A diretoria do Flamengo tem realizado diversas ações em benefício da instituição, muitas delas inquestionáveis. Nos aspectos que exigem empreendedorismo, nossos vice-presidentes e executivos têm se destacado, mas também há equívocos que merecem ser debatidos e, quando possível, corrigidos. Um desses pontos é o preço dos ingressos para o jogo contra o Botafogo, válido pela semifinal da Taça Guanabara.
Fui contrário ao preço de R$ 80 cobrado pelo ingresso. Vi muitas manifestações contrárias e, assim como eu, muitos acharam as justificativas pouco convincentes. Segundo informações, a decisão partiu do departamento de marketing do clube e estaria relacionada ao projeto de “sócio-torcedor”. No entanto, o termo mais adequado seria “programa de relacionamento”, já que o projeto não concede direitos estatutários ou de voto aos seus participantes.
O único dirigente a se manifestar publicamente foi Luiz Eduardo Baptista, o BAP, vice-presidente de Marketing, em uma entrevista ao Blog do Torcedor, do Arthur Muhlenberg, no GloboEsporte.com. Em resumo, BAP explicou que o Flamengo tem arcado com altos custos para jogar e que o preço do ingresso foi calculado com base no ticket médio necessário para cobrir essas despesas. No entanto, o que me incomodou foi perceber que essa conta é repassada diretamente aos torcedores. Será que os custos para jogar no Engenhão contra o Olaria, por exemplo, seriam diferentes? Não seria o caso de o Flamengo questionar a Federação Carioca sobre esses valores?
O Flamengo sempre foi o time do povo, e a maioria da nossa torcida ganha salários baixos. Cobrar R$ 80 por um ingresso representa mais de 10% do salário mínimo. Agora imagine um pai que quer levar o filho ao jogo – o custo dobra. Sei que o Flamengo tem torcedores de todas as classes sociais, mas a gestão do clube precisa considerar o todo. Durante a campanha, tanto o atual vice-presidente de Futebol quanto o presidente afirmaram que o Flamengo seria aberto à Nação Rubro-Negra, que é formada por pessoas de todas as classes.
Li algumas justificativas, como: “Há muito tempo o ingresso custa esse valor“, mas pergunto: As condições oferecidas ao torcedor mudaram? Transporte público eficiente, banheiros limpos, alimentação acessível, estacionamento organizado? A resposta é um sonoro NÃO! O pacote que querem que compremos por R$ 80 não condiz com o que nos é entregue. A maioria dos jogos acontece no Engenhão, um estádio com péssima localização, conforto limitado, estacionamento e alimentação caros, entre outros problemas.
Além disso, o peso da competição em questão deve ser levado em conta. Estamos falando de uma semifinal da Taça Guanabara. Não é um jogo de mata-mata de Libertadores ou final de Campeonato Brasileiro. As condições oferecidas ao torcedor hoje são praticamente as mesmas que conheci em 1995, quando fui pela primeira vez a um estádio – as mesmas da época do meu pai e do meu avô. Pouquíssima coisa mudou!
Comparar os preços daqui com os da Europa é um absurdo. Lá, mesmo nas piores condições, há um mínimo de conforto e respeito ao torcedor. Aqui, não sabemos sequer se voltaremos para casa em segurança. Além disso, os grandes clubes europeus possuem estádios próprios e times altamente competitivos. Eles vendem entretenimento, algo que está muito distante da realidade brasileira. Aqui, pagamos apenas pelo jogo de futebol, e mesmo assim, a qualidade do espetáculo e da estrutura está aquém do ideal.
Se as federações impõem custos elevados aos clubes, cabe às agremiações questionarem e discutirem essas questões. São os clubes que sustentam as federações, não o contrário. Há uma crise nas arquibancadas em todo o Brasil, e aumentar o preço dos ingressos não resolverá isso – pelo contrário, só afastará mais torcedores.
Não sou o único a discordar do valor cobrado para esse jogo. Boa parte da torcida questionou, assim como muitos jornalistas especializados. Um ótimo texto que exemplifica isso é o de Bruno Voloch, no UOL: “Futebol carioca vive ‘crise’ nas arquibancadas; Engenhão e preços são considerados vilões“.
Peço à diretoria do Flamengo: não nos afastem do que mais amamos – assistir ao Flamengo jogar. Todos erram, mas persistir no erro é insensatez. Não abusem do nosso amor, que é infinito e incondicional, mas não deveria ser explorado. Deixem o Flamengo com o povo! Os deuses do futebol assim decretaram.
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