Um eclipse no Fla – Quando a omissão ofusca a eficiência

E no jornal nacional, a nossa péssima campanha é notícia.  Enquanto tento relaxar no sofá, ouço um comentarista dizer que o Fla deve aceitar suas limitações e jogar fechado como time pequeno. Desgosto. Revolta. Se eu tivesse uma AK-47, a TV não existiria mais. Se o Flamengo, com o time que tem aceitar a ideia tosca de pequenez, é que a vaca vai para o brejo. Pior ataque, pior defesa, pior visitante. Mas não o pior elenco. E fora de campo, de forma alguma uma gestão bizarra, como a pretensiosa matéria da Veja Rio ”Deu tudo errado” sugeriu. Temos tudo pra encerrar o ano com dignidade e melhorias têm acontecido, ainda que elas não aliviem a situação.  Até porque, atraindo todas as atenções, está a forte cogitação da vergonha. A mancha na história que um rebaixamento causa, é bem pior do que todas as pilhérias, e bem mais impactante emocionalmente que os avanços. Meia dúzia de piadas, todos nós podemos suportar, mas desonra ao nosso Manto, não. Para relaxar o miocárdio, falemos um pouco das melhorias.

Aí você me pergunta: ”Bruna, que cachaça você tomou? Como assim, melhorias? Estamos na lanterna do campeonato”.

Aí eu respondo que não bebo, e que  na vida, como no futebol, às vezes é preciso abrir mão de certos luxos, em prol de um projeto em longo prazo. Ou pensamos assim, ou ignoramos os riscos e as obrigações, estouramos o orçamento e o Flamengo vai ser sempre um clube em descrédito, a beira de colapsos, vivendo da glória do seu longínquo passado. Não dá pra ignorar que em 18 meses, um clube com um passivo quatro vezes maior que seu faturamento anual, com muitos salários atrasados, apropriações indébitas de FTGS e pagamentos a fornecedores não honrados, conquistou não só vitórias esportivas, como também administrativas. No ano passado, mais de 100 milhões de dívidas com impostos, foram liquidados. Hoje o Fla possui um esporte olímpico que quase se sustenta, e apesar de marketing próprio fraco (o que irrita), houve valorização da marca. Enfim, temos um ST que, ainda que falho, carente de ajustes e imensamente menor aderido do que pode ser, é digno. E quem diria, hoje temos responsabilidade fiscal. Há uma transparência que há muito não experimentávamos, e tudo isso infelizmente é ofuscado pela grande mazela dessa gestão: o departamento de futebol. A falta de eficiência desse setor meio que tapa o trabalho dos outros. Um desgostoso eclipse.

Não vou mentir, há a apreensão, embora a fé no Fla seja imensuravelmente maior. Já vimos muitos milagres protagonizados pelo famigerado Rubro-Negro dá Gávea, mas jamais, jamais um time tão sem sangue. Sangue seria um bom reforço.  A distância para fora do bisonho Z-4 é pequena. Temos camisa, fé, história, torcida. Dá pra ser muito mais, dá pra ter vergonha na cara. Dá pra calar um pouco as desculpas, e ir à luta. Esse mimimi de ”por hoje foi só uma falha, vamos melhorar”, já deu. Assim como a busca pela austeridade não pode impedir que as carências desse time sejam supridas. Coração de flamenguista ultimamente tem deixado de bater para apanhar.

A necessidade maior do Flamengo talvez não seja uma estrela como as cogitadas costumeiras. A necessidade talvez abrace em curto prazo uns três ou quatro reforços dignos nas posições mais carentes (em minha opinião: ataque, criação e zaga), e um bom tanto de vergonha na cara, que nesse elenco falta, e muito. Que milagres e reviravoltas são possíveis, ah, isso são. O problema é que a teoria é linda, mas na prática, se correr o bicho pega, e se ficar, o bicho come. Camarão que dorme, a onda leva. Nessa de por os olhos no futuro e ignorar as carências do presente, chegamos aqui, e sair, vai ser dessa pra tranquilidade vai ser complicado, visto que há um turno pela frente e em todos os jogos, o pior adversário: o próprio Flamengo.

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Tulio Rodrigues