Um domingo, tardezinha caindo. Flamengo iria jogar, e ao redor do estádio uma farra que começara muito antes dos portões do estádio se abrirem. Ingresso, bandeira na mão. Esperando mais alguns minutos para encarar a fila pra catraca. Curiosa, acompanho dois senhores com o olhar. Um deles conduz, o outro mune-se de uma bengala e radinho, dos de pilha. Manto Sagrado e óculos escuros.
Quando me dei conta de sua deficiência visual, o mesmo parava quase que ao meu lado. E por Deus, tentei, mas não pude deixar de ouvir a conversa que se desenrolava entre os distintos. Não poderia ouvir nem lembrar de tudo, até mesmo por nossa algazarra tão característica, mas me lembro claramente do sorriso no rosto, da alegria exalante daquele senhor. Ele não veria o Flamengo jogar. Mas ele sentiria. E ele festejaria. Festejaria o simples fato de ser Flamengo e se sentir extraordinariamente bem por isso. E ele falava em ver o Flamengo, quando era claro que não havia luz em seus olhos. Talvez porque o Flamengo a gente enxergue com os olhos da alma.
A gente sente o Flamengo rasgando no peito, dando nós na garganta, entorpecendo os sentidos. Festeja no meio da tabela, desafia o mundo. Aquele senhor cego, com as dificuldades que estão embutidas a sua condição, sorri sua presença em meio a Nação. Porque nossa alegria, é contagiante. E mesmo já passando de um cento de jogos sem o famigerado G-4, há uma confiança fora de série. Um orgulho, jamais visto em nenhum lugar do mundo.
Doce seja a adrenalina que o Fla nos impõe. Abençoadas sejam as gerações futuras com a perpetuação do nome Flamengo. Fortes sejam nossos corações pra aguentar as porradas que o Fla nos apronta, e as alegrias com quais nos brinda. Essa energia que torna possível um cego te ver Flamengo, é o que faz a farra na 10º colocação: Amor. Puro. Irracional. Arrepiante.
Twitter: @BrunaUchoaT
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Belo texto parabens
GRATA!!!!
#SRN