Tive a honra de conversar com o autor do livro 20 Jogos Eternos do Flamengo, Marcos Eduardo Neves. O recém-lançado livro traz ao torcedor rubro-negro grandes partidas da história do clube. É uma obra que venho lendo no momento e recomendo. Vale a pena conferir o bate-bola que fizemos com o Eduardo sobre sua vida e obra:
Tulio Rodrigues – Primeiro, fale sobre o escritor e jornalista Marcos Eduardo Neves.
Marcos Eduardo Neves – Depois de trabalhar como assessor de imprensa na área de Cultura, comecei como estagiário no Jornal dos Sports. Logo passei a repórter especial, depois fiz revistas para o jornal Lance! e, em 2006, entrei no Jornal do Brasil, onde fiquei até 2008. A partir de então, resolvi me dedicar à minha empresa, a Rotativa (www.rotativa.art.br), que faz livros por encomenda. Já tinha escrito três livros quando resolvi tentar a sorte como escritor.
TR – Fale um pouco das suas obras literárias anteriores ao mais novo trabalho, 20 Jogos Eternos do Flamengo.
MEN – Escrevi a biografia do Renato Gaúcho, meu primeiro grande ídolo no futebol. Lancei Anjo ou Demônio em 2002. Depois, mergulhei na vida de Heleno de Freitas, obra que lancei em 2006 e relancei em 2012 com o título Nunca Houve um Homem como Heleno. O livro ajudou na realização do filme, que contou com Rodrigo Santoro no papel-título. Ainda em 2006, lancei em Portugal e no Brasil a biografia do empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio. Essa obra foi traduzida para o espanhol e lançada em Madri em 2008. Em 2009, escrevi sobre a Máquina Tricolor, o Fluminense dos anos 70. No ano seguinte, sobre um casal de engenheiros, donos de uma grande construtora carioca, a Servenco. E agora lancei o do Flamengo.
TR – Por que você aceitou o desafio de escrever sobre jogos históricos do Flamengo?
MEN – Todo mundo sempre me pedia para escrever sobre o clube do meu coração, mas eu tinha medo de ser passional demais e comprometer a credibilidade da leitura. Por isso, foi um grande desafio. Mas acho que consegui. A crítica vem sendo complacente.
TR – Você montou um júri que o ajudou a escolher os 20 jogos para o livro. Dos jogos que você votou, 17 estão no livro. Algum que ficou de fora e que, na sua opinião, não deveria ter ficado?
MEN – Vários. Um clube como o Flamengo teve muito mais do que 20 jogos inesquecíveis. Particularmente, acho que Flamengo x Honvéd, nos anos 50, deveria estar. Enfrentamos a base da grande seleção húngara e vencemos no Maracanã. O duelo entre Ronaldinho e Neymar, em 2011, também foi épico.
TR – Desses 20 jogos do livro, quais são os mais marcantes para você como torcedor e que mais emocionaram na hora de escrever?
MEN – Sem dúvida, o mais marcante foi Atlético-MG 2×3 Flamengo, semifinal da Copa União de 1987. Aquele jogo marcou toda uma geração de rubro-negros. Só quem viveu aquela semana sabe o que ele representou. Era o grande time montado por Telê Santana contra um senhor Flamengo, com Zico, Leandro, Bebeto, Renato, Andrade, Leonardo, Zinho e outros craques. O Atlético precisava vencer, saiu perdendo por 2 a 0 e quase virou. No finalzinho, Renato Gaúcho fez o gol que aliviou a Nação.
TR – Nas crônicas de cada jogo, você narra momentos da época da partida. Como foi feita a pesquisa para o livro?
MEN – Busquei jornais da época, programas de rádio e televisão, revi jogos e ouvi comentários e informações de repórteres. A ideia era reconstituir o cenário de cada jogo, com um toque de contexto histórico — fatos que estavam acontecendo tanto no país quanto no mundo.
TR – Como você vê hoje a literatura brasileira ligada ao futebol, que antes era tão banalizada?
MEN – O panorama mudou. Até meados dos anos 90, quando ficamos 24 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, era raro alguém escrever sobre futebol. Hoje há uma enxurrada de livros. Acho isso ótimo, pois crianças que não leem podem começar a desenvolver o gosto pela leitura ao se interessarem por jogos, ídolos, times. Pode ser um bom começo para se tornarem bons leitores no futuro.
TR – Quais foram os jogos mais difíceis de escrever para o livro?
MEN – Os que não têm vídeo. O primeiro, de 1912, teve 17 gols! Foi muito complicado. O segundo, de 1944, foi decidido com um gol polêmico — o ideal seria poder vê-lo. Em 1955, o Flamengo foi tricampeão carioca vencendo o America por 4 a 1, com quatro gols do Dida. Para alguns, porém, Evaristo marcou um dos gols. Há quem diga até que, em vez de Evaristo, foi Duca quem marcou. Nem mesmo os jornais da época chegavam a um consenso. Tive que usar o bom senso e acreditar na versão da maioria.
TR – Quais são seus próximos projetos? Podemos esperar mais algum trabalho seu relacionado ao futebol?
MEN – Sim, estou trabalhando na biografia do Alex, craque do Coritiba. Ela será lançada no Brasil e na Turquia no ano que vem.
TR – Deixe um recado para o torcedor do Flamengo e seus leitores.
MEN – Nesta época em que se paga R$ 100 por um ingresso, digamos, mais barato, e o jogo nem sempre é garantia de espetáculo, acho muito razoável pagar R$ 36 para reviver 20 jogos eternos — daqueles que realmente valem o ingresso. Fica o convite à Nação Rubro-Negra e a todos os amantes de futebol e literatura.
—
Entrevista feita por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
Sigam-nos no Twitter: @BlogSerFlamengo