PVC tenta se justificar, mas critica nota oficial do Flamengo por fala ofensiva sobre José Boto
O episódio envolvendo o jornalista Paulo Vinícius Coelho e o diretor de futebol do Flamengo, José Boto, ganhou contornos maiores do que uma simples divergência de opinião. O caso começou na segunda-feira, 21 de outubro, quando PVC, durante o programa De Primeira do UOL, comentou de forma exaltada as declarações do dirigente português após a partida contra o Palmeiras. O tom teatral, com olhos arregalados e voz alterada, chamou atenção, mas o que gerou maior repercussão foi a imitação jocosa do sotaque português, que muitos interpretaram como xenofobia.
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A fala de PVC ocorreu no contexto da entrevista em que Boto criticou a arbitragem. O comentarista, ao reproduzir o sotaque lusitano, fez ainda uma associação indireta ao “Apito Dourado”, escândalo de corrupção que abalou o futebol português em 2004 e envolveu dirigentes do Porto, mas não o Benfica, clube em que Boto trabalhava na época. O paralelo foi visto como um ataque gratuito e despropositado, uma tentativa de vincular o dirigente a um episódio sem qualquer relação com sua trajetória.
O Flamengo reagiu com nota de repúdio enviada ao UOL, manifestando “decepção com a infelicidade das palavras e do formato escolhido” por PVC, destacando a “associação indevida” do profissional ao escândalo. O clube afirmou ter optado por não se pronunciar antes da partida contra o Racing, para não desviar o foco da Libertadores, mas considerou necessário registrar publicamente seu descontentamento.
Na quinta-feira (23), PVC pediu desculpas pelo tom, mas não pelo conteúdo. “Acho até que exagerei na questão do Boto na segunda-feira, no tom. No conteúdo, nem acho, mas no tom eu acho que sim. Então, desculpe pelo tom”, disse o comentarista. Em sua coluna, voltou ao assunto, mas manteve a defesa de que não houve qualquer intenção de ofensa. “Diferentemente do que José Boto entendeu, este colunista não o vinculou ao escândalo denominado Apito Dourado em Portugal”, escreveu.
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O jornalista tentou justificar o uso do sotaque afirmando tratar-se de uma homenagem ao avô português. “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”, escreveu, citando Caetano Veloso. O argumento, porém, não convenceu parte da torcida e tampouco a direção rubro-negra. A ordem dos fatos pesa contra ele: a imitação veio antes da explicação sobre o avô, o que soou como uma tentativa de se resguardar após a repercussão negativa.
O episódio reacendeu um debate antigo sobre o limite entre crítica e desrespeito no jornalismo esportivo. PVC, conhecido por seu tom didático e sua profundidade histórica, raramente havia se excedido dessa forma. Por isso, a reação foi tão dura. A lembrança de casos em que o comentarista adotou postura mais contida diante de personagens do Palmeiras, como Abel Ferreira e Leila Pereira, também alimentou a percepção de parcialidade.
O caso Boto expõe uma linha delicada no ofício do comentarista esportivo: a de que a opinião, mesmo quando contundente, não pode escorregar para o estereótipo. A crítica pode e deve existir, mas a caricatura, especialmente quando toca aspectos culturais ou nacionais, abre espaço para interpretações que fogem do campo da análise e atingem o pessoal.
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O pedido de desculpas de PVC encerra formalmente o episódio, mas não o que ele simboliza. Num momento em que o debate público sobre o futebol é cada vez mais polarizado, gestos e palavras carregam peso. Um deslize no tom pode se transformar em uma questão institucional, como ficou claro neste embate entre o Flamengo e um dos jornalistas mais conhecidos do país.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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