Paparazzo critica teorias de conspiração sobre o Ninho e expõe responsabilidade de influenciadores
A reação de influenciadores às teorias de conspiração envolvendo a tragédia do Ninho do Urubu voltou ao centro do debate nesta semana, quando o jornalista youtuber Gabriel Reis, o Paparazzo Rubro-Negro, criticou publicamente canais que relacionaram vitórias recentes do Flamengo a supostos pactos ou rituais. A manifestação ocorreu depois que vídeos de criadores como Raiam Santos, Thiago Lima e perfis ligados ao estilo “mistério e sobrenatural” passaram a circular com força desde a final da Libertadores, em Lima. O tema ganhou tração após declaração de Filipe Luís, que mencionou sentir a presença dos jovens, comentário transformado de forma distorcida por quem buscava viralização fácil.
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O episódio reacende uma discussão que começou logo após a tragédia de fevereiro de 2019, mas que assume novos contornos com o alcance de plataformas como YouTube, TikTok e Instagram. À época, o foco era a responsabilização do clube e o acompanhamento dos acordos com as famílias. Agora, o problema nasce da exploração sensacionalista de um episódio que segue sensível e traumático. Com o aumento de contas que misturam futebol, esoterismo e caça a cliques, a memória dos meninos voltou a ser usada como matéria-prima de indignação fabricada, o que motivou a reação do Paparazzo.
Em sua fala, ele classificou os vídeos como “absurdos, irresponsáveis e cruéis”, apontando que atribuir títulos a um pacto seria uma falta de respeito com os familiares, sobreviventes e com a própria história do clube. Ele citou nominalmente Raiam Santos, o canal Fatos Desconhecidos e Thiago Lima como propagadores do conteúdo, além de denunciar a estratégia de recorrer a teorias sem comprovação para ampliar engajamento. A crítica repercutiu porque atingiu um ponto sensível: o uso de tragédias reais como entretenimento. “Isso não tem a ver com defender o Flamengo”, afirmou. “É sobre preservar a memória dos garotos.”
O youtuber também lembrou que a trajetória recente do clube mostra justamente o contrário da narrativa conspiratória. Entre 2013 e 2018, o Flamengo viveu anos de oscilação enquanto ajustava suas contas e reestruturava sua gestão. Em campo, colecionou eliminações precoces e rara participação em decisões. O amadurecimento esportivo só ocorreu após contratações pontuais, mudanças internas e a consolidação de um elenco que permitiu a virada de chave em 2019. A tese conspiratória desconsidera todo esse processo, buscando atalhos fantasiosos para explicar resultados que têm origem em investimento e trabalho.
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A irritação entre torcedores, porém, não se restringe ao mérito das teorias. O que mais tem causado repúdio é o desrespeito às famílias e à memória dos dez jovens. Paparazzo, assim como outros comunicadores, destacou que muitos desses vídeos ignoram documentários, investigações jornalísticas, livros premiados, como Longe do Ninho, de Daniela Arbex, e qualquer esforço de contextualização. Preferem a distorção, criando narrativas que transformam uma tragédia humana em espetáculo.
Esse contexto levou parte da torcida a iniciar uma rodada de denúncias no YouTube. O próprio Paparazzo chegou a publicar um passo a passo para orientar usuários a sinalizar conteúdos que promovam discurso enganoso, sensacionalista ou ofensivo. Alguns desses criadores, percebendo a repercussão negativa, colocaram vídeos em modo privado nas últimas horas. Outros mantiveram publicações que sugerem relação sobrenatural entre títulos, energia espiritual e sacrifício, ignorando que o próprio Filipe Luís explicou, em diversas ocasiões, que suas falas são de natureza afetiva e espiritual, ligadas a homenagens.
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O ambiente digital, historicamente marcado por debates intensos entre torcedores, vive um momento distinto quando o assunto envolve o Ninho. Há uma fronteira ética clara para quem acompanha futebol há mais tempo: a rivalidade não ultrapassa o respeito à vida. As homenagens prestadas por clubes adversários em 2019, como o gesto histórico do Vasco ao estampar o escudo do Flamengo, são lembradas como contraponto daquilo que se espera de quem ocupa espaço público de comunicação.
A discussão continua, mas o alerta está feito. A tragédia do Ninho exige responsabilidade, apuração e sensibilidade. Transformá-la em ferramenta de engajamento, com teorias de pacto, sacrifício ou rituais, é movimento que ultrapassa qualquer fronteira moral do debate esportivo.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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