-Professora, preciso ir.
-Não vou segurar ninguém!
Esperar o elevador? Não mesmo. Ademais, os degraus dos oito andares que desci, nem foram sentidos. Desabalada carreira rumo ao ponto de ônibus, sabendo que em 10 minutos o jogo iria começar. ”Diabo de professora. Tinha que passar atividade pontuada justo hoje? ” Pensei contrariada. Uma vez no ponto de ônibus, os minutos passaram e a bola rolou. O rádio do celular me sintonizava com o Equador, e em poucos minutos, com o primeiro gol, lá estava eu, cutucando desconhecidos, berrando e enchendo de vergonha alheia os presentes. Não deu pra segurar a euforia. Isso aqui é Flamengo!!!
Após o jogo em Guayaquil, fui dormir extremamente satisfeita. Não era só a vitória propriamente dita, foi o Mengão dando a nós a esperança e afirmando a grande responsabilidade de saber que só dependeríamos de nós mesmos. O peso desse Manto que vai exercer, mais uma vez, toda a sua pressão pra cima dos rapazes de nosso plantel. No Maraca fervendo, uma decisão. Antes do famigerado mata-mata, uma noite para testar o coração. Uma vitória por um sonho.
Com o bom humor pós-vitória que se estendeu pela semana e resquícios do cansaço costumeiro, amanheci no domingo com fome de bacalhau. Foi com tranquilidade que vi o gol dos vices serem comemorados, e com muita alegria que comemorei o gol, golaço, de Paulinho. A vantagem é nossa, a casa é nossa, e o título quer muito e implora para ser nosso. Não vou dizer que vi um grande futebol, não vou dizer que é muito legal empatar com o Vasquinho com um jogador a menos. Mas vou dizer que a vantagem é nossa e ponto final. E depois do jogo, aquela síndrome de domingo a noite tão comum, foi paulatinamente substituída pela minha precoce tensão pré-libertadores. Eu me conheço e sei que quando o juiz apitar o fim daquela partida, a indiferença será impossível.
Diversos heróis, prováveis e improváveis me passam pela cabeça. Lances se desenham, ansiedade batendo a mil. Aquela irremediável mania de achar que se essa batalha for vencida, todas poderão ser… e podem. Desde que me conheço como Rubro-Negra, deposito uma fé sobrenatural no Mengão. E uma vontade de viver um pouco das coisas que sinto saudade sem nunca tê-las vivido. Quando nossa Seleção de Ouro nos levou ao topo da América, eu nem mesmo constava nos sonhos de minha mãe. Preciso sentir essa sensação sem estar entregue a nostalgia. Preciso ter mais essa história para contar como observadora e como personagem. Pode parecer que esqueci que mesmo que ganhemos na quarta, o caminho para a realização do sonho do Bi, será longo, dificílimo e árduo. Mas eu não esqueci. Apenas me lembro constantemente que jamais ouve adversário mais difícil do que nós mesmos. A luta interna é de longe a mais dura. Por isso não temo o León, as oitavas, as quartas, enfim. Temo apenas o peso do Manto e almejando a vitória de nossos atletas sobre suas próprias deficiências e dificuldades, para que o sonho não morra, e que seja mensurável e palpável. Merecemos isso.
Como reagirei em caso de derrota? Não faço ideia. Nem quero. Melhor que sofrer com pessimismo, é vislumbrar o brilho da longínqua taça, sabendo que serei Flamengo até o fim, independentemente de qualquer coisa. Se vou chorar de frustração, amargando a derrota, ou se vou me jogar na emoção da vitória, disso só Deus poderá saber. A única certeza é que a vida pode se acabar a qualquer momento, mas enquanto houver ela, dentro de mim haverá Flamengo, e enquanto houver Flamengo… Não vou segurar a emoção.
Twitter: @BrunaUchoaT
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