A possibilidade do Flamengo finalmente tirar do papel a criação de um banco digital voltou ao centro do debate rubro-negro após a apresentação feita por Luiz Eduardo Baptista, o Bap, nesta terça (23). O encontro, realizado na sede da Gávea, teve como pano de fundo a discussão sobre os caminhos financeiros do clube em um cenário cada vez mais competitivo, marcado pelo avanço das SAFs, pela entrada de grandes investidores no futebol brasileiro e por mudanças regulatórias que podem alterar de forma profunda o equilíbrio entre clubes associativos e empresas do futebol.
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Bap falou como presidente que olha além do mandato, projetando o Flamengo não apenas para o próximo exercício, mas para a próxima década. O discurso partiu de um alerta conhecido, porém necessário. Permanecer no topo exige atenção constante, sobretudo quando vitórias acumuladas criam a ilusão de que a hegemonia é eterna. Ele citou exemplos históricos do futebol nacional de clubes que dominaram o continente, viraram referências de gestão e acabaram pagando um preço alto ao se acomodarem institucionalmente. O alerta é direto: sucesso esportivo não substitui profissionalização nem garante sustentabilidade futura.
É nesse contexto que surge novamente o banco digital, uma ideia aprovada pelo Conselho Deliberativo, mas que nunca avançou de fato. À época, a parceria com o BRB foi anunciada como uma das grandes apostas para diversificar receitas. O projeto, porém, esfriou em meio a questões internas e externas que tiraram a prioridade do tema. Agora, segundo o próprio Bap, o assunto voltou à mesa. Em conversa recente com o novo presidente do BRB, Nelson Antônio de Souza, houve sinalização clara de interesse em retomar a iniciativa, desde que o projeto seja tratado com governança, profissionais de mercado financeiro e visão de longo prazo.
A lógica apresentada é simples e ambiciosa. Um banco digital com a força da marca Flamengo pode se transformar em um ativo relevante no médio prazo. Não apenas como instrumento de relacionamento com torcedores, mas como unidade de negócio capaz de gerar valor próprio. Em um cenário mais avançado, parte dessa operação poderia até ser monetizada, seja por venda de participação minoritária ou por parcerias estratégicas, ajudando a financiar projetos estruturais como o estádio próprio.
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A fala de Bap conecta o banco digital a um diagnóstico maior sobre o futebol brasileiro. Enquanto clubes associativos lidam com limites legais, políticos e fiscais, SAFs avançam com capital agressivo, muitas vezes de origem pouco transparente. O dirigente citou riscos reais ligados à entrada de dinheiro sem lastro claro, à lavagem de recursos por meio do futebol e à assimetria competitiva que pode se aprofundar nos próximos anos. Na sua visão, não é exagero imaginar que, em 2029, o Flamengo seja o único grande clube do país que não tenha se transformado em SAF. Isso não seria um problema em si, desde que o clube consiga criar mecanismos próprios para competir em igualdade de condições.
Nesse ponto, a profissionalização aparece como pilar central. O organograma apresentado, com protagonismo dos executivos e redução do peso político no dia a dia, foi citado como exemplo do caminho a seguir. Bap usou casos recentes de outros clubes para ilustrar como pressões internas podem sabotar decisões técnicas. Para ele, preservar o Flamengo passa por blindar a gestão profissional de disputas eleitorais e interesses pessoais, algo que vale tanto para o futebol quanto para projetos financeiros e comerciais.
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O banco digital, portanto, não surge como promessa isolada, mas como parte de uma estratégia mais ampla de diversificação de receitas. Ele se soma a outras frentes citadas na apresentação, como a expansão da Flamengo TV, o fortalecimento da marca própria, a entrada no mercado de moda casual, investimentos no Maracanã e a valorização do clube social e olímpico. A mensagem é clara. O Flamengo precisa faturar mais para continuar sendo competitivo, não apenas hoje, mas quando enfrentar fundos soberanos, conglomerados internacionais e legislações ainda mais complexas.
Ao final, o tom foi de pragmatismo. Não há garantia de títulos todos os anos, nem no futebol nem fora dele. O compromisso, segundo Bap, é fazer o que precisa ser feito para proteger a instituição, mesmo que algumas decisões tenham custo político ou impacto de curto prazo. Para quem acompanha a história recente do clube, o recado soa como uma lição aprendida a duras penas no passado. Planejamento não é luxo, é sobrevivência. E, se o banco digital finalmente sair do papel, pode se tornar um dos movimentos mais relevantes do Flamengo fora das quatro linhas na próxima década.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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