Sócio-torcedor do Flamengo bate recordes e Maracanã se transforma em máquina de receita
O Flamengo encerrou a temporada de 2025 com números de bilheteria e sócio-torcedor que ajudam a explicar por que o clube vive um momento de supremacia também fora de campo. A apresentação feita pela diretoria, nesta terça (23), detalhou dados que vão além da arrecadação bruta e mostram um modelo de gestão que colocou o torcedor no centro da estratégia, combinando presença massiva nos estádios, controle de custos e profissionalização das operações de matchday.
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O ponto de partida é simples e, ao mesmo tempo, impressionante. O nível de comparecimento da torcida rubro-negra ao longo da temporada foi considerado pela própria gestão como “gigante”. Jogos em dias pouco atrativos, sob chuva e em horários ingratos, mantiveram o Maracanã cheio, mesmo em contextos esportivos menos favoráveis. O fenômeno não é exatamente novo, mas ganhou outra dimensão em 2025. A diferença está na forma como o clube passou a tratar esse ativo histórico com método, dados e planejamento.
A bilheteria fechou o ano com um salto expressivo no resultado líquido do Maracanã. O Flamengo saiu de cerca de 44 milhões de reais para aproximadamente 88 milhões em 2025. O dado chama atenção porque contraria uma lógica clássica da economia. Houve aumento médio de 22% no preço dos ingressos, sendo que, descontada a inflação, o reajuste real ficou em torno de 15%. Ainda assim, o público não caiu. Pelo contrário, a demanda seguiu em alta, impulsionada pela boa fase do time, mas também por uma leitura mais refinada sobre perfil de jogos, calendário, transmissões e comportamento do torcedor.
A gestão reconhece que futebol não pode ser analisado apenas de forma fria, como se fosse um produto qualquer. Um time vencedor cria um ambiente em que o torcedor aceita pagar mais para estar presente, especialmente em jogos decisivos. Ainda assim, o Flamengo passou a tratar a precificação de maneira quase cirúrgica. Cada partida é analisada individualmente, levando em conta fatores como adversário, horário, competição, transmissão para a praça do Rio de Janeiro e histórico de vendas. Erros aconteceram, como no jogo contra o Juventude, mas foram rapidamente corrigidos. O aprendizado virou política interna.
Esse processo foi possível porque o clube passou a dominar seus próprios dados. Com a digitalização total da venda de ingressos, o Flamengo sabe, com poucas horas de antecedência, qual será o resultado do borderô, com margem mínima de erro. O custo médio por pessoa presente, que já chegou a girar em torno de 44 reais sem controle rigoroso, foi reduzido para cerca de 20 reais. A margem passou a ser previsível e sustentável. Isso transformou o matchday em uma operação altamente profissional, considerada hoje a maior do país.
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Dentro desse mesmo ecossistema entra o programa de sócio-torcedor, que viveu um dos seus melhores momentos desde a criação. O número de associados chegou ao pico de aproximadamente 118 mil em 2025, com crescimento de 64% em relação ao ano anterior. O salto foi puxado principalmente pelo plano Nação Sem Fronteiras, lançado a um valor simbólico de R$ 19,81, referência direta ao ano do título mundial em Tóquio. Não foi apenas uma jogada de marketing. A iniciativa ampliou o alcance nacional do programa e recuperou sócios que haviam se afastado.
A receita do sócio-torcedor também acompanhou essa expansão, com alta de cerca de 13%, alcançando pouco mais de 88 milhões de reais. O número ganha ainda mais relevância quando associado à melhora na qualidade do serviço. Segundo levantamento do Reclame Aqui, o programa do Flamengo passou a ser considerado o melhor do Brasil em atendimento, algo impensável poucos anos atrás, quando as principais críticas giravam em torno da dificuldade de contato e da baixa solução dos problemas. Hoje, o clube vende mais e atende melhor, um equilíbrio raro no futebol brasileiro.
Parte dessa evolução passa pela experiência do torcedor no estádio. A implantação definitiva da biometria facial reduziu gargalos, eliminou cadastros repetitivos e diminuiu problemas na entrada. O processo de gratuidade foi redesenhado, encerrando situações absurdas de filas intermináveis e burocracia excessiva. O Flamengo também passou a comprar a carga de ingressos destinada à torcida visitante em jogos fora de casa, protegendo seus torcedores de preços abusivos. Em casos como Vitória, Santos e Fortaleza, o clube acionou Procon e Ministério Público ao identificar práticas irregulares.
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Há ainda um trabalho silencioso, mas decisivo, de logística e relacionamento institucional. Um representante do clube viaja com antecedência para cidades onde o Flamengo vai atuar como visitante, dialoga com autoridades locais, forças de segurança e dirigentes, garantindo condições adequadas para a torcida rubro-negra. O resultado é concreto. Em 2025, não houve registro de incidentes graves envolvendo torcedores, mesmo com a manutenção da política de torcida mista. Um dado que passa longe do noticiário, mas diz muito sobre gestão.
As ativações completam esse ciclo. Foram 44 jogos com ações pensadas para transformar a ida ao estádio em espetáculo. Mosaicos, bandeirões, fogos, eventos com ídolos, visitas ao Ninho do Urubu e experiências exclusivas para sócios reforçaram o vínculo emocional. Patrocinadores também entraram nesse movimento, ampliando o valor da marca Flamengo para além das quatro linhas.
O balanço deixa claro que bilheteria e sócio-torcedor deixaram de ser apenas fontes acessórias de receita. Tornaram-se pilares estratégicos de um modelo que aposta na força da torcida, mas sem improviso. Em um futebol cada vez mais dominado por SAFs e investimentos externos, o Flamengo mostra que organização, dados e respeito ao torcedor ainda podem fazer a diferença.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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