O DIA QUE O URUBU CONQUISTOU A NAÇÃO E DERRUBOU O POPEYE – FLAMENGO 130 ANOS
Para celebrar os 130 anos do Flamengo, estamos fazendo uma série de vídeos com os principais acontecimentos da fundação e da história do clube. Hoje, vamos falar dos mascotes.
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Antes de adotar o Urubu, história que vamos contar aqui, o Flamengo teve o marinheiro Popeye, personagem dos quadrinhos, criado em 1929 por Elzie Crisler Segar, como seu primeiro mascote. Tudo começou quando o Jornal dos Sports contratou o cartunista argentino Lorenzo Molas para criar o mascote de cada equipe participante do Campeonato Carioca de 1944.
Daí, ele criou mascotes históricos, alguns utilizados até hoje: o Diabo, do América; o Pato Donald nervoso, do Botafogo; o Cartola Pó-de-Arroz, do Fluminense; e, para o Flamengo, ele criou o Popeye Rubro-Negro, publicado pela primeira vez em 2 de julho daquele ano num cartum.
Duas características foram fundamentais que ligavam o personagem ao Flamengo: a primeira, a ligação com o mar, pelo fato de o clube ter origem no remo, e a segunda, a força e a tenacidade. O Popeye era conhecido por sua força inabalável ao consumir o espinafre e reverter situações quase impossíveis.
Meses depois, o Flamengo conquistou o primeiro tricampeonato da sua história de uma maneira épica. No jogo decisivo contra o Vasco, o argentino Augustín Valido fez o gol do título para o Rubro-Negro aos 41 minutos do segundo tempo, de cabeça. Ele ardia em febre e era dúvida para a partida, já que passara a noite no hospital, até delirando devido ao seu grave estado febril. O título foi épico! Com isso, não demorou para que o Popeye Rubro-Negro fosse relacionado ao título e caísse no gosto popular.
Com o passar dos anos, com a consolidação do Flamengo como um time das massas e do povo, os torcedores rivais passaram a despejar seu preconceito no preto e no pobre Rubro-Negro. Apesar de tentarem fazer um revisionismo histórico, é fato que o termo urubu, muito utilizado na época, tinha cunho racial e social.
CASO PREFIRA OUVIR:
Segundo Aida de Almeida, líder de torcida e notória torcedora do Vasco, em entrevista ao pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda, disse ter testemunhado a primeira vez que os torcedores do Flamengo foram chamados de urubus nos anos 50:
“Quem deu o apelido de urubu aos flamenguistas foi o Tião, dono de uma fábrica de caixas de papelão e que inventava os cantos da Torcida Uniformizada do Vasco, desde os anos 1940. Houve um clássico noturno no Maracanã e a gente gritava com raiva, pois eles haviam roubado nosso espaço nas tribunas: ‘Ô, cachorrada!’ Do meio do alvoroço, Tião decretou: ‘Cachorrada, não. A partir de agora, eles vão ser urubus!’”
Outro fato é que a crônica esportiva sempre associava o urubu como um animal de mau agouro. Tanto que, no dia seguinte à vitória do Flamengo sobre o Botafogo, em 1969, uma das matérias foi intitulada assim: “Urubu pousou na sorte do Botafogo”.
E foi a partir desse jogo que, através de uma ação de torcedores do Flamengo, o urubu foi alçado a mascote do clube, substituindo o Popeye Rubro-Negro. Às vésperas do clássico contra o alvinegro, quatro jovens torcedores: Luiz Octávio Vaz, Romilson Meirelles, Victor Ellery e Erick Soledade, foram ao lixão do Caju e capturaram um urubu. Eles contam um pouco da história em matéria na Flamengo TV.
Com as dificuldades de arrumar o bicho e de entrar no Maracanã resolvidas, Romilson amarrou uma bandeira na pata do urubu. Ele foi solto das arquibancadas, sobrevoou a torcida do Flamengo, que foi à loucura e passou a gritar: “É urubu, é urubu, é urubu!”.
Vale lembrar que o Flamengo não ganhava do Botafogo havia dois anos, quando venceu por 4 a 2, pela 9ª rodada do 1º turno do Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1967. Eram nove partidas com sete derrotas e dois empates. Pelo Estadual, o jejum era maior: quatro anos. A última vitória fora em 31 de outubro de 1965, pela 7ª rodada do 1º turno. 2 a 0 para o Rubro-Negro.
Com todos esses ingredientes, Flamengo e Botafogo entravam em campo em 1º de junho de 1969, pela 3ª rodada do 2º turno do Campeonato Carioca. Tim escalou o Mais Querido assim: Dominguez, Murilo, Guilherme, Onça e Paulo Henrique; Liminha e Rodrigues Neto; Doval, Luiz Cláudio, Dionísio e Arilson.
150 mil pessoas foram testemunhas da vitória por 2 a 1 do Rubro-Negro: Arilson, aos 9, e Doval, aos 23, fizeram os gols da vitória. Paulo César Lima descontou de pênalti para o Botafogo. No dia seguinte, a ave foi alçada a amuleto da sorte do Flamengo. A repercussão foi tamanha que a Justiça proibiu a entrada de urubus no Maracanã. O estádio passou a ter revista na entrada.
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Aqui, vale a gente falar sobre o pai do urubu: Henfil. Ele mesmo. Vamos ao resumo da história. Após enorme sucesso no Jornal dos Sports mineiro, na coluna “Dois Toques”, quando Henfil criou os mascotes do Atlético-MG, um urubu, bicudo e branco; do Cruzeiro, o “Refrigerado”; e o Gato Pingado, para o América-MG, em 1967, a sucursal do jornal no Rio o contratou para abrasileirar os mascotes dos clubes da cidade.
Assim, em 3 de abril de 1969, estreou no Jornal dos Sports o Urubu, relacionado ao Flamengo, e o Bacalhau, ao Vasco. Depois viriam o Cri-Cri, para o Botafogo; o Pó de Arroz, para o Fluminense; e, de novo, o Gato Pingado, para o América do Rio.
O Urubu, com seu jeito malandro, caiu nas graças da torcida, mas não era bem um mascote, estava mais para um personagem. Porém, foi Henfil quem relacionou o bicho de maneira positiva ao Flamengo. Aliado ao que ocorreu dois meses depois, com os torcedores no jogo contra o Botafogo, não teve jeito: ele destronou o Popeye Rubro-Negro.
O mascote ganhou algumas versões e praticamente virou uma assinatura de Henfil. O desenho também foi usado institucionalmente. Em 1985, o publicitário Rogério Steinberg, inventor do projeto “Volta, Zico”, criou o Uruba para a linha de produtos. Ele tinha as mesmas características do Urubu do Henfil: era malandro, bebia, fumava e tinha a vestimenta despojada: Manto Sagrado, bermuda e chinelo. Chegou a ter até uma imagem dele na Gávea.
Em 1987, Ziraldo foi convidado para desenhar os mascotes da Copa União e o Urubu ganhou uma nova versão, utilizada durante muito tempo. Nos anos 2000, ele virou Samuca. Em 2008, ganhou dupla: o Uruba e o Urubinha. Atualmente, ele é representado como Urubão, e a versão infantil, Binho.
Em 2018, com o apoio do Fla Nação, de Sandro Rilho, Altay Veloso e Paulo César Feital lançaram o projeto “Canto do Urubu”. O disco traz 12 músicas sobre o Flamengo, interpretadas só por artistas rubro-negros. Entre elas, a canção que deveria ser definitivamente a que melhor representa o nosso mascote. A interpretação estupenda de Anderson Leonardo é extraordinária, mas a letra traz pedradas como:
“Nunca fui de muito dengo, urubu tem que ter garra, me tornei mascote do Mengo na marra / quando fui jogado ao campo / com meu traje black tie / acabei com a dinastia do Popeye” ou “Henfil fez o meu retrato, desenhou num três por quatro / e botou num jornal famoso / a torcida delirou / quase choro quando lembro / fui carregado nos braços da torcida do Flamengo”. A que eu mais prefiro: “Perderam o bonde / levaram um choque tremendo / quando viram a bandeira do Flamengo / tremulando em lua cheia / foi uma coisa bacana / eu cheguei uns dias antes / da bandeira americana”.
Texto/Roteiro/Edição: Tulio Rodrigues
Fontes de pesquisa:
Livros:
Almanaque do Flamengo – Roberto Assaf e Clóvis Martins – Indisponível para compra
Consagrado no gramado – Roberto Assaf – Link para comprar
Me Arrebata. Vol II – Maurício Neves de Jesus – Link para comprar
Rogério Steinberg – Publicidade – Indisponível para compra
Jornais:
Jornal dos Sports
Sites:
- Museu do Flamengo: Mascotes
- Brasil 247: Henfil e o Urubu do Flamengo
- Blog do Fla: Por que o urubu se tornou mascote e sinônimo do Flamengo
- Rogério Steinberg – Uruba
- Flapress – Quando o urubu se tornou o mascote oficial do Flamengo
- Flamengo TV – 50 anos do Urubu
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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