Jornalistas atacam posts do Flamengo zoando Palmeiras e Sormani ofende Bap
O debate reapareceu com força nesta semana, quando comentários feitos por Luiz Eduardo Baptista durante a festa de mais um título do Flamengo e posts bem-humorados do clube nas redes sociais provocaram reação imediata de jornalistas paulistas em um programa da revista Placar. A discussão misturou crítica à postura institucional do clube, ataques pessoais ao presidente rubro-negro e a velha rivalidade Rio x São Paulo, reacendida em meio ao momento esportivo favorável dos clubes cariocas.
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O estopim veio na celebração do título nacional, no Maracanã, quando Bap afirmou que o Flamengo se planejou para vencer Campeonato Brasileiro e Libertadores e cumpriu exatamente o roteiro traçado no início do ano. Ao ser perguntado sobre o futuro do técnico Filipe Luís, respondeu em tom provocativo, pedindo que a torcida aproveitasse o momento, e encerrou com uma frase que incomodou parte da imprensa paulista ao mencionar “detratores” e fazer referência direta à “terra da garoa”. A fala correu rapidamente pelas redes e foi levada ao programa da Placar, onde os comentários ganharam um tom mais pessoal.
No estúdio, a análise esportiva deu lugar a julgamentos de caráter. Sormani classificou o dirigente como “arrogante” e “insuportável”, extrapolando o conteúdo da declaração e deslocando a discussão do campo institucional para o ataque individual. O contraste chamou atenção porque, poucos minutos depois, os mesmos comentaristas passaram a criticar os posts do Flamengo no X, antigos Twitter, sob o argumento de que o clube, enquanto instituição, não deveria “zoar” adversários.
Foi ali que o debate ganhou contornos mais amplos. A crítica recaiu sobre publicações recentes do Flamengo ironizando o Palmeiras após conquistas rubro-negras. Para os jornalistas paulistas, esse tipo de comunicação seria inadequado para um clube de grande porte. O argumento, porém, encontrou resistência mesmo dentro do próprio programa, quando se lembrou que práticas semelhantes são comuns a praticamente todos os grandes clubes do país.
O contexto histórico ajuda a entender a sensibilidade do tema. A rivalidade entre Rio e São Paulo no futebol não é nova. Em 1974, durante a concentração da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, jogadores cariocas e paulistas se dividiam até nas mesas de refeição, como já relatou Marinho Peres em entrevistas anos depois. Esse antagonismo diminuiu ao longo das décadas, especialmente quando clubes paulistas dominaram cenários nacional e continental enquanto o futebol carioca atravessava crises financeiras profundas.
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Nos últimos anos, o cenário mudou. Flamengo, Fluminense e Botafogo acumularam títulos relevantes, enquanto o Flamengo chegou a feitos inéditos na era dos pontos corridos, ao conquistar Brasileiro e Libertadores no mesmo ano em 2019 e repetir o feito em 2025. Nesse intervalo, clubes do Rio levantaram quatro Libertadores consecutivas, algo que recolocou o eixo carioca no centro do debate esportivo. A ascensão coincidiu com uma reação de setores da mídia paulista, acostumados a tratar o futebol do Rio como coadjuvante durante boa parte da década passada.
É nesse ambiente que os posts do Flamengo passaram a ser tratados como problema. O ponto central levantado por críticos diz respeito à institucionalidade. Para eles, memes e provocações não deveriam partir de contas oficiais. O contraponto, sustentado por analistas independentes e lembrado durante o próprio programa, é simples: Palmeiras, Corinthians, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio e Internacional fazem o mesmo há anos. Em 2016, por exemplo, o Palmeiras lançou uma camisa comemorativa do título brasileiro com provocação direta ao Flamengo, estampando a frase “Sem choro nem cheiro”. Na época, não houve debate nacional sobre ética ou limites da comunicação.
O tratamento desigual virou parte da discussão. Memes só se transformam em pauta quando o Flamengo publica. Quando vêm de outros clubes, são absorvidos como folclore do futebol. O discurso se torna ainda mais contraditório quando comparado à tolerância com episódios realmente graves. No programa, a crítica aos memes rubro-negros apareceu acompanhada da tese de que essas postagens poderiam estimular violência entre torcedores. Casos concretos de violência ligada a organizadas paulistas, inclusive com vítima fatal, raramente recebem o mesmo espaço ou indignação.
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Outra camada do debate envolve o papel das redes sociais na comunicação moderna. Plataformas digitais não são extensões formais dos sites institucionais. Funcionam como espaços de linguagem popular, aproximação com o torcedor e disputa de atenção. O Flamengo não publica memes no site oficial nem em comunicados formais. Usa o humor nas redes, assim como os rivais, para dialogar com sua base. Ignorar essa mudança é tratar a comunicação esportiva com lentes dos anos 1990.
A discussão também expôs uma crise mais ampla no jornalismo esportivo. Influenciadores e jornalistas tradicionais se misturam num ecossistema em que opiniões passionais disputam espaço com análises técnicas. Ao rotular reações críticas como “coisa de influencer”, parte da imprensa acaba usando o termo como muleta para não rever práticas antigas, inclusive conflitos de interesse já documentados na história recente do jornalismo esportivo brasileiro.
No fim, o episódio diz menos sobre memes ou frases de comemoração e mais sobre incômodo com o momento vivido pelo Flamengo. O clube venceu, provocou e ocupou o centro do noticiário. A reação veio carregada de moralismo tardio, ataques pessoais e saudosismo de uma hierarquia que, hoje, já não se sustenta nos resultados de campo.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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