PVC chama gramados naturais de “buraco”, adota narrativa usada pelo Palmeiras em nota e ironiza estudo do Flamengo
Quem acompanha o debate sobre gramados no futebol brasileiro percebeu, nos últimos dias, uma inflexão curiosa no discurso de parte da imprensa. Paulo Vinícius Coelho, o PVC, comentarista historicamente associado à defesa de análises técnicas e ponderadas, passou a adotar uma retórica mais alinhada à do Palmeiras ao tratar a proposta do Flamengo de padronização dos campos. O episódio ganhou corpo após declarações ao vivo, nas quais o jornalista ironizou estudos apresentados pelo clube rubro-negro e classificou gramados naturais como “campos de buraco”, expressão que rapidamente repercutiu nas redes e reacendeu a discussão sobre imparcialidade e rigor no jornalismo esportivo.
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O pano de fundo é conhecido. O Flamengo apresentou à CBF uma proposta para que a Série A caminhe, em prazo determinado, para a adoção exclusiva de gramados naturais de alto padrão, seguindo modelos de ligas como a Premier League. O clube sustenta sua posição em estudos médicos e biomecânicos que apontam diferenças relevantes no quique da bola, no atrito com o solo e na sobrecarga articular em superfícies artificiais. A resposta veio de clubes que utilizam gramado sintético, liderados politicamente pelo Palmeiras, com uma nota conjunta defendendo o status quo e questionando a narrativa rubro-negra.
É nesse contexto que a fala de PVC chama atenção. Ao ironizar o termo “estudos” e recorrer a expressões pejorativas para se referir a campos naturais, o comentarista desloca o debate do campo técnico para o retórico. Mais do que discordar da proposta do Flamengo, o discurso sugere uma desqualificação prévia do argumento, algo que contrasta com a postura histórica do próprio jornalista em outros temas estruturais do futebol brasileiro. Não se trata de concordar ou não com a ideia de eliminar o gramado sintético, mas de reconhecer que há um debate legítimo, sustentado por dados e experiências internacionais.
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A incoerência fica mais evidente quando se observa a linha do tempo recente. Em discussões anteriores, o mesmo comentarista já defendeu a necessidade de padronização mínima dos campos no Brasil, reconhecendo diferenças climáticas entre regiões e a importância de investimentos em drenagem, manutenção e tecnologia. Ao classificar gramados naturais como “buracos”, a fala parece ecoar exatamente a narrativa adotada pela diretoria palmeirense para relativizar críticas ao Allianz Parque, invertendo o eixo do problema e transformando exceção em regra.
Há ainda um ponto central pouco explorado nas análises superficiais. O Flamengo não propõe improviso nem ruptura imediata. A ideia envolve prazo de adaptação, fiscalização e critérios objetivos, algo distante do simplismo que muitas vezes domina o debate público. Reduzir essa proposta a uma disputa clubista, ou tratá-la com ironia, empobrece a discussão e afasta o futebol brasileiro de uma conversa madura sobre qualidade de jogo, segurança dos atletas e produto esportivo.
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No fim, o episódio revela menos sobre gramados e mais sobre jornalismo. Quando termos pejorativos substituem argumentos e estudos viram motivo de sarcasmo, o debate deixa de ser informativo e passa a ser performático. Para um comentarista do alcance de PVC, a responsabilidade é ainda maior. A discussão sobre campos naturais versus sintéticos é complexa demais para caber em slogans ou rótulos fáceis, especialmente quando envolve saúde, desempenho e o futuro do campeonato.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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