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Imagina se fosse o Flamengo? Conflito de interesses: presidente da LFU assume cargo no Corinthians

Imagina se fosse o Flamengo? Conflito de interesses: presidente da LFU assume cargo no Corinthians

Imagem: Reprodução/Corinthians TV

Um movimento silencioso nos bastidores do futebol brasileiro expôs, nesta semana, um conflito de interesses que tende a passar quase despercebido no noticiário esportivo. Marcelo Paz, até então CEO da SAF do Fortaleza e atual presidente da Liga Forte União, assumiu o cargo de diretor de futebol do Corinthians, com contrato até o fim de 2026. A decisão cria uma situação inédita e delicada dentro da principal articulação econômica do futebol nacional, responsável por negociar direitos comerciais e de transmissão do Campeonato Brasileiro.


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A questão não está apenas na troca de função. O ponto central é que Marcelo Paz permanecerá no comando da Liga Forte União mesmo após assumir um cargo executivo remunerado em um dos clubes mais poderosos do país. A LFU reúne dez equipes da Série A e se apresenta publicamente como um bloco que busca equilíbrio, governança e isonomia na distribuição de receitas. Na prática, o dirigente que deveria zelar pelo interesse coletivo passa a responder diretamente aos interesses de um filiado com enorme peso político e financeiro.

O histórico recente torna o cenário ainda mais sensível. Durante as negociações dos direitos de TV, a Liga Forte União abriu exceções importantes para garantir a adesão do Corinthians. O clube paulista recebeu valores antecipados, tratados formalmente com outro nome, mas reconhecidos nos bastidores como luvas, além de empréstimos vultosos. À época, dirigentes da LFU defendiam publicamente a necessidade de evitar privilégios e combater distorções no modelo de distribuição. Agora, o mesmo presidente da liga assume um cargo estratégico justamente no clube mais beneficiado por essas flexibilizações.

A leitura nos bastidores é direta. O Corinthians enxerga na chegada de Marcelo Paz uma oportunidade de ampliar sua influência política dentro da LFU. Reportagens do setor de marketing esportivo já indicam que o clube pretende usar essa posição para ter mais protagonismo nas discussões sobre receitas, governança e formatos de comercialização do Brasileirão. Em outras palavras, o dirigente que deveria atuar como árbitro passa a vestir, simultaneamente, o uniforme de um dos times em campo.

O paralelo com a Libra ajuda a dimensionar o problema. No bloco rival, o diretor jurídico também exerce função semelhante em um clube, no caso o Palmeiras. Quando o Flamengo enfrentou disputas internas na Libra, a percepção rubro-negra sempre foi a de falta de isenção nas decisões. O questionamento agora é inevitável: se o Corinthians tiver um impasse dentro da Liga Forte União, Marcelo Paz atuará em favor de quem? Do conjunto dos clubes ou do empregador que paga seu salário?

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É nesse ponto que o Flamengo entra no debate de forma indireta, mas central. A crítica não se restringe ao Corinthians ou à LFU, mas à naturalização desse tipo de arranjo. Dirigentes considerados “modernos”, muitos deles oriundos de SAFs, passaram a ocupar espaços de poder em blocos econômicos que deveriam ser independentes. O próprio Paz foi alçado a esse status quando liderou a transformação do Fortaleza em SAF, modelo que passou a ser defendido como solução estrutural para o futebol brasileiro. Curiosamente, foi exatamente esse acúmulo de funções que Bap, presidente do Flamengo, criticou publicamente ao apontar riscos de clubes confundirem governança com interesses particulares.

O peso político não é um detalhe menor. Enquanto o Fortaleza, mesmo organizado, nunca teve força real para influenciar decisões macro do futebol nacional, o Corinthians opera em outra escala. Trata-se de um clube com torcida massiva, histórico de negociações diferenciadas e passivos bilionários, como o da Arena Corinthians junto à Caixa Econômica Federal, empurrados por anos sem solução definitiva. A possibilidade de repetir estratégias semelhantes dentro da LFU preocupa dirigentes e torcedores atentos ao tema.

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A reação tímida da imprensa chama atenção. Casos semelhantes envolvendo o Flamengo costumam ganhar manchetes, editoriais inflamados e debates prolongados sobre ética e governança. Desta vez, o silêncio predomina. A hipótese levantada por torcedores é simples: se o diretor jurídico da Libra fosse remunerado pelo Flamengo, ou se o presidente da LFU assumisse um cargo executivo na Gávea, o tratamento seria o mesmo?

O episódio revela mais do que um nome em trânsito entre cargos. Escancara um modelo de organização do futebol brasileiro que ainda convive mal com a noção de conflito de interesses. Ligas, blocos econômicos e clubes seguem misturando funções, enfraquecendo a confiança em decisões que impactam bilhões de reais. Para o Flamengo, que já enfrentou situações semelhantes em outros fóruns, o caso serve como alerta e argumento. O problema não é quem ocupa o cargo, mas a permissividade de um sistema que aceita como normal aquilo que deveria causar constrangimento público.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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