Debate sobre gramados expõe tratamento desigual da imprensa ao estudo técnico do Flamengo e a nota do Palmeiras

Debate sobre gramados expõe tratamento desigual da imprensa ao estudo técnico do Flamengo e a nota do Palmeiras

O debate sobre gramados no futebol brasileiro voltou ao centro das atenções nesta semana não apenas pelo mérito da discussão, mas pela forma como ela tem sido conduzida. Quem puxou o tema novamente foi o Flamengo, ao apresentar à CBF um estudo técnico robusto propondo a padronização dos campos no país, com prazos de transição, parâmetros internacionais e critérios objetivos de avaliação. O que se viu, no entanto, foi parte da imprensa tratar o assunto menos como pauta estrutural e mais como disputa política entre clubes.


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O Flamengo protocolou oficialmente o material junto à Confederação Brasileira de Futebol, dentro dos trâmites previstos, sugerindo um cronograma que vai de 2026 a 2029 para evolução dos gramados, sejam eles naturais ou sintéticos. O documento, com cerca de 25 páginas, reúne referências científicas, experiências de ligas europeias e dados sobre impacto físico no atleta, rolagem da bola e uniformidade do jogo. Ainda assim, a abordagem adotada em alguns programas esportivos foi marcada pela superficialidade.

Durante um programa da revista Placar, exibido na edição paulista, a diferença de tratamento chamou atenção. Quando os slides do Flamengo, que separavam “fato” e “fake” sobre gramados sintéticos, foram exibidos, houve questionamentos sucessivos, interrupções e cobranças por fontes, mesmo com o clube tendo indicado que todas as referências estavam no estudo protocolado. Já o material apresentado pelo Palmeiras, baseado em dados do próprio núcleo de saúde e performance do clube, passou praticamente sem contestação, apesar de utilizar números internos para comparações amplas, inclusive com médias europeias.

A incoerência não está em criticar o Flamengo. Questionar dados, métodos e conclusões faz parte do jornalismo. O problema surge quando esse rigor desaparece ao analisar o posicionamento de outro clube. A assimetria revela uma postura que deixa de ser crítica e passa a ser seletiva. O debate técnico acaba reduzido a narrativas rápidas, enquanto o público é privado de uma análise mais profunda sobre o que realmente está em jogo.

E o que está em jogo vai muito além de Flamengo e Palmeiras. Arenas como a Fonte Nova já foram alvo de críticas severas de atletas por apresentarem pisos irregulares, enquanto estádios como a Neo Química Arena recebem elogios pela qualidade do gramado. A padronização, defendida pelo Rubro-Negro, parte justamente dessa disparidade.

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O ponto central da proposta não é a ilegalidade do gramado sintético. A FIFA permite o uso, e nenhum clube brasileiro está fora da lei ao adotá-lo. O debate é sobre alto rendimento. Em ligas como a inglesa, o sintético é proibido nas principais divisões. Na Holanda, um processo de transição foi adotado para eliminá-lo gradualmente. O Flamengo propõe algo semelhante: discutir, com dados e prazos, qual superfície oferece melhor desempenho esportivo e menor risco físico.

Quando esse debate é tratado como “chato”, “maçante” ou inconveniente, perde-se a chance de evoluir. Jornalismo esportivo é interesse público. Não se trata apenas de informar quem ganhou ou perdeu, mas de explicar decisões que impactam a qualidade do jogo, a saúde dos atletas e o produto futebol. Ignorar um estudo técnico porque ele exige leitura, comparação de fontes e entendimento de termos científicos empobrece o papel da imprensa.

Há também um componente político inegável. Palmeiras e Flamengo vivem uma relação de tensão institucional que se estende a outros temas, como liga, direitos comerciais e governança. Isso, porém, não deveria contaminar a análise de pautas estruturantes. Quando a discussão vira briga de bastidor, o futebol brasileiro perde mais uma oportunidade de amadurecer.

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No fim, o debate sobre gramados escancara um problema maior: a dificuldade de tratar temas complexos com profundidade. Padronizar campos, melhorar o Maracanã, elevar o nível médio dos estádios e discutir os impactos do sintético não deveria dividir torcidas, mas unir o futebol em torno de soluções. O Flamengo apresentou uma proposta. Ela pode ser contestada, ajustada ou até rejeitada. O que não pode é ser descartada sem que o público tenha acesso à discussão de verdade.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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