Márcio Braga é, sem dúvida, o maior presidente da história do Flamengo. Isso fica claro por ser o presidente mais vencedor do clube e o que teve mais mandatos – seis ao todo. Nenhum homem incompetente em sua função seria presidente do clube mais popular do Brasil tantas vezes.
Esta semana, li sua autobiografia “Márcio Braga – Coração Rubro-Negro”, lançada no final de 2013, ano em que o entrevistei para a série “Ex-Presidentes do Flamengo”. Você pode assistir à entrevista [neste link].
O livro me mostrou um Márcio Braga que não explorei em nossa entrevista. Confesso que não sou fã de autobiografias (prefiro biografias “não autorizadas”), mas não podia deixar de ler este livro. Como pesquisador da política do clube e entrevistador de ex-presidentes há três anos, essa leitura era obrigatória. E não me arrependi.
Na biografia, conhecemos Márcio Baroukel Braga – assim ele assina como Oficial de Registro. Descobrimos o tabelião, o torcedor, o político, o filho, o pai… São muitas facetas que a maioria talvez não conheça.
Formado em Direito, tornou-se tabelião por indicação do presidente Juscelino Kubitschek (foi casado com sua sobrinha). Iniciou sem experiência, mas modernizou a profissão, trazendo tecnologia pioneira para seu cartório. Foi deputado estadual em 1982 e 1986, tornando-se constituinte por sua contribuição na elaboração da Constituição de 1988.
Como rubro-negro, Márcio nos presenteia com histórias memoráveis. Uma delas é a entrega da bandeira do Flamengo ao Papa João Paulo II em 1980. A foto icônica esconde um drama: o Papa mudou seu percurso, e Márcio só conseguiu fazer a entrega graças à ajuda do arcebispo vascaíno Dom Eugênio Sales. Posteriormente, os Papas Bento XVI e Francisco também receberam mantos rubro-negros.
O envolvimento de Márcio Braga com a política do Flamengo começou antes de chegar à presidência. Durante a primeira gestão de André Gustavo Richer (1969-1971), que teria outro mandato entre 1972 e 1973, Márcio Braga se uniu a um grupo de rubro-negros que se reunia regularmente para discutir os rumos do clube. Juntos, auxiliaram o então presidente a sanar as dívidas do Flamengo, que já enfrentava problemas financeiros na época. Quem acha isso uma novidade engana-se: o grupo de Márcio e Carlinhos Niemeyer conseguiu liquidar cerca de 90% da dívida existente.
A FAF (Frente Ampla pelo Flamengo) surgiu em 1976. Márcio Braga tornou-se candidato quase por acaso. O ‘Grupo Forte’, como era conhecido (e do qual já falei anteriormente), passou a contar com figuras como Walter Clark, João Carlos Magaldi e João Araújo. Inspirada na Frente Ampla política que reunira Juscelino Kubitschek, Jango e Lacerda em Lisboa contra a ditadura, a FAF trouxe ao Flamengo uma nova forma de conquistar eleitores: levaram a campanha para além dos muros do clube – estratégia semelhante à adotada pela Chapa Azul em 2012. Márcio Braga chegou a fazer campanha em São Gonçalo, cidade onde resido, distante do coração rubro-negro. Ele venceu sua primeira eleição no clube com 1.302 votos, derrotando o então favorito Hélio Maurício, que buscava a reeleição. O livro traz ricos detalhes sobre esse pleito histórico.
A gestão de Márcio Braga introduziu no Flamengo uma administração que foi copiada por outros clubes brasileiros e que perdura até hoje, mas que na época era supermoderna e não por acaso culminou com dezenas de títulos nos anos posteriores.
Em suas gestões, Márcio foi responsável:
Pela criação do Baile Vermelho e Preto, que acontece até hoje, mas longe do glamour dos anos 70 e 80;
Por lutar para que a Lubrax estampasse sua marca no Manto Sagrado, o que foi um pioneirismo, pois nenhum clube tinha patrocínios na camisa, criando um novo tipo de receita para o clube;
Por garantir, não só ao Flamengo, mas a todos os clubes do futebol brasileiro, a receita com os direitos de transmissão dos jogos – até 1977, as TVs não pagavam um centavo;
Pela criação do Clube dos 13 e da Copa União em 1987;
Por bater de frente com os maiores mandachuvas do futebol brasileiro e mundial que presidiam a CBF e a FIFA.
O caso mais emblemático foi ao descobrir um erro jurídico na reeleição de Ricardo Teixeira como presidente da CBF em 1992. O Flamengo entrou na Justiça para anular o pleito. Teixeira recorreu ao seu sogro, o presidente da FIFA, que puniu o Flamengo com suspensão, proibindo o clube de fazer jogos internacionais. Márcio Braga processou a FIFA e ganhou — nunca um clube havia processado a entidade máxima, ainda mais quando presidida por João Havelange, o mais controverso de seus dirigentes.
Márcio Braga merece um capítulo à parte na história centenária do Flamengo. Aos interessados na história e na política do clube, leiam a biografia.”
Informações do livro Coração Rubro Negro – Histórias do tabelião, cartola e político
Autor: Marcio Braga
Gênero: Biografia
Páginas: 288
Formato: 15,5 x 23 cm
ISBN: 9788564116641
Entrevista com Márcio Braga concedida ao Blog Ser Flamengo em 2013
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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