Atlético-MG deixa a Libra e clubes da Série B estão em crise na LFU. O problema nunca foi o Flamengo

Atlético-MG deixa a Libra e clubes da Série B estão em crise na LFU. O problema nunca foi o Flamengo

O Atlético Mineiro anunciou na manhã desta terça-feira (28), que está deixando a Libra e retornando à Liga Forte União (LFU). A decisão marca mais um capítulo de um movimento que tem se repetido desde 2022, quando os clubes brasileiros passaram a se dividir em blocos para negociar direitos de transmissão e discutir a criação de uma liga nacional. A justificativa oficial do Galo fala em “cooperação” e “fortalecimento do futebol brasileiro”, mas o pano de fundo é financeiro, e revela uma contradição que atravessa o debate sobre a união do futebol no país.


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O clube mineiro, que foi um dos fundadores da Libra, chegou a romper com o grupo logo depois, insatisfeito com os critérios de divisão das receitas. Em seguida, se juntou à Liga Forte União, que contava com o apoio de parte significativa dos times da Série A e B. Meses depois, mudou novamente de lado, ao firmar contrato com a Globo até 2029, o que o levou de volta à Libra. Agora, o Atlético dá mais uma guinada e retorna à LFU, firmando acordo com a Sport Media Intermedia, que passará a deter um percentual, não divulgado, dos direitos econômicos do clube relacionados ao Campeonato Brasileiro.

Na prática, o que está em jogo é a antecipação de receitas. A LFU, que reúne 33 clubes e firmou em 2023 um contrato de investimento de longo prazo com fundos internacionais, oferece adiantamentos mediante a venda de fatias futuras dos direitos de transmissão e comerciais, em acordos que podem durar até 50 anos. O discurso sobre “equilíbrio competitivo” serve como verniz para o que é, essencialmente, uma operação financeira: clubes endividados buscam liquidez imediata, abrindo mão de receitas futuras. O Atlético, mesmo transformado em SAF, atravessa um momento de crise, com relatos de atrasos salariais e desequilíbrio nas contas.

A direção alvinegra afirmou em nota que a decisão tem o objetivo de “contribuir decisivamente para a criação de uma liga unificada do Brasil”, destacando que “os clubes da mesma competição são interdependentes e que a cooperação é essencial”. No entanto, o clube precisará cumprir o contrato vigente com a Libra e com a Globo, o que mostra a complexidade jurídica e comercial dessa transição. Há cláusulas que vinculam os clubes aos compromissos assumidos, mesmo que deixem o bloco original.

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A instabilidade não se restringe à Série A. Na Série B, o cenário também é turbulento. Segundo reportagem de Rodrigo Mattos, do UOL, clubes que integram a LFU pediram recentemente que a CBF reassumisse a parte comercial da competição, hoje dividida entre os dois blocos. A entidade acenou com uma ajuda de R$ 2,5 milhões para cada participante ainda em 2025 e garantiu outros R$ 12 milhões em 2026. O problema é que muitos desses times já têm contratos com investidores da LFU, que adquiriram percentuais de direitos futuros. O resultado é um impasse jurídico: parte dos clubes quer a intervenção da CBF, enquanto outros temem romper acordos assinados com fundos e agências.

Na prática, isso já se reflete em perdas. A Série B, que antes gerava entre R$ 220 e R$ 240 milhões anuais sob negociação direta da CBF, rendeu apenas R$ 170 milhões em 2025, segundo apuração do jornalista. O descontentamento cresceu, e 14 clubes assinaram documento pedindo socorro financeiro à confederação. O discurso de que a Liga Forte União traria “previsibilidade de receitas” se transformou em reclamação por repasses menores do que os esperados.

O que o caso do Atlético Mineiro revela é que a divisão do futebol brasileiro não é ideológica nem esportiva, mas essencialmente econômica. O discurso da “união dos clubes” aparece sempre que há necessidade de justificar um movimento de caixa. Na ausência de uma liga formal, o país vive uma disputa entre grupos que se vendem como projetos de futuro, mas operam com lógica de curto prazo.

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Enquanto a Libra aposta no peso de Flamengo, Palmeiras e São Paulo e em contratos televisivos mais estáveis, a LFU tenta seduzir clubes em dificuldades oferecendo dinheiro imediato por receitas futuras. O resultado é um tabuleiro fragmentado, em que cada virada de mesa cria novos conflitos e atrasa a criação de uma liga unificada, aquela que, no papel, todos dizem querer.

O caso da Série B expõe de forma clara o que pode acontecer no topo. Quando parte dos clubes decide vender percentuais dos seus direitos por décadas, o caminho para uma governança única se torna quase inviável. O retorno do Atlético à LFU não é um gesto de união, mas de sobrevivência. E, no meio desse jogo de interesses, o futebol brasileiro continua sem liga, sem consenso e, sobretudo, sem clareza sobre quem realmente pensa no coletivo.

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Por Tulio Rodrigues (@PoetaTulio)

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Tulio Rodrigues

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