A inocência da ignorância

Germano Medeiros

Aproveitando que nesta última semana não tivemos partidas do Flamengo pelo Campeonato Brasileiro – nem na quarta nem na quinta – decidi compartilhar um fato que ocorreu durante o último jogo entre Flamengo e São Paulo, que terminou com a vitória do Flamengo por 1 a 0, com gol de Marcos González.

Recentemente, vi um texto no Fla Manolos, escrito por Renato Croce, em que ele expressava saudades da época em que era criança e já torcedor do Flamengo. Ele mencionou a inocência de não saber quase nada sobre a administração do clube e como, quando um jogador desconhecido marcava um gol, ele se tornava um ídolo instantaneamente.

Eu também era assim. Lembro-me de 2001, quando comecei a torcer pelo Flamengo. Naquela final contra o Vasco, com o gol do Pet, eu conhecia a escalação completa do time: Júlio César; Alessandro, Juan, Gamarra, Cássio; Leandro Ávila, Rocha, Beto, Petkovic; Edílson e Reinaldo.

E não sabia isso por ser um “profissional” da escrita (como hoje, que escrevo para o Ser Flamengo e para o FlaNews), mas pela paixão imensa que já existia em mim, mesmo com apenas 9 anos.

Naquela época, o Flamengo jogava bem, e eu o via assim. Para mim, o Flamengo não tinha presidente. Lembro que só conhecia o hino pelo refrão “Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer.” Não imaginava que, como qualquer clube do mundo, o Flamengo tinha outros esportes, um presidente e várias questões financeiras.

Na minha mente de menino, o Flamengo era apenas aquele time, que na época conquistou a Copa dos Campeões e o tricampeonato carioca. Só fui descobrir que tínhamos uma Libertadores em 2003, juntamente com a descoberta do Mundial.

Por que estou compartilhando todo esse sentimento de inocência? Porque, no domingo, após o jogo, liguei para meu vizinho de 11 anos e perguntei: “E aí, gostou do jogo? Vibrou muito após o gol do González?”

A resposta dele me chocou: “Minha reação não passou de um aplauso.”

Para uma criança da idade dele, que já conhece toda a sujeira que permeia o Flamengo e sua péssima administração – que não é de hoje – aquela magia que eu sentia na sua idade foi destruída. O motivo? Ele, ao contrário de mim na época, tem acesso à informação e está antenado com a realidade do clube.

Em 2001, as únicas oportunidades que eu tinha de me informar sobre o Flamengo eram durante os jogos, e nem era para me informar, mas sim para aproveitar o momento, gritar a cada gol e me fascinar com uma partida no Maracanã.

A inocência dele, essa magia que eu tinha e sinto saudade, pode ter sido vivida por ele anos atrás, mas, infelizmente, acabou cedo.

Às vezes, em casos como esse, é bom ser ignorante; é bom não saber das falcatruas e das coisas ruins da atualidade. É bom saber APENAS que o Flamengo teve Zico, Nunes e Júnior, que o Maracanã sempre esteve lotado, que somos hexa-campeões brasileiros, campeões mundiais e da Libertadores, e que jamais fomos rebaixados à segunda divisão. É bom acordar em um domingo de jogo, vestir o manto e declarar para o mundo ou apenas para si mesmo: Flamengo, eu te amo e jamais vou te abandonar!

Que a inocência da ignorância infantil – no melhor sentido da palavra – possa voltar. Porque eu sei o que vivi quando tinha a idade dele. E morro de saudades.

Twitter: @43Germano

Sigam-nos no Twitter: @BlogSerFlamengo

Comentários

Descubra mais sobre Ser Flamengo

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Next Post

Eleição do Flamengo 2012 - Entrevista com o candidato: Jorge Rodrigues

Na conversa com Jorge Rodrigues, candidato à presidência do Flamengo pela chapa “Fla Único”, ele compartilhou suas propostas e os motivos que o levaram a se candidatar ao cargo mais importante do clube. Comentários Descubra mais sobre Ser Flamengo Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail. Digite seu […]

VEJA MAIS