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Repercussão internacional do AeroFla expõe preconceitos da mídia paulista e reforça a força da torcida do Flamengo

Repercussão internacional do AeroFla expõe preconceitos da mídia paulista e reforça a força da torcida do Flamengo

Foto: Mariana Sá/Flamengo

A despedida do Flamengo rumo à final da Libertadores, registrada na tarde de quarta-feira (26) no Aeroporto Internacional do Galeão, viralizou nas redes e repercutiu em veículos da Argentina, Chile, Peru e Portugal. A mobilização começou logo no início da manhã, espalhou-se pelas principais vias da cidade e transformou o entorno do aeroporto em um mar vermelho e preto. O impacto internacional ocorreu porque milhares de torcedores criaram cenas que destoam do padrão habitual do futebol sul-americano, e também porque parte da imprensa paulista, ao analisar o movimento, recorreu a comentários que escorregam em preconceitos regionais e tentativas de deslegitimar a festa.


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A trajetória que levou ao AeroFla reúne elementos que o tornam um fenômeno único. Desde a final da Libertadores 2019, a imagem de ruas tomadas por rubro-negros se tornou familiar no noticiário estrangeiro. Em 2022, a mobilização no embarque para Guayaquil repetiu o padrão. Desta vez, porém, a proporção chamou ainda mais atenção porque torcedores subiram no teto do ônibus oficial, acompanharam o veículo por longos trechos e criaram cenas que mais pareciam resgates cinematográficos do que uma simples despedida. As imagens circularam primeiro pelo X (Antigo Twitter), por perfis de torcedores e pelo próprio clube, antes de ganharem espaço nos portais internacionais.

O diário argentino Olé descreveu o episódio como “incomum”, destacando que torcedores conseguiram entrar no ônibus enquanto o veículo avançava lentamente em meio a uma avalanche humana. O chileno ADN classificou o ato como uma “ação perigosa”, ressaltando que a rota até o aeroporto foi bloqueada por completo. No Peru, El Comercio chamou a cena de “incrível” e afirmou que o Rio de Janeiro parou para acompanhar o embarque. Já o jornal português A Bola falou em “festa de arromba”, sublinhando o momento em que rubro-negros apareceram no alto do ônibus com bandeiras e sinalizadores. Para o argentino Santa Fé Esportivo, tratou-se de uma das maiores manifestações de torcida da temporada no futebol mundial.

Enquanto no exterior o tom predominante foi de encantamento e curiosidade, no Brasil parte da análise virou ruído. Alguns comentaristas atribuíram o tamanho da festa a uma suposta “ociosidade carioca” ou a uma pretensa “falta de rotina de trabalho” da população do Rio. A interpretação generosa das palavras não elimina o peso do estigma. A generalização reforça um discurso repetido há décadas por segmentos da mídia paulista, que tendem a explicar manifestações populares cariocas com base em estereótipos, não em sociologia.

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A reação da torcida rubro-negra, que lotou aeroportos, ruas e praças, contrasta também com a chegada fria de outros clubes finalistas ao mesmo palco da decisão. Em Lima, torcedores do Flamengo se misturaram a moradores, turistas e até simpatizantes de outros times, criando um ambiente que remete mais a uma celebração coletiva do que a um ato de torcida restrita. As imagens confrontam, na prática, a tese de que a festa só ocorre “no Rio” por razões culturais exclusivas à cidade. O deslocamento massivo para o Peru prova o contrário.

A leitura enviesada feita por alguns comentaristas televisivos não surgiu por acaso. Nos últimos anos, a disputa narrativa em torno do tamanho das torcidas, da força de mobilização e da presença midiática se intensificou, em especial quando o Flamengo protagoniza os maiores eventos esportivos do país. O desconforto transparece quando a comparação se torna inevitável, seja no volume de público, seja na estética da festa. E, quando os números não ajudam, surgem explicações socioculturais que deslocam o debate da realidade para o preconceito.

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Ainda assim, o AeroFla acabou transcendendo o debate doméstico, mostrando que a relação entre Flamengo e torcida opera em outro nível simbólico. Quando o ônibus avança cercado por bandeiras, fogos e cantos, o que está em jogo é a expressão de um pertencimento que ultrapassa fronteiras estaduais. A repercussão internacional confirma isso. E, diante da tentativa de reduzir a manifestação a um estereótipo regional, o contraste se torna ainda mais evidente: o que alguns tentam diminuir pela fala, o mundo amplia pelo olhar.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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