O batismo rubro-negro.

Tulio Rodrigues

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E tudo começou naquele 27 de maio de 2001, pouco menos de 14 anos atrás. Por tudo que ocorreu aquele dia, por aquele gol e por toda a carga emocional envolvida. Eu não entendia bem porque o Flamengo precisava vencer o Vasco por mais de um gol de diferença. Porque aquele primeiro gol de Edilson, de pênalti, não servia pro tricampeonato carioca? Eu não fazia ideia, só torcia pra ver pela primeira vez o Flamengo campeão diante dos meus olhos.

Aos 9 anos, aquele título, que hoje já não tem o mesmo valor, a mesma gana de conquista, era equiparado a um título brasileiro. Na minha mente – e assim seguiu pra mim até 2009, quando ainda tínhamos o Maracanã(sem reforma pra Copa) -, o título carioca era muito importante, era certeza de noite festa no Rio de Janeiro. E por mais que eu não morasse lá, era certeza de uma noite ótima, feliz, do Flamengo aparecendo em todos os noticiários como Campeão Estadual.

Sem dúvidas, para além daquele time, foi o sérvio, chamado Dejan Petkovic, quem me batizou como rubro-negro. Aos 43 do segundo tempo, estando 2 a 1 no placar, o que dava o título ao Vasco e o Flamengo precisando demais de um gol. A falta era bem distante do gol, quase impensável que viesse dali a alegria de tanta gente. Mas o Pet foi lá, ajeitou a bola e aguardou o apito do árbitro. E como se já soubesse de antemão, o Maracanã inteiro silenciou. Mãos balançando, esticadas e aquela voz que arrepia só de pensar: Mengô…!

Era a tentativa de passar energia, para que aquela bola entrasse, de qualquer maneira no gol de Hélton, não importando como. E deu certo! Pet cobrou e a bola foi no ângulo esquerdo de Hélton, no lugar exato. Um centímetro mais alta e ia na trave. Um centímetro mais baixa e ele espalmaria. Veio gol, a barreira vascaína desabou, Pet corria enlouquecidamente, sem saber muito bem pra onde ir, só queria comemorar. O time foi junto, o banco levantou. Pessoas corriam, pulavam, se sentiam crianças quando recebem a notícia que passaram de ano. Adriano, que anos mais tarde estaria com Pet nos dando o hexa em 2009, também estava ali, naquele banco e era uma das “crianças” que, ainda moleque, pulava e gritava que era campeão, sem crer muito naquilo que estava presenciando e fazendo parte.

Foi aquele gol que deu início a tudo, que fez o Maracanã tremer e cantar com força, botando pra fora sua alegria. Eu via aquilo pela primeira vez e me apaixonei. Dois meses depois, eu ganho meu primeiro manto, do meu tio, mas ali eu já estava batizado.

De lá pra cá, já vi o Flamengo ser campeão várias vezes. Foram 6 Campeonatos Carioca, 2 Copas do Brasil e 1 Campeonato Brasileiro. Cada um com seu grau de importância, mas a ampla maioria comemorada da mesma forma. A exceção fica ao Campeonato Brasileiro, título que não tínhamos a 17 anos, a contar de 1992 a 2009.

Tive momentos desagradáveis também, como mais torcedores tiveram de 2001 até aqui. Vi o Flamengo perder a final da Copa do Brasil de 2004 para o Santo André, vi por vários anos brigar contra o rebaixamento, e alguns de forma mais dramática que outros. Eliminações na Libertadores da América: 2007, Defensor do Uruguai; 2008, América do México; 2010, Universidad de Chile; 2012 e 2014, eliminação precoce na fase de grupos. Em todas as Libertadores a dor demorou a cessar. E quem sabe nas de 2008 e 2010, a dor tenha sido maior. Na primeira, pela falta de experiência do grupo, quando tinha um resultado de 4 a 2 ‘em mãos’. Na segunda, a real chance, depois de tantos anos, de disputar uma semifinal de Libertadores. Recentemente, em 2014, a eliminação da Copa do Brasil para o Atlético-MG na semifinal. Também foi dolorida, principalmente pelo que ocorreu no segundo tempo do jogo decisivo.

Enquanto eu escrevi esse texto, até o presente momento, me emocionei em alguns pontos, a lágrima veio e voltou. Já ouvi por vezes nesses 14 anos de alma rubro-negra: “Sofrer por futebol? Ver o time perder e ficar ali chorando a derrota, enquanto os caras(jogadores) vão para suas mansões, beber e curtir a vida e rir da sua cara? Porque o fato de 22 caras correrem atrás de uma bola, pra acertar aquela trave te faz feliz e triste em alguns momentos?”

No sentido racional, é totalmente entendível esse pensamento. Em diversas vezes me fiz essas perguntas e pensava em largar, abandonar o amor que sinto, mas logo após proferir ditas questões, eu beijava o nosso manto – que para os demais não passa de uma simples camisa – e dizia com toda certeza: “Eu te amo muito, Flamengo!”

E depois de tantas coisas vividas, de ver tanta gente tentar a todo custo te destruir, te levar ao fundo do poço, hoje eu tenho uma esperança renovada de um futuro melhor. Te vi apanhar, ser goleado, motivo de chacota, piada, mas vejo e espero que num futuro não muito distante, tudo isso vai mudar. A nossa tão sonhada segunda conquista da Taça Libertadores da América se tornará realidade. O que já falei muitas vezes: não acho que esteja tão longe quanto antes.

Dois mil e quinze é ano de continuar acreditando, apoiando, torcendo e ajudando da forma que pudermos. Completarei 14 anos como torcedor, e nesses 14, só uma vez tive o privilégio de ir ver o Flamengo jogar. Dia 1 de maio de 2013: Campinense-PB 1 x 2 Flamengo. Uma noite linda, noite de Copa do Brasil(a qual meses depois  seríamos campeões) e uma noite de Flamengo.

São catorze anos de torcida, de devoção, de um amor incondicional e a esperança que sempre viverá, de viver algo parecido ao que a geração de 1980 viveu com aquele time fantástico. Não de apenas ser Campeão Brasileiro, mas de ser Campeão da América de do mundo de novo.

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