Opinião: Lançamentos das chapas indicam como será a próxima gestão do Flamengo

Tulio Rodrigues

Três das cinco chapas concorrentes na eleição do Flamengo realizaram eventos de lançamento: Maurício Gomes de Mattos, Luiz Eduardo Baptista (Bap) e Rodrigo Dunshee, respectivamente. O formato das apresentações, os protagonistas e coadjuvantes sinalizam o perfil de cada candidatura e, possivelmente, como será a gestão do próximo presidente do clube, de 2025 a 2027.


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Antes, precisamos voltar a 2012, pois alguns dos protagonistas atuais estavam formando uma semente que foi seguida durante diversas eleições desde então, independente do lado em que se encontrassem. Em junho daquele ano, uma frente ampla, composta por diversas correntes políticas do clube, começou com o Movimento Ocupe o Flamengo, criado para enfrentar Patrícia Amorim nas urnas. Depois, surgiu a Chapa Fla Campeão do Mundo, encabeçada por Wallim Vasconcellos e Rodolfo Landim. Um dos valores registrados no Plano de Governo era o trabalho em equipe.

Lançamento da Chapa Fla Campeão do Mundo em 2012. Imagem: Reprodução/Youtube

Inclusive, a ideia de gestão daquela chapa, ainda sem cor, era não concentrar os poderes e decisões nas mãos do presidente, mas sim em um grupo renomado de empresários com expertise em suas áreas de atuação. Eles prometiam um “choque de gestão” e a profissionalização total do clube, com protagonismo de executivos renomados em cada pasta e menor participação dos dirigentes estatutários no dia a dia.

No histórico lançamento realizado no Teatro Cine Leblon, em 28 de agosto, cada um dos executivos apresentou suas ideias para administrar o Flamengo, dentro de um plano de governo construído em conjunto: recuperação financeira, transparência, novas receitas, fim da reeleição, reforma estatutária e Esportes Olímpicos, com cada um dividindo o protagonismo. O movimento, que não era de rotação em torno de um candidato, se tornou histórico, assim como o movimento da FAF (Frente Ampla pelo Flamengo) de 1976.

Zico, Langoni, Wallim, Bap, Landim, Mário Cruz e Tiago Cordeiro em 2012. Imagem: Reprodução/Youtube

Um grupo com grandes rubro-negros foi formado e um projeto bem elaborado foi apresentado para uma numerosa audiência no Cine Leblon, no Rio de Janeiro, contando com a presença e o apoio do maior ídolo do Flamengo, Zico. Foi um marco na história do Flamengo por toda a transformação que aconteceu no clube e pelos resultados conseguidos”, escreveu Wallim em 2022, em comemoração aos 10 anos do evento.

O modelo e a filosofia deram tão certo que foram copiados na eleição de 2015. Mesmo com a cisão da Chapa Azul original, as três chapas daquele pleito tiveram formatos de lançamento e filosofias em seus planos de governo semelhantes, centrados no grupo, mesmo que a nova chapa Azul, daquela disputa, tivesse um Bandeira de Mello mais protagonista, eleito pelo torcedor pelo sucesso da reestruturação que sua gestão havia iniciado.

No lançamento, a Chapa Azul de Bandeira dividiu o protagonismo com Marcelo Haddad, Cláudio Pracownik, Alexandre Wrobel, José Rodrigo Sabino, Antônio Tabet, Plinio Serpa Pinto, Rafael Strauch, Gerson Biscotto, Flávio Willeman, Flávio Godinho e Maurício Gomes de Mattos. Cada um deles tinha destaque em sua área.

A Chapa Azul em 2015. Imagem: Reprodução/Blog Ser Flamengo

Do outro lado, o núcleo duro e fundador da Chapa Azul de 2012, agora a Chapa Verde, mas com os candidatos iniciais do pleito anterior: Wallim e Landim. Novamente no Cine Leblon, o lançamento contou com a participação e os discursos dos dois candidatos, além de Carlos Langoni, Zico, Tostes e Bap. A diferença é que agora um resultado de dois anos e meio de trabalho também foi apresentado.

Landim discursa em 2015 sob os olhares de Bap, Tostes e Wallim. Imagem: Reprodução/Blog Ser Flamengo

Em 2018, quando o sentimento voltou a ser de todos contra um, Landim fez uma articulação diferente. Além do seu núcleo duro, que já contava com Bap, Wallim, Gustavo Oliveira, Rodrigo Tostes e Cláudio Pracownik, ele resolveu se cercar dos grupos políticos. Foi assim na coletiva de apresentação de sua candidatura, que ainda contou com a participação de Márcio Braga. Lomba, apoiado para suceder Bandeira de Mello, também fez o mesmo.

Os lançamentos seguiram a mesma toada. Primeiro, Rodolfo Landim reuniu os grupos políticos junto ao seu núcleo duro em um grande evento que contou com personalidades e ídolos do Flamengo. Depois, Ricardo Lomba, já com uma composição bem diferente dos anos anteriores de Bandeira de Mello, proporcionou uma cerimônia com conceito parecido.

Lançamento da Chapa Rosa em 2018. Imagem: Reprodução/Blog Ser Flamengo

À frente do Flamengo, Landim foi parecendo perder esse espírito de grupo e participação colegiada. No início de 2020, após um ano vitorioso em 2019, Wallim Vasconcellos, cabeça de chapa em duas eleições com o atual mandatário, deixou o cargo de vice de finanças, alegando não ser ouvido. Recentemente, acrescentou que as decisões eram centralizadas.

A minha renúncia deveu-se sobretudo às divergências em relação ao estilo de gestão, onde a maioria dos vice-presidentes possui pouca participação nas discussões de assuntos relevantes e impactantes na vida do clube. Na verdade, nunca fomos um verdadeiro colegiado, desperdiçando, a meu ver, a oportunidade de um debate de alto nível com todos os participantes”, revelou Wallim em carta de fevereiro de 2020.

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LANÇAMENTO DE MAURÍCIO GOMES DE MATTOS

Maurício Gomes de Mattos lançou sua candidatura em 5 de setembro. O evento ocorreu em um clube da Zona Sul do Rio e contou com a participação de apoiadores de todo o Brasil. A cerimônia teve a presença dos grupos políticos aliados, que tiveram liberdade para discursar. Embaixadores, torcedores e figuras políticas relevantes do clube ganharam muito destaque.

Último a discursar, Maurício foi quem apresentou as bandeiras que seriam detalhadas em seu plano de governo, que conta com a participação de profissionais que podem vir a fazer parte da sua gestão em caso de vitória, como a portuguesa Helena Costa. Grupos como o Frente Flamengo Maior e o Flamengo Sem Fronteiras também ganharam protagonismo na elaboração do PDG e nas apresentações, demonstrando que a chapa não centraliza seu protagonismo.

LANÇAMENTO DE LUIZ EDUARDO BAPTISTA

Quatro dias depois, foi a vez de Luiz Eduardo Baptista. Não fugiu à tradição de fazer o evento em um teatro. O seu lançamento foi dinâmico e roteirizado. Diversos nomes importantes que o apoiam participaram, apresentando tópicos cruciais para o Flamengo, como futebol, finanças, estádio, marketing e responsabilidade social, sempre de maneira objetiva.

Bap, assim como Maurício, dividiu o protagonismo com Flavio Willeman, Rodrigo Tostes, Ricardo Lomba, Cláudio Pracownick, Fábio Coelho, Antonio Tabet e Ricardo Hinrichsen. No final, ainda fez questão de convidar as presenças ilustres para subirem ao palco e posarem para a foto, uma tradição desde 2012. Outro detalhe é que o plano de governo da chapa vem sendo construído com a participação dos apoiadores, dividindo o protagonismo com todos os seus integrantes.

LANÇAMENTO DE RODRIGO DUNSHEE

No último dia 14 de outubro, Rodrigo Dunshee lançou sua candidatura. Coube ao atual presidente, Rodolfo Landim, a incumbência de apresentar o que foi feito nos últimos seis anos (2019-2024), já que parte dos vice-presidentes que participaram da gestão deixou seus cargos. O mandatário teve mais tempo de protagonismo no evento do que os próprios candidatos.

Abandonando o formato dos outros anos, as propostas não foram apresentadas pelos vice-presidentes, com detalhamento do que é planejado para cada área do clube, mas sim por Dunshee, contando com pequenas intervenções de Marcos Bodin, atual vice de patrimônio e candidato a vice geral na chapa UniFla.

CONCLUSÕES

Observando como cada chapa lançou e apresentou suas propostas, é possível ter uma ideia do que pode vir a ser a futura gestão do Flamengo, pelo menos em como será fundamentada sua base de governo.

Maurício Gomes de Mattos conta com grupos de trabalho que se debruçam sobre as áreas temáticas do clube, principalmente nas mais sensíveis, com profissionais que o auxiliam e assessoram para uma possível implementação de uma nova filosofia de gestão. O próprio candidato procura dividir o protagonismo e as virtudes em tudo o que diz respeito à sua campanha.

Luiz Eduardo Baptista, o Bap, retorna à fórmula que vem dando certo desde 2012, mas com um time renovado, sem deixar de ter ao seu lado pessoas de destaque e muito sucesso nas áreas em que atuam. Ele busca mostrar que também quer dividir o protagonismo, muitas vezes não se apresentando sozinho em entrevistas, transmitindo a ideia de que, em caso de vitória, buscará a filosofia de gerir o Flamengo através de um colegiado.

Rodrigo Dunshee também busca dividir o protagonismo, mas com o atual mandatário do clube, Rodolfo Landim, que será o CEO de sua gestão. Bodin, os vice-presidentes e os grupos aliados ganham espaço pontual em determinados assuntos. Observando o formato de como se comunicam e se portam em campanha, uma vitória da UniFla nos mostra que podemos ter uma administração centrada no presidente e no Diretor Geral, com o auxílio do vice geral e apoiadores.

O candidato da chapa “Fla Tradição & Juventude do Flamengo”, Pedro Paulo, e Wallim Vasconcellos, da chapa “Flamengo em Outro Patamar”, ainda não lançaram suas candidaturas. A eleição do Flamengo está marcada para o dia 9 de dezembro, e todos os candidatos estão em processo de registro de suas chapas na Comissão Permanente Eleitoral, que emitirá um parecer sobre a elegibilidade de cada um nesta sexta (18).

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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