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O contrato da Libra explicado, os cenários, valores: o que o Flamengo contesta e o que está em jogo

O contrato da Libra explicado, os cenários, valores: o que o Flamengo contesta e o que está em jogo

Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

O Flamengo entrou em rota de colisão com a Libra, entidade criada para organizar a venda coletiva dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. O embate, que chegou à Justiça, gira em torno do critério usado para calcular a fatia de cada clube no bolo financeiro, estimado em mais de R$ 1,1 bilhão, e do modo como as diferentes plataformas de exibição influenciam essa conta.


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A controvérsia ganhou corpo após a revelação feita por Fabrício Chicca, do canal Mundo na Bola, que obteve acesso ao estatuto da Libra e divulgou trechos que até então permaneciam restritos aos dirigentes. O documento, segundo ele mostrou, determina que 30% do valor do contrato devem ser distribuídos conforme a audiência, ponderada pela contribuição de cada plataforma: TV aberta, fechada ou streaming. O problema é que o estatuto não define qual o peso de cada uma delas.

Essa lacuna, aparentemente técnica, tem impacto direto sobre a arrecadação dos clubes. O Flamengo questionou a ausência do detalhamento e pediu à Libra que fosse elaborado um texto auxiliar especificando como seria feita essa ponderação. A entidade concordou, mas o acordo não avançou. A indefinição se tornou o ponto central da ação judicial movida pelo clube.

Rodrigo Matos, jornalista especializado em bastidores econômicos do futebol, confirmou a informação e explicou que o contrato da Libra com a Globo não distingue o valor correspondente a cada plataforma. “Você tem um texto que é uma premissa geral, mas não tem o detalhamento”, resumiu. Segundo ele, o impasse foi debatido em assembleias realizadas entre maio e agosto, mas a proposta foi aprovada sem unanimidade, requisito previsto no estatuto, o que abriu espaço para a contestação jurídica do Flamengo.

De acordo com documentos obtidos por Matos, a Libra adotou posteriormente uma regra própria para o rateio: 60% do montante de audiência vinculado à TV aberta, 5% à TV fechada e 35% ao pay-per-view. Essa proporção é justamente o que o Flamengo contesta. Como o clube tem aparecido cada vez menos em transmissões de TV aberta, usadas pela Globo para valorizar o pacote do Premiere, a nova fórmula reduziria sua fatia, ampliando a distância entre o que recebia nos contratos anteriores e o que passaria a ganhar agora.

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No último ciclo, o Flamengo ainda contava com cláusulas de mínimo garantido no pay-per-view, mecanismo que assegurava compensação em caso de desequilíbrio entre as plataformas. Com o novo contrato, essa salvaguarda desapareceu, assim como a obrigação da emissora exibir um número mínimo de partidas do clube em TV aberta. Se o maior bolo para o rateio está na TV aberta e o Flamengo quase não aparece nela, o resultado é óbvio: o clube recebe menos.

Os números ajudam a dimensionar o impacto. Pelas projeções internas da Libra, o Flamengo teria direito a cerca de R$ 197 milhões, o valor é quase R$ 100 milhões a menos do que recebia antes. O Palmeiras ficaria com R$ 180 milhões, e o São Paulo, R$ 160 milhões. Mesmo considerando o desempenho esportivo de 2024, quando o clube paulista terminou atrás do rival alviverde, a diferença permanece sensível.

Para a Libra, o acordo está válido e a regra foi aprovada conforme o estatuto. A entidade já recorreu da decisão judicial que bloqueou R$ 77 milhões referentes à cota de audiência do Flamengo. Nos autos, o grupo alega que o clube tenta reabrir um debate político travado internamente e que a distribuição foi definida com base em critérios técnicos.

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Do outro lado, o Flamengo sustenta que não é possível aplicar uma fórmula sem os parâmetros definidos. O clube defende que o equilíbrio financeiro entre as plataformas é essencial para garantir justiça competitiva e previsibilidade orçamentária.

A disputa ainda está longe do fim. Enquanto a Libra tenta consolidar o modelo de gestão e ampliar sua adesão entre os clubes, o caso do Flamengo expõe as fragilidades jurídicas e políticas de uma liga que nasceu para profissionalizar o futebol brasileiro, mas que ainda tateia em busca de um consenso. O que está em jogo vai além de um cálculo contábil: trata-se de quem controla o fluxo de dinheiro e poder dentro do esporte mais popular do país.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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