Massini diz que Flamengo defende fair play para “asfixiar adversários”; entenda a polêmica
A afirmação de Paulo Massini de que Flamengo e Palmeiras defenderiam o fair play financeiro como instrumento para “asfixiar adversários” recolocou o debate sobre governança no futebol brasileiro em um terreno mais ruidoso do que técnico. Ao atribuir intenção clubística a uma pauta que envolve controle de gastos, sustentabilidade e padronização regulatória, o comentarista transformou uma discussão estrutural em embate ideológico, gerando reação imediata de dirigentes, torcedores e parte da própria imprensa.
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A frase caiu como gasolina em um ambiente já inflamado. Ao sugerir que a defesa do fair play financeiro teria como objetivo estrangular concorrentes, Massini deslocou o debate do campo da gestão para o da intenção. “O fair play é usado para amarrar os adversários”, disse, em síntese, ao comentar a convergência de posições entre Flamengo e Palmeiras. A leitura, no entanto, ignora o histórico do tema no futebol internacional e a própria cronologia recente do debate no Brasil.
Desde o início dos anos 2010, o fair play financeiro se consolidou como mecanismo de controle de gastos e estímulo à sustentabilidade. A UEFA o implementou para reduzir riscos sistêmicos e frear déficits crônicos; ligas nacionais seguiram caminhos semelhantes. No Brasil, a pauta reaparece de forma intermitente, quase sempre quando crises financeiras de clubes tradicionais expõem atrasos salariais, passivos fiscais e dependência de antecipações. Defender regras não é, por si, defender punições seletivas; é estabelecer parâmetros.
No caso específico do Flamengo, a posição veio acompanhada de documentos. O clube apresentou estudos técnicos ao discutir padronização de gramados, sem citar adversários, e sustentou publicamente a necessidade de critérios claros para competição. A reação palmeirense, liderada por sua presidente, individualizou o debate. Só depois houve resposta pública do presidente rubro-negro, em tom irônico, mas posterior à nota inicial. A ordem dos fatos importa porque desmonta a tese de um ataque premeditado.
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A fala de Massini também esbarra em um dado básico: fair play financeiro não cria dinheiro, tampouco retira receitas legais. Ele condiciona gastos ao que cada instituição é capaz de gerar. Se um clube opera com superávit e governança, a regra não o “protege”; apenas impede que outro compense má gestão com endividamento contínuo. Chamar isso de asfixia equivale a condenar boas práticas por produzirem vantagem competitiva.
Há ainda um equívoco recorrente ao misturar gramados sintéticos, receitas de shows e governança. No caso do Allianz Parque, a exploração comercial do espaço é realizada por concessionária, com repasses contratuais ao clube. Padronizar campos, se aprovado, afetaria modelos de negócio específicos, mas não configura perseguição. Trata-se de uma decisão regulatória, com vencedores e perdedores, como qualquer regra esportiva.
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Ao final, o episódio revela mais sobre a fragilidade do debate público do que sobre a intenção dos clubes. Opinião é legítima; imputação de propósito exige prova. Ao afirmar que o fair play serve para “asfixiar”, o comentário desloca a discussão para o terreno da suspeita e empobrece um tema que pede números, contratos, estudos médicos e impacto econômico. O futebol brasileiro precisa menos de adjetivos e mais de método.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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