A disputa em torno da Libra ganhou novos contornos com revelações de bastidores que mostram como compromissos firmados entre clubes não foram respeitados. O ponto central recai sobre o Palmeiras e sua presidente, Leila Pereira, acusada de não cumprir acordos que haviam sido decisivas para que o Flamengo aceitasse reduzir sua fatia de receitas na divisão dos direitos de transmissão. As revelações foram feitas por Patrick Moraes em uma longa thread no X, antigo Twitter, que trouxe à tona informações de bastidores até então pouco conhecidas.
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O contrato com a Globo, aprovado no Conselho Deliberativo do Flamengo em 2024, foi negociado sob a promessa de que a Libra implementaria reformas estruturais. A diretoria rubro-negra, então presidida por Rodolfo Landim, abriu mão de garantias financeiras relevantes acreditando que essas mudanças seriam cumpridas.
As condicionantes do Flamengo
Para aceitar abrir mão do mínimo garantido, Landim negociou quatro pontos fundamentais:
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Os direitos internacionais não seriam tratados como produto do bloco;
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Haveria início imediato da discussão do Fair Play Financeiro (FPF);
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A Libra discutiria os MCOs (multiclubes com mesmo dono) e limitaria as transferências internas;
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Seria feita a padronização dos gramados, incluindo ajustes específicos para o Palmeiras.
Apenas a primeira exigência foi cumprida.
John Textor, dono da SAF do Botafogo, revelou em junho de 2023 ao Globo Esporte que o Flamengo havia sido flexível na negociação, abrindo mão de proteções para beneficiar a formação da liga. “O Flamengo aceitou abrir mão do mínimo garantido para não travar o processo. Foi uma postura razoável e conciliadora, diferente da narrativa que se criou. Nenhum clube grande vai simplesmente dar dinheiro para os pequenos, mas o Flamengo foi flexível, mesmo sabendo o quanto merecia ganhar pelo tamanho que tem”, afirmou.
A LIVE COMPLETA:
O papel de Leila Pereira
As atas e registros das assembleias mostram que as discussões sobre fair play financeiro foram sistematicamente adiadas a pedido da presidente palmeirense, que preferiu aguardar estudos da CBF. O debate sobre os MCOs sequer avançou. Já a padronização dos gramados travou diante da resistência do Palmeiras, cujo Allianz Parque mantém contrato com a WTorre para utilização de piso sintético.
A postura reforçou a percepção de que o Palmeiras manteve privilégios enquanto o Flamengo absorvia o prejuízo.
Leila endureceu o discurso em notas entrevistas recentes, chegando a afirmar que poderia criar uma liga sem o Flamengo. “Nenhum clube é maior que o futebol brasileiro. Se o Flamengo quiser, que jogue sozinho contra o sub-20 dele”, disse à Record.
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O futuro da Libra permanece incerto. O que se vê, por ora, é um cenário de promessas não cumpridas, retórica belicosa e um embate que revela mais sobre alianças políticas do que sobre a construção de um modelo sustentável para o futebol brasileiro.
Linha do tempo da disputa judicial entre Flamengo x Libra
Setembro de 2024
– O então presidente Rodolfo Landim assina o estatuto da Libra.
– Fica definido o modelo 40% (igualitário), 30% (desempenho) e 30% (audiência), mas sem detalhamento sobre como calcular a fatia de audiência.
Janeiro de 2025
– Luiz Eduardo Baptista, o Bap, assume a presidência do Flamengo.
– Inicia revisão dos contratos da Libra e identifica ausência de critérios claros no rateio da audiência.
Fevereiro – Abril de 2025
– Primeiras conversas entre Flamengo e Libra para buscar consenso.
– Fla defende uso de cadastro do pay-per-view como parâmetro para o cálculo, o que elevaria sua receita.
– Negociações se arrastam sem avanços.
Maio de 2025
– Primeira assembleia da Libra para discutir a fatia de audiência.
– Flamengo apresenta proposta que poderia elevar sua cota.
– Proposta fica em aberto sem deliberação.
Agosto de 2025
– Nova assembleia realizada.
– Aprovado o “cenário 1”, que consolida a divisão atual, com votos contrários de Flamengo e Volta Redonda.
– Fla sustenta que a reunião foi irregular, pois a definição deveria ser por unanimidade já que o estatuto não previa critérios claros.
– Libra alega já ter documento com assinatura de Rodolfo Landim concordando com o rateio proposto.
– Flamengo pede documento comprobatório. Libra não responde.
Setembro de 2025
– Flamengo notifica extrajudicialmente Libra e Globo.
– Flamengo ingressa com ação no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e pede a suspensão dos efeitos da assembleia de agosto e o bloqueio de valores a serem repassados pela Globo.
– Desembargadora concede liminar favorável, bloqueando cerca de R$ 77 milhões em repasses.
– Libra anuncia que vai recorrer da liminar.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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