Especial Mundial 30 anos: A diferença que um gol faz

Especial Mundial 30 anos: A diferença que um gol faz

Fala, Nação campeã sul-americana e mundial!

Antes de mais nada, quero deixar claro que sei qual deve ser o conteúdo deste post. Me foi pedido um texto em homenagem ao aniversário de 30 anos do maior título conquistado nos 116 anos de história do mais querido do Brasil, mas senti vontade de desviar um pouco do comum e falar sobre como foi o caminho até essa conquista. Aqui, você vai saber como tudo começou.

Muito se fala da geração campeã do mundo, a fase mais vitoriosa do clube, que teoricamente foi formada em sua maioria por jogadores da base. Mas você tem noção de como foi a formação desse time? Acha que, de repente, todos estavam no profissional disputando uma Libertadores e, consequentemente, um Mundial? Claro que não foi simples assim. Até um grande time vive de decepções e derrotas, mas, se quer ser grande de verdade, tem que aprender com todas as quedas. E foi isso que aconteceu.

A famosa “era Zico” começou, na minha opinião e na do próprio Rei, um pouco antes de 1980. O próprio Zico estreou no time profissional do Flamengo em 1971 e, acredite se quiser, estava no elenco que sofreu uma das goleadas mais emblemáticas de nossa história. Em 1972, tomamos o fatídico 6 a 0 do time de General Severiano, e Zico poderia ter entrado em campo, mas o então treinador Zagallo achou que ainda não era o momento. Tudo bem que, cá entre nós, ele não teria impedido sozinho essa vergonha, mas era o galinho surgindo, né? (risos)

Mas voltando ao assunto inicial, foi na década de 70 que nossos maiores talentos e futuros ídolos foram sendo formados. Zico, Júnior, Leandro, Andrade e outros tão importantes foram subindo aos poucos para o time profissional e, entre derrotas e vitórias, conseguiram se firmar, juntando futebol e amizade. E, como diz o galinho, se é preciso definir uma data, um dia onde tudo começou, eu não tenho a menor dúvida de qual é.

Se você for assistir à maioria dos documentários e vídeos feitos sobre o ano de 1981, todos os atletas, diretores e técnicos vão dizer a mesma coisa: tudo começou com um gol. Começou com um gol ao final de um jogo. O jogo que definiu um dos maiores ícones daquela geração e de toda a história rubro-negra. O nome dele é Antônio José Rondinelli Tobias, o Deus da Raça.

Foi no dia 3 de dezembro de 1978 que o mito nasceu e transformou um grupo em um time. Ali se formou uma família. A partida era válida pelo título do segundo turno do Campeonato Carioca, competição cujo primeiro turno já havia sido vencido pelo Mengão, contra o maior rival da época. O gol saiu aos 41 minutos do segundo tempo (lembra de algo semelhante?). Eu não era nascido na época, mas meu pai estava lá no estádio e me diz sempre que só sentiu algo parecido 23 anos depois. Você sabe quando, né?

VASCO 0 x 1 FLAMENGO
Final do Campeonato Carioca 1978
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 03/12/1978
Gol: Rondinelli, aos 41’/2ºT
Público: 120.433

FLAMENGO: Cantarelli, Toninho, Manguito, Rondinelli, Júnior, Carpeggiani, Adílio, Zico, Marcinho, Cleber (Eli Carlos) e Tita (Alberto Leguelé). Técnico: Cláudio Coutinho.

P.S. – Só para não deixar passar em branco, o cara que deveria estar marcando o Rondi era o Abel Braga.

Este gol saiu após um cruzamento do galinho, que costumeiramente não o fazia. Todos os jogadores dizem que aquele gol, e consequentemente aquele título, teriam dado forças ao elenco e decretado o marco inicial da geração que seria tetra-campeã brasileira (1980/82/83/87), campeã da Libertadores da América e Mundial (ambos em 1981), e tri-campeã estadual (1978/79/80). Reza a lenda que, no vestiário do Maracanã, naquele dia, foi feito um pacto entre os jogadores do Fla. Um pacto de vitórias que daria início a esta sequência sensacional de títulos.

De 1978 até 1981, muita coisa aconteceu. O Flamengo foi bicampeão carioca em um mesmo ano, conquistou seu primeiro campeonato nacional, que os frangos perdedores de Minas insistem em dizer que foi roubado (acusação que também fazem sobre a Libertadores de 81). Mas nada supera o ano mais feliz para qualquer rubro-negro com mais de 35 anos. E, por mais que muitos apenas evidenciem os títulos, 1981 representa para muitos torcedores da época a liberdade de um fardo. Aquela goleada, que falamos no começo, sofrida em 1972 para o Botafogo, foi finalmente vingada e calou os 10 torcedores (risos) do Botafogo que viviam zoando os flamenguistas. O Flamengo devolveu os 6 a 0 de 72 com um gol final de outro ídolo. Andrade, o nosso, ironicamente, camisa 6, marcou o sexto gol em cima do alvinegro. Esta goleada aplicada no dia 8 de novembro mostrava que o fim de ano do clube seria muito movimentado.

FLAMENGO 6 x 0 BOTAFOGO | Maracanã
Juiz: Édson Alcântara do Amorim (MG)
Renda: Cr$ 15.031.600
Público: 69.051

Gols: Nunes 7, Zico 27, Lico 33 e Adílio 40 do 1º; Zico (pênalti) 30 e Andrade 42 do 2º;
Cartões Amarelos: Júnior e Perivaldo

FLAMENGO: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico. Técnico: Paulo César Carpegiani
BOTAFOGO: Paulo Sérgio, Perivaldo, Gaúcho, Osvaldo e Jorge Luiz; Rocha, Mendonça e Ademir Lobo; Édson (Jairzinho), Mirandinha e Ziza. Técnico: Paulinho de Almeida.

Logo depois da goleada viria o verdadeiro e maior desafio do ano: a sequência de três jogos contra o violento time do Cobreloa, do Chile. Mas, como o espírito do time estava todo na conquista, mesmo sofrendo agressões terríveis, conseguimos sair vitoriosos. O jogo final, em campo neutro, devido ao momento político conturbado chileno, foi dia 23 de novembro, e ali surgiu mais um mito rubro-negro, o vingador Anselmo.

Após os dois jogos anteriores, em que todo o time do Flamengo sofreu muito com a brutalidade e maldade dos jogadores do Cobreloa, nosso treinador (e ex-jogador do clube), Carpeggiani, colocou em campo o jovem Anselmo, que acabou com sua carreira para entrar em campo somente com a finalidade de dar um soco no jogador mais agressivo do time, Mario Soto. Graças a Deus, isso aconteceu, e o galinho brilhou, como sempre.

FLAMENGO 2×0 COBRELOA
Finalíssima da Taça Libertadores da América 1981
Local: Estádio Centenário, Montevidéu (URU)
Data: 23 de Novembro de 1981
Árbitro: Cerullo (Uruguai)

Gols: Primeiro tempo: Zico 18min, Segundo tempo: Zico 39min

FLAMENGO: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Lico e Nunes. Técnico: Paulo César Carpeggiani

COBRELOA: Wirth, Tabile, Paes (Munõz), Mario Soto e Escobar; Jimenez, Marello e Alarcon; Puebla, Siviero e Washington Oliveira. Técnico: Vicente Cantatore.

 

No mesmo mês, dia 27, faleceu nosso eterno treinador Cláudio Coutinho, que já tinha saído do clube devido a problemas pessoais com a diretoria (parece que nada muda, né?). O criador do overlapping morreu afogado ao praticar um de seus hobbies, a pesca marinha, e deixava assim um time, que considerava seus filhos, abatido e desnorteado. Foi assim que o “time dos sonhos” perdeu a final do estadual para o Vasco, que se

dizia “inconteste” por sua força em campo. Oito dias depois, em uma das finais da Libertadores, nossa equipe teria que buscar forças para aceitar a derrota após um ano tão vitorioso.

Se você não tem a exata noção do que estava acontecendo, vou te ajudar a imaginar. O time foi campeão da Libertadores e, de repente, em uma mesma semana, o treinador morre e o time perde um título importante. Até que conseguimos nos recuperar e conquistar o mundo.

FLAMENGO 3×0 LIVERPOOL
Final do Mundial Interclubes 1981
Local: Estádio Nacional, Tóquio (JAP)
Data: 13 de dezembro de 1981
Árbitro: G. F. G. Bergsten

Gols: Nunes 14min, Zico 20min e 39min

FLAMENGO: Raul, Leandro, Mozer, Figueiredo e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Lico e Nunes. Técnico: Paulo César Carpeggiani

LIVERPOOL: Grobbelaar, Neal, Lawrenson, Thompson e Kennedy; McDermott, Souness e Whelan; Johnson, Dalglish e Rush. Técnico: Bob Paisley

Aquele time escrevia ali seu nome na história do Flamengo e em nossos corações. Ouso reproduzir os versos do samba-enredo da Estácio em 1995, ano de nosso centenário, onde é perguntado: “Corre o tempo no olhar, será que você lembra como eu lembro o Mundial que o Zico foi buscar?”

Se for para responder racionalmente, eu não lembro, e nem posso, já que nasci dois anos depois, em 1983, mas já vi tantas e tantas vezes o jogo completo, todos os documentários possíveis e ouvi as histórias de meus pais e seus amigos que posso dizer que o arrepio e a alegria que sinto com os gols são mágicos. O amor por aqueles heróis é eterno e a gratidão é indescritível.

Passei minha infância na Gávea, dentro do coração do clube do Flamengo, e almocei por muitas vezes, nos domingos de sol, no restaurante do clube. Lembro-me bem de um dos quadros que ficava na parede do estabelecimento. Era a foto do galinho levantando a taça. Como eu era hipnotizado pela imagem ali eternizada.

Minha homenagem é para todos que construíram aquele time, aos que literalmente sangraram pelo Mengão e aos que vestiram o manto como se fosse sua segunda pele.

Obrigado,

Raul, o maior e mais elegante goleiro de todos os tempos;
Leandro, o mais perfeito lateral do mundo;
Marinho, zagueiro;
Mozer, a expressão do amor pelo Flamengo;
Júnior, nosso eterno maestro;
Adílio, pura habilidade;
Andrade, juventude, raça e inteligência;
Tita, ligeiro e matador;
Lico, experiência que veio do sul;
Nunes, o artilheiro das decisões;
Carpeggiani, jogador e treinador;
Cantarelli, o goleiro dos sufocos;
Manguito, o mito;
Baroninho, canhão nos pés;
Peu, o folclórico;
Julio Cesar Urigheller, o entortador;
Figueiredo, in memoriam;
Anselmo, o vingador;
Rondinelli, deus da raça;
Coutinho, nosso eterno treinador;
A todos os outros que passaram pelo mais querido;
E a Zico, nosso eterno campeão e rei.

Campanha na temporada de 1981
Jogos: 78
Vitórias: 47
Empates: 22
Derrotas: 9
Gols Pró: 166
Gols Contra: 60
Saldo: 106
Títulos: 7

(P.S. – Ao deprimente “cabo”, que se acha maior que o clube e senta nas cadeiras do conselho, envio o recado de que esta geração sempre será a mais idolatrada e amada. Sonho com outros títulos mundiais e sul-americanos, onde é o lugar do Flamengo, mas nada apagará os feitos desses profissionais que lutaram pela glória do nosso Flamengo).

Rafael Burity
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2 comentários sobre “Especial Mundial 30 anos: A diferença que um gol faz

  1. Caro Burity
    Sou torcedor do Santos Football Club.
    Essa paixão pelo clube começou com a conquista do campeonato paulista de 1955 e,por 15 anos seguidos!,fui agraciado com a visão da arte do futebol que uma equipe esportiva pode proporcionar à seus torcedores!
    A finalidade da introdução acima é para que você saiba,que eu,como amante de futebol praticado à perfeição,fiz questão de acompanhar (à época-por tv e pelo radio) desta maravilhosa campanha do teu querido Flamengo!
    Glórias mil e vindouras do teu clube à você!!!

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