VAI HAVER DESLOQUEIO? FLAMENGO DIVERGE SOBRE VALORES COM A LIBRA E CASO SERÁ DECIDIDO PELA JUSTIÇA
Quem assistiu à cobertura do caso Flamengo x Libra, especialmente na voz de Paulo Vinícius Coelho (PVC), ouviu que a desembargadora “considerou abusivo” o bloqueio dos valores referentes aos direitos de transmissão. O comentário foi feito nesta segunda (20), quando o jornalista do UOL apresentou a versão de que a Justiça havia alterado a liminar em favor do Flamengo. Mas a palavra “abusivo”, usada por ele para sustentar essa interpretação, simplesmente não aparece em nenhuma linha da decisão judicial.
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A cronologia ajuda a entender o tamanho do desencontro. O imbróglio começou em setembro, quando a desembargadora Lucia Helena do Passo, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, concedeu liminar determinando o bloqueio de cerca de R$ 77 milhões pertencentes aos clubes ligados à Libra, valor referente a 30% do contrato com a Globo pelos direitos de TV. A decisão visava assegurar a parte do Flamengo, que alega não ter concordado com a fórmula de distribuição.
Com a magistrada em férias, o advogado André Sica, ligado ao Palmeiras e à própria Libra, apresentou um pedido de urgência para redistribuição do caso. O Flamengo reagiu e ingressou com embargo, pedindo que o processo permanecesse com a desembargadora titular. Foi então que Lucia Helena interrompeu as férias para retomar o processo e revisar o despacho anterior.
Na sexta-feira, ela determinou uma readequação do bloqueio, solicitando que o clube carioca indicasse, em até cinco dias após ser intimado, o valor que considera controverso. Caso o Flamengo não se manifestasse, seria mantido o cálculo proposto pela Libra. Ou seja: a magistrada não fixou um montante, tampouco caracterizou o bloqueio como abusivo. Limitou-se a ouvir as partes e manter o mérito em discussão.
Mesmo assim, PVC afirmou em vídeo e texto no UOL que a juíza havia entendido o bloqueio como “abusivo” e que o montante a ser retido seria de R$ 1,6 milhão, número apresentado, na verdade, pela própria Libra, e não pela Justiça. O erro foi exposto por jornalistas e advogados ligados ao caso, como Patrick Moraes, que explicou: “A Justiça não desbloqueou tudo, nem contingenciou apenas R$ 1,6 milhão. Deu cinco dias para o Flamengo se manifestar sobre o valor que julga correto manter bloqueado”.
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A divergência entre o que a decisão diz e o que foi noticiado abriu mais um capítulo na sequência de contradições que cercam a cobertura do tema. Enquanto PVC sustentava a versão da Libra, o colunista Rodrigo Mattos, também do UOL, publicou matéria mais fiel aos autos: “Libra e Flamengo divergem sobre o valor que fica bloqueado. Justiça decidirá.”
A diferença de abordagem é significativa. Enquanto um transformou um despacho técnico em narrativa pró-Libra, o outro manteve o caráter factual e ressaltou que a definição ainda depende de manifestação do Flamengo e posterior julgamento de mérito.
Internamente, a diretoria rubro-negra entendeu que a decisão reforça sua tese: a de que não há fórmula de distribuição aprovada por unanimidade e, portanto, a Globo não poderia efetuar os repasses com base no modelo defendido pela Libra. “Tentamos durante oito meses chegar a um acordo. Não foi falta de vontade do Flamengo”, disse Luiz Eduardo Baptista, o Bap, em entrevista recente.
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O caso volta agora à mesa da desembargadora, que decidirá qual valor seguirá bloqueado e qual será liberado até o julgamento final. Até lá, segue o ruído: de um lado, a Libra tentando consolidar uma narrativa de vitória jurídica; do outro, o Flamengo sustentando que a Justiça apenas confirmou que o conflito permanece aberto.
No meio, o jornalismo, ou parte dele, confundindo interpretação com torcida.
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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)
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