrões internacionais, o sintético deixa de ser a alternativa simples que muitos vendem.
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A fala do consultor não entra no campo da legalidade, já que o uso do sintético é permitido em diversas competições nacionais. O ponto central é outro: padronização de qualidade e alinhamento com o que há de mais exigente no futebol mundial. Para clubes que ambicionam sediar jogos internacionais ou se adequar a parâmetros globais, a escolha do gramado deixa de ser apenas administrativa e passa a ser estratégica.
No fim, a entrevista ajuda a esclarecer um debate frequentemente contaminado por paixões clubistas. Ao ouvir quem fiscaliza campos para a principal entidade do futebol, fica evidente que o problema não é ideológico. É técnico, físico e esportivo. E, nesse cenário, o gramado sintético aparece cada vez menos como solução e mais como atalho que o futebol de elite já decidiu não seguir.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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